• Filipe Nunes, Um reformismo involuntário:
- ‘O grande contributo de Relvas para a mudança no sistema político não se prenderá assim tanto com a sua (atual) passagem pelo Governo, mas antes com a sua (breve) passagem pela universidade (Lusófona). Haverá seguramente um antes e um depois de Relvas no recrutamento das elites políticas ministeriais. É certo que o percurso de Relvas é uma variante (extrema) de um padrão já identificado: de um lado os políticos profissionais, que se licenciam mais tarde, em universidades privadas, e do outro os "independentes", que se licenciam mais cedo em universidades públicas. Mas o caso da licenciatura - justamente por corresponder de forma tão exata a uma caricatura - teve demasiado impacto para que tudo fique na mesma.
Se a pressão para a mudança na seleção do pessoal político for no sentido de um maior escrutínio das suas qualificações, nada contra. De facto, não estamos a falar da mesma coisa quando falamos de política profissional em França, no Reino Unido ou mesmo em Espanha ou quando falamos disso em Portugal. O trabalho dos ‘think tanks' e das fundações políticas portuguesas compara mal com o que se faz noutras democracias europeias. No entanto, se essa pressão para a mudança na escolha das elites governamentais for no sentido de reforçar a tendência para o recrutamento dos chamados "independentes", é bom que tenhamos noção de que não estamos a ir necessariamente pelo melhor caminho.
Já Salazar dizia que "é necessária a política no governo das Nações, mas fazer política não é governar". Esta ideia fez o seu caminho. Ao contrário do que se passa na restante Europa, em Portugal temos uma presença muito elevada de ministros independentes vindos da universidade e dos grandes escritórios e empresas. Pelo contrário, a presença dos partidos, das associações ou dos sindicatos é fraca. E não se pense que o sucesso dos perfis "técnicos" se deve a uma qualquer vontade de abertura do sistema ou às suas competências. Apesar de tudo, há mais representatividade social nos partidos do que no sector financeiro. E quanto às superiores competências dos tecnocratas, elas estão, no mínimo, por provar. O segredo do seu sucesso estará no facto de serem personalidades sem peso político próprio, e de serem, por isso, mais facilmente controláveis pelos chefes partidários nacionais e distritais.’
1 comentário :
Cada vez mais se nota uma falta de cultura politica , humana e de serviço á causa do estado nestes novos politicos saidos das jotas e de partidos apodrecidos por uma alternancia pouco saudável.
E acima de tudo, os tempos que atravessamos exigem personalidades que nunca tenham perdido de vista o que é central no projecto europeu e na cultura ocidental moderna : liberdade , igualdade e solidariedade.
Infelizmente o que vemos são cada vez mais mentalidades mal formadas, fechadas e muitas vezes plenas de preconceitos chegando ao poder e achando-se imbuidos de uma autoridade para a qual nem sequer experiencia de vida correspondente têm.
Na minha opinião, o que falta ou faltou na formação civica dos politicos em funções do actual governo? Uns belos calduços da vida naqueles focinhos.
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