sábado, fevereiro 09, 2013

A revolta dos Paradas

• Pedro Adão e Silva, A REVOLTA DOS PARADAS [hoje no Expresso]:
    ‘A ideia de que há uma lógica de reprodução de poder nos aparelhos dos partidos independente do sentimento dos cidadãos não é nova, nem necessariamente negativa. Pode mesmo ser vista como uma lei de ferro do funcionamento dos partidos: estes, para subsistirem, precisam de garantir níveis de coesão interna que requerem algum tipo de fechamento. A questão é, contudo, de grau.

    No passado, umas vezes melhor outras pior, os partidos portugueses foram encontrando formas de se sintonizarem com a sociedade e com os grupos sociais que representavam. Hoje, alguma coisa está a mudar. A sensação com que se fica é que o militante de base, em lugar de estar sintonizado com a sociedade, passou a estar em sintonia com o presidente da concelhia à qual pertence, criando-se uma bolha que separa sindicatos de voto e caciques locais do conjunto dos portugueses.

    O fenómeno é particularmente visível quando pensamos no poder autárquico e encontra no processo que levou à escolha do candidato do PS à Câmara de Matosinhos um exemplo de manual. Com um presidente em exercício eleito, os socialistas optaram por não patrocinar a sua recandidatura, apoiando a candidatura de António Parada. Ora o que é que qualifica Parada para ser candidato? A resposta é simples: é um grande mobilizador de militantes, traz consigo um verdadeiro sindicato de votos e foi, certamente, um dos grandes angariadores dos tais novos filiados que entraram para os partidos nos últimos tempos.

    É claro que sempre houve Paradas. A diferença é que, hoje, têm uma ambição que não tinham — passaram a alimentar o sonho de serem ministros —, e, mais importante, é em seu redor que gravita o essencial do poder nos partidos. No passado, os militantes eram muito influenciados pela sociedade e contagiavam as estruturas intermédias dos partidos. Agora, os militantes são controlados pelos Paradas que, por sua vez, garantem a reprodução do poder interno, com uma lógica que opera, cada vez mais, de costas voltadas para a sociedade. Esta revolta dos Paradas gera um paradoxo: a manutenção do poder no aparelho depende da criação de 'bolhas políticas', alimentadas por hordas de novos militantes, que são tanto mais eficazes quanto mais imunes ao que o país pensa.’

2 comentários :

Anónimo disse...

São estas pessoas e estas atitudes que descredibilizam os partidos , afastam os eleitores e conduzem a níveis abstencionistas cada vez maiores. Por favor tenham juízo, senhores 'donos' dos partidos!

Descrente disse...



E que "qualidades" tem também, por exemplo, um Marcos Sá (???!!) para disputar Oeiras?