domingo, setembro 30, 2012

O fardo do cronista aposentado (4)

1. Vasco Pulido Valente enveredou por um novo género jornalístico: a errata em fascículos. Ontem, confirmou-nos no Público que se enganara na natureza jurídica da Gulbenkian; hoje, diz-nos que, ao contrário do que escrevera na sexta-feira, é a Gulbenkian que financia as actividades do Estado (e não o contrário):
    ‘Afinal, a Gulbenkian não recebeu qualquer apoio do Estado entre 2008 e 2010. Sucedeu simplesmente que investigadores do seu Instituto ganharam em concurso público bolsas da Fundação para a Ciência e Tecnologia e algum dinheiro para editarem as suas teses de doutoramento, como estava no seu direito e é normal na tradição académica. A Gulbenkian também financiou projectos de institutos do Estado e universidades, que foram misteriosamente contabilizados como subsídios, e, a pedido do Governo, umas tantas obras de "ajuda ao desenvolvimento" em Angola e Timor, o que em substância a torna credora e não devedora. A mesma coisa sucedeu, de resto, à Fundação Oriente, a quem o Estado pediu ajuda e agora aparece na "ficha de avaliação" como beneficiária da ajuda do Estado.’

2. Mas, embora não pareça, Vasco Pulido Valente é um homem do seu tempo, que não deixa de assomar à janela, às vezes com um ligeiro atraso, para ver de onde sopra o vento. O extraordinário governo de Passos Coelho, que nos ia tirar da miséria, converteu-se, em meia dúzia de dias, num “patético Governo” (do qual poupa o amigo Portas, mas em que ainda acredita que a coisa tenha emenda):
    ‘Isto isoladamente não teria particular interesse, se não revelasse a incapacidade de Passos Coelho e do seu patético Governo para executar qualquer "reforma estrutural" planeada e séria. O "caso das fundações" serve para ilustrar o processo "normal": um inquérito inepto e pouco fidedigno, uma avaliação ridícula e medidas tímidas, quase aleatórias, que não regularizam nada ou põem em ordem o sector. Se alguma coisa, complicam inutilmente a vida a quem, se alguém, vier a seguir. Não admira que os protestos cresçam contra a falta de uma política clara e justificada de privatizações, que já levou a vários fiascos, que avança e que recua sem razão aparente e que se arrisca a comprometer sem remédio o resultado final. Basta pensar, por exemplo, na TAP, na ANA e na Caixa Geral de Depósitos.

    O mal começa na ideia abstrusa e popularuncha de um governo de 10 ministros e um enxame de secretários de Estado, que estabeleceu um labirinto de autoridade e competências, em que toda a gente se perdeu e, com uma ou duas excepções, só cinco ou seis pessoas sabem com certa segurança o que andam a fazer. Pior ainda: por cima disto Passos Coelho escolheu algumas das mais distintas nulidades nacionais para presidir à barafunda: duas delas, o Álvaro e Gaspar, que não conhecem Portugal e a administração portuguesa e são os dois desgraçadamente desprovidos da menor experiência política. O despautério da TSU não enfraqueceu o Governo. O despautério da TSU revelou a fraqueza do Governo. O que é diferente. E sem uma remodelação radical e uma nova orgânica não chegará a parte alguma. Mas, como de costume, Pedro Passos Coelho discute, hesita, tergiversa - e não manda. O cozinhado já cheira a esturro: e o país também.’

2 comentários :

Anónimo disse...

É...umas vezes é branco outras tinto tanto faz Douro, Alentejo e a partir se certa altura altura até serve a martelo!!!

Anónimo disse...


Heheheheh...

Esta peça é um verdadeiro Narciso: só bale quando já não é preciso...

"Ay, mi amor, que se fue y no vino..."

(e se pensam que a cachaça é água, cachaça não é água, não...)