domingo, setembro 02, 2012

O ensino profissional não pode ser um castigo

• Maria de Lurdes Rodrigues (ex-ministra da Educação), O ensino profissional não pode ser um castigo:
    ‘É um erro a ideia de obrigar os alunos com notas fracas a frequentar cursos profissionais. Em primeiro lugar porque é uma medida de facilitismo. O insucesso escolar dos alunos só pode ser combatido com mais tempo de trabalho e de estudo, não com menos, e isso exige muito tanto dos professores e das escolas como dos pais. Esta medida vai desobrigar as escolas, os professores e as famílias do esforço de ensinar a todos os alunos as matérias básicas necessárias e mínimas para uma cidadania plena. Dá-se às escolas o sinal de que se pode desistir de alguns jovens, de que não vale a pena o esforço de tentar recuperar o insucesso com mais trabalho. E dá aos alunos o sinal de que, afinal, não é obrigatório estudar, podem antes ir de castigo aprender uma profissão. As estatísticas do insucesso escolar têm agora uma solução fácil.

    Em segundo lugar, desvaloriza o ensino profissional e as profissões, lançando sobre estes o anátema do castigo. No passado tivemos um problema com o ensino técnico, conotado como ensino para pobres. Demorámos muitos anos a recuperar a imagem do ensino vocacional, o que foi conseguido ao longo de mais de 20 anos com a qualidade do trabalho realizado pelas escolas profissionais privadas e, ultimamente, com o esforço de desenvolvimento do ensino profissional em todas as escolas públicas. Em 2005 apenas 12% dos alunos do ensino secundário frequentavam cursos profissionais. Hoje são mais de 40%. Este é o melhor sinal da recuperação do prestígio e da valorização social desta via de ensino, agora em risco com a sua anunciada transformação em castigo.

    Finalmente, as boas práticas internacionais. Tanto a OCDE como a União Europeia recomendam, justamente, o contrário daquilo que o Ministério da Educação pretende fazer. Insistem na necessidade de garantir a todos os jovens uma escolaridade básica de cidadania pelo menos até aos 15 anos. Insistem que as escolhas vocacionais exigem maturidade que os alunos não têm antes dessa idade.

    É indispensável continuar a diminuir o insucesso e a consolidar a rápida progressão do ensino profissional nos últimos anos. É um erro que comprometerá estes dois objectivos o encaminhamento precoce, compulsivo e estigmatizante agora anunciado.’

11 comentários :

Joaquim O. disse...

Boa noite.

O link não está bem.

Cumprimentos e bem-hajam pelo serviço público de higienização da blogosfera.

Miguel Abrantes disse...

Caro Joaquim, já corrigi o link. Obrigado.

André disse...

Esta mulher tem mais "tomates" que a direita toda junta!

Teófilo M. disse...

Pois, mas a esta ninguém a queria e até parecia ser a mãe de todos os males.
Agora, que o desemprego campeia entre os marchantes de outrora, que a escola pública definha, e que o insucesso se tenta mascarar, tudo está silencioso, até o do bigodinho à Hitler.

OLimpico disse...

Ainda não está na hora dos professores "ajustarem" contas com o Sr. Silva/Nogueira ?
Maria de Lurdes Rodrigues, provoca
insónias aos dois "Sindicalistas"
responsáveis pelo "COMPROMISSO HISTÓRICO PORTUGUÊS" falhado!!!!com pesada penalização dos professores!!!!

Fernando Romano disse...

A ex-Ministra da Educação está cheia de razão, mas na actual situação decadente de Portugal, bem poucas pessoas do mundo oficial e oficioso se estão a importar com o que está a fazer o Crato, o ministro da lambreta, tão pouco o Relvas e o Primeiro Ministro ou mesmo o Presidente da República, que diariamente espalha pelas casas dos portugueses a sua ascorosa hipocrisia. Ainda há dias li um artigo do Professor Santana Carrilho que parecia uma metralhadora sobre o oportunista do Crato, e se nos lembrarmos do que ele escreveu contra as reformas da ex-ministra MLR...; este Crato e os assalariados deste governo, especialmente na imprensa, muitos deles esquerdistas na juventude (como eu me recordo deles!!...- nem a sua juventude respeitam), ao vê-los hoje ostentosos, bem fardados e engordados à custa da magreza do povo, para usar uma expressão de Eça, causam repugnância; no entanto não desistem de os conotar com uma ideologia qualquer, como se na verdade tivessem preocupações intelectuais desse tipo, e caráter, para operarem em si, intelectualmente, uma mudança de posicionamento ideológico, o que seria perfeitamente legítimo; fico de boca aberta quando alguns catedráticos e retóricos, e outras eminências pardas, mensageiros desta canalha que nos governa, tentam distinguir estes bandos como representantes desta ou daquela ideologia ou linha política. A ideologia deles é o interesse pessoal. Em muitos casos detestam a política. Numa ditadura acotovelavam-se na fila dos tachos. São mandados.

Eu amo esta política, ex-Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues. Inundaram-se-me os olhos de emoção quando a ouvi esta última vez que foi chamada a uma comissão parlamentar a dizer aos burgessos que "Foi uma Festa!

"Foi uma Festa" sim senhor, foi um arrojo, uma manifestação de patriotismo.

Anónimo disse...

Eram pessoas que sabiam do oficio - foi um bom governo do Sócrates.

Um Marcelista

Rosa disse...



Também a acho uma senhora muito competente e que tentou pôr em prática metedologias de ensino,uma gestão adequada para o sector e modos "Operandi" de modo a não tornar a vida dos docentes um inferno como se está a verificar nesta ocasião...e acho-a igualmente uma mulher muito corajosa...
Não se pode comparar o que não é comparável...

Anónimo disse...

Ás vezes é preciso bater no fundo para se perceber o quão cego se esteve no ultimo ano.
Os professores contratados bateram no fundo. Espero que a pancada lhes tenha tirado as palas dos olhos, que se organizem e lutem pelo que realmente interessa.
Tanto estudo e "doutoramento" para se terem deixado enrrolar por uma pindérico de falinhas mansas e um séquito de tachistas sedentos de pote.
O mal está feito, mas mais vale reconhecer os erros tarde do que nunca.

Fernando Romano disse...

Bem dito, senhor Anónimo das 09:21:00

Anónimo disse...

Para quando uma manifestação de Professores semelhante à que fizeram contra a anterior Ministra?
Estão todos quietos e calados...Onde está a FENPROF?