quinta-feira, novembro 01, 2012

É necessário inventar com carácter de urgência novas utopias

• Rui Pereira, Utopia urgente:
    'A "Utopia" de Thomas Morus – como as utopias de Swift, Voltaire ou do ícone da música popular John Lennon (‘Imagine’) – surgiu como crítica filosófica e política de uma sociedade amarrada a preconceitos e tradições injustas. A morte anunciada das utopias, no século passado, constituiu um poderoso estímulo ao ressurgimento desses preconceitos e tradições, em nome do realismo e do pragmatismo. Regimes "empenhados" em atingir a sociedade sem classes transformaram-se, de um momento para o outro, em verdadeiras organizações mafiosas.

    Porém, qualquer utopia se torna muito perigosa quando é confundida com um programa de acção. Gera ideologias totalitárias que, como explica Anthony Kenny na sua ‘Torre de Marfim’, são anticientíficas por natureza, visto que pretendem conformar toda a realidade, desde a evolução da sociedade (e da economia) até à transformação do ovo em pintainho, sem considerar os dados da experiência. No fundo, a "má utopia" recusa a grande herança do conceito moderno de ciência e viola a chamada ‘Lei de Hume’, confundindo os planos do ser e do dever ser.

    Mas abandonar por completo a utopia (ou as ideologias), mergulhando no realismo e no pragmatismo, também é perigoso. Equivale a reduzir a política à administração de um condomínio, a economia à contabilidade e a segurança à ordem pública. Por isso, é urgente reabilitar a utopia e as ideologias, devolver a esperança aos cidadãos e definir programas políticos bem diferenciados e mobilizadores. Na verdade, é necessário inventar com carácter de urgência (respeitando o étimo grego da palavra "crise") novas utopias que não convoquem os fantasmas do passado.'

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