quarta-feira, outubro 10, 2012

Cavaco tornou-se conivente com o descalabro

• Baptista Bastos, Portugal, três sílabas:
    ‘O dr. Cavaco disse, à publicação espanhola Expansión, que "Os políticos devem ouvir a voz do povo." A frase é devastadoramente banal, mas ganha relevo porque o dr. Cavaco, tão omisso, pontual e rasurado no que afirma, em Portugal, revela, enfim, que tem escutado o clamor popular - sem lhe atribuir, no entanto, importância de maior. A prática, por vezes "ascética", por ele consagrada à res publica, nem sempre corresponde a equilíbrio, sensatez e recato. As suas tendências ideológicas assumem contornos de cumplicidade. E não é preciso castigar muito as meninges para se perceber que, manifestando, por supressão ou abertamente, o apoio às políticas do Governo, se tornou conivente com o descalabro.

    Está por fazer a análise das responsabilidades dele, no estado actual da nossa miséria, desde a década em que foi primeiro-ministro. Sei quem está a tratar disso. E o que dizem, nos fóruns das televisões, e alguns articulistas sem temor, conduzem-nos a uma espécie de execração popular da enormidade do que ele fez. Outras revelações se lhe seguirão.

    Ele não é "o Presidente de todos os portugueses." Se o fosse, há muito teria exercido a tal magistratura de influência, agindo no campo geral da política e das relações de poder. Passos Coelho está de rédea solta. E se as coisas não vão ainda mais longe do que esta infâmia é porque "a voz do povo" o tem impedido. Esta tipologia de face dupla tornou-se numa filosofia do quotidiano. Quando o primeiro-ministro, com sórdido despudor, afirma que também está contra os impostos, o processo de descaracterização da decência atinge expressões múltiplas.

    Os princípios fundadores do 25 de Abril estão desfeitos. (…)’

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