quinta-feira, setembro 27, 2012

Da série “A Fenomenologia do Ser”¹ [19]


Este mês de Setembro de 2012 ficará provavelmente na história política como o momento em que um Primeiro-ministro eleito se sujeitou a uma inédita e severa humilhação política, institucional e mesmo pessoal, e, aparentemente, sem daí tirar as devidas ilações.

As consequências estão à vista e podem resumir-se na espécie de epifania colectiva sobre a impreparação, a incompetência, a insensatez, a falta de qualidades de liderança, etc., que rapidamente se materializou num coro de vozes em todos os quadrantes políticos e sociais.

E se até aqui a ausência de evidência ainda permitia o silêncio embaraçado dos apoiantes, agora, perante a evidência da ausência de qualidades políticas, o embaraço esfumou-se e soltou as vozes críticas.

A recente invocação de Camões – numa tentativa pueril de identificação simbólica com a epopeia dos descobrimentos – só por comiseração é que se pode classificar de ridícula …

Tivesse PPC lido o que disse que leu para se armar em letrado mas que, efectivamente, nunca leu e teria aprendido que
    … si, précisément, nous avons choisi l'humiliation comme étoffe même de notre être, nous nous réaliserons comme humilié, aigri, inférieur, etc. … l'infériorité sentie et vécue est l'instrument choisi pour nous faire semblable à une chose, c'est-à-dire pour nous faire exister comme pur dehors au milieu du monde …
        Jean-Paul Sartre, L'Être et le Néant. Éditions Gallimard, 1943, p. 517
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¹ Obra filosófica que o actual primeiro-ministro afirmou ter lido na sua juventude, desde então, perdida.

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