sábado, fevereiro 16, 2013

A desfazer-se no ar

• Pedro Adão e Silva, A desfazer-se no ar [hoje no Expresso]:
    ‘"Tudo o que é sólido desfaz-se no ar", avisava Karl Marx. Naturalmente que a asserção também se tornou válida para o marxismo. Mas, por agora, pensemos no sistema partidário português, naquilo que tem de mais sólido. Também neste caso, o risco de se desfazer no ar não deve ser menosprezado. Bem pelo contrário.

    Os dois partidos que alternaram no poder durante os 38 anos de democracia, PS e PSD, têm ancoragens ideológicas e bases eleitorais de apoio bem distintas, mas partilham um conjunto de semelhanças. A primeira das quais é terem sido construídos de cima para baixo, sem movimento, respondendo a uma necessidade funcional da democracia; depois, o poder, quer no Governo quer nas autarquias locais, foi um instrumento privilegiado para criar uma base militante e para a reprodução do poder interno. Não menos importante, a sua legitimidade junto dos portugueses assentou, no essencial, em dois fatores, em importante medida também partilhados: a melhoria das condições materiais com a democracia e a pertença de Portugal à União Europeia.

    No fundo, a falta de enraizamento social dos partidos do bloco central foi compensada por dois tipos de legitimação. Uma que se prendeu com a construção de um Estado social, com acesso universal à saúde e à educação (o que permitiu trajetórias de mobilidade social ascendente) e com um conjunto de benefícios sociais que tomaram a sociedade portuguesa menos pobre. Já a segunda fonte de legitimidade do PS e do PSD remete para o empenho que colocaram no projeto europeu e para os benefícios objetivos que o país teve com a pertença à União Europeia.

    Chegados aqui, não é difícil perceber que podemos estar perante um sério problema. Os partidos portugueses tornaram-se sólidos muito por força do Estado social e da integração europeia. Ora se as fontes de legitimidade são postas em causa, arrastadas pelo empobrecimento e pela desorientação política europeia, o mais natural é que os partidos se possam também desfazer no ar.

    Neste contexto, como se não bastasse o facto de os pilares em que assentaram os partidos que governaram em Portugal estarem a abalar, a sensação com que se fica é que, além da incapacidade de se repensarem programaticamente, se encontram manietados por uma oligarquia interna. (…)’

3 comentários :

Anónimo disse...

Isto é tudo muito bonito mas há uma coisa a que não se pode fugir: o confronto com a própria história.
E aqui abre-se algumas questões: quem são os Herdeiros do Salazarismo senão o Psd e o Cds? Não tinha razão Otelo Saraiva de Carvalho no seu intento de meter os Fascistas no Campo Pequeno ?!
Como estaria hoje Portugal se Psd e Cds fossem impedidos de existir ?

Problema Auto-Infligido disse...

Portugal é o exemplo de um país que estava a vencer a Crise mas que devido ao Oportunismo e Ganancia de poder a qq custo do Psd, a Oposiçã0 unida reprovou o Pec 4, interrompendo a recuperação portuguesa e lançando os portugueses para o Drama Social que todos estamos a assistir. Espero que os Direitolas (e idiotas de esquerda que os ajudaram) estejam orgulhosos do lindo serviço que fizeram.

james disse...

Há bocado no FB, João Assunção Ribeiro postava:
"O que acham os socialistas portugueses desta ideia? "Para Alfredo Pérez Rubalcaba se debería incluso cambiar de nombre a la formación que dirige, que según el tendría que pasar a denominarse Partido de los Socialistas Europeos-PSOE. Lo mismo deberían hacer, ha explicado Rubalcaba, las
demás organizaciones del continente."

Mas estes gajos não se enxergam? É com mer*** destas que se faz a alternativa a Passos Coelho?

O Pedro Adão e Silva tem toda a razão!