É a vontade de pôr a mão no pote que martiriza o Dr. Relvas em relação à RTP? Hoje, no Expresso, Daniel Oliveira (e até o inenarrável Henrique Raposo) parece achar que sim.
Escreve Daniel Oliveira: “Se olharmos para todas as propostas para a RTP que o ministro e o consultor com equivalência a ministro têm em cima das suas secretárias, percebemos que há apenas uma constante: dê dinheiro ou perca-se dinheiro, tudo o que interessa é garantir a existência de um novo canal privado de televisão. Ou seja, mais do que os interesses financeiros do Estado, são os negócios de terceiros que movem Relvas e Borges. A única novidade é o descaramento.”
Discordo em absoluto (salvo quanto ao descaramento). Em termos financeiros, o melhor que a oferta da RTP a um privado poderá dar é uma lambuzadela no pote. O negócio da RTP é instrumental — é, sobretudo, um meio e não um fim em si mesmo.
A mira da direita está apontada ao serviço público de televisão — e, em especial, ao serviço público de informação. Se o acesso à cultura não pode ser estimulado quando se quer voltar ao modelo dos salários de miséria, é no entanto na informação que tudo se joga.
Num quadro em que a direita, através de três ou quatro grupos económicos, domina a comunicação social, a existência de uma televisão pública, mais ou menos blindada às investidas da rapaziada da São Caetano, é inaceitável para esta gente que se alçou ao poder. O Dr. Relvas não se conforma com a circunstância de o Dr. Mendes ter conseguido fazer os alinhamentos (e as notícias) dos telejornais no consulado cavaquista e ele, ministro da propaganda, ver-se forçado a ter constantemente de ameaçar largar a sua matilha de arrastadeiras para fazer passar o spin e controlar a agenda (como os casos Pedro Rosa Mendes, na Antena 1, e Maria José Oliveira, no Público, evidenciam).
Os “modelos” em discussão para a RTP — quer o da entrega do serviço público a um só privado, quer o da repartição do serviço público pelas duas estações privadas e pela outra que nasceria dos escombros da televisão do Estado — têm em vista apenas um propósito: amordaçar a liberdade de expressão e o pluralismo a que a estação pública de televisão está obrigada. O que está em causa é a própria sobrevivência do regime democrático tal como o conhecemos.
Já imaginaram um cenário em que o Dr. Relvas seja incumbido de distribuir cheques para pagar o “serviço público” como quem esteja a passar atestados de bom comportamento pelos “serviços” prestados à direita no poder?
3 comentários :
Embora a rtp tenha feito no passado recente muitos fretes ao psd, ainda não está certa na esfera laranja e é preciso contar com ela para todo o sempre. Esta rapaziada não brinca em serviço, é preciso que no futuro se veja, oiça e respire laranja. São mais sofisticados do que nos idos de salazar, aí bastava um simples lápis azul.
Ora é mesmo isso. O controlo total! A direita não quer meio controlo ou 2/3 dele, quer tudo, sem partilhas.
A esquerda que se cuide, quando a RTP entregar a alma ao criador. Sem jornais, rádios ou um canal de televisão ou regressa às rádios piratas ou só se fará ouvir quando e muito bem apetecer a quem manda, só para dar a ideia que a democracia existe.
Não vejo qualquer diferença, senão a simbolica, entre a informação RTP e a informação PSD. Não querendo ser redutor em relação ao serviço publico, acho que o principal beneficio do mesmo reside no olhar critico "a contra pelo" que pode ser induzido atraves da informação.
Acontece que nada disso se passa hoje. A Informação RTP, a que podemos juntar a Lusa, estão há demasiado tempo dentro do universo laranja de informação.
O que a esquerda pode querer defender é a hipotese de futura reforma do serviço publico, a continuar como está o controlo do PSD pode não ser total mas é semi-total. A esquerda como sempre dividida e com medo de dizer algumas verdades sempre se acomodou a esta situação e hoje luta por um mero simbolismo porque tem medo de lutar e questionar o verdadeiro poder que é o controle informativo dentro da RTP e Lusa.
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