sábado, dezembro 29, 2012

As aventuras de Pedro no Facebook [2]

• José Pacheco Pereira, Os convidados da mesa de Natal dos portugueses [hoje no Público]:
    ‘(…) é o empobrecimento que caracteriza os tempos de hoje, é o empobrecimento o principal efeito social da crise, e, para o perceber, não serve a visão dos que já estão na miséria, até porque não é entre eles que a crise faz mais estragos. É que os que já estavam na pobreza e na miséria não são os mais atingidos pela crise, mas os que tinham dela escapada nas últimas décadas. O Governo e o discurso do poder usa os muito pobres e alguma protecção que têm tido face à crise como sinal de justiça social, ao mesmo tempo que ignora, fecha os olhos, não faz nada, e fustiga com o moralismo do "viver acima das suas posses" os que estão a empobrecer. Fá-lo de uma maneira perversa, colocando muito abaixo a fasquia dos que para o discurso governamental são "quase ricos", ou seja, um alvo de "ajustamento".

    O desdém pela "classe média" vem deste moralismo punitivo sobre os portugueses que melhoraram a sua condição desde o 25 de Abril, fossem operários ou filhos de operários, camponeses ou filhos de camponeses, comerciantes ou filhos de comerciantes, funcionários ou filhos de funcionários. Muitos fizeram uns cursos que não valem nada para serem doutores, mas pela primeira vez na esmagadora maioria das famílias portugueses havia estudantes universitários, muitos foram à República Dominicana ou a Cuba em programas de férias baratas, fazer patetices a crédito, muitos compraram sofás e plasmas e vários telemóveis, mas, tiremos o folclore, o kitsch do gosto, e o que fica é uma real melhoria da vida de muitos portugueses.

    O ataque à classe média é um remake do ódio à "burguesia", quer na versão esquerdista, quer na visão direitista, a que tinha, por exemplo, O Independente, que adorava a "velha riqueza" e escarnecia dos que tinham "peúgas brancas", ou, como Macário Correia, tinham pais pobres e isso "via-se". Como sempre acontece, os melhores intérpretes desta sanha são eles próprios típicos membros e representantes dos grupos que escarnecem, falsos senhoritos com pretensões monárquicas, pequeno-burgueses que acham que, como falam ao telefone com Ricardo Salgado, estão noutro escalão social, gente que gostava mesmo de ir a Marbella, mas hoje faz de conta que nunca fez nada disso. Os caminhos do Senhor são de facto tortuosos.

    A mensagem do "Pedro e da Laura" no Facebook, um casal que resolveu falar-nos no Natal com uma proximidade forçada que incomoda, é um exemplo típico deste marxismo vulgar da "infraestrutura". A pobreza é não ter "na Consoada os pratos que se habituaram", em vez de não ter emprego; é "não poderem dar aos filhos um simples presente", em vez de estarem deprimidos por terem que em Janeiro despedir os seus empregados amigos de sempre; é "não conseguiram ter a família toda à mesa", em vez de terem vergonha por não poderem pagar o que devem.’

1 comentário :

Anónimo disse...

Este homem?, é um vigarista, fala assim porque não está lá a Manuela F. Leite.São todos uns hipocritas.Ele e outros do PSD, têm estas afirmações, para mais tarde nas eleições virem dizer que escreveram contra o Governo deles para, defenderem candidatos, do mesmo Partido que agora covardemente estão calados mas na realidade apoiam as mesmas politicas. Quem os não conheça, que os compre.