segunda-feira, fevereiro 11, 2013

‘It is deja vu all over again’


• João Galamba, ‘It is deja vu all over again’:
    ‘Até ao final do mês, o Governo vai divulgar o seu plano para o corte de 4 mil milhões de euros em salários, pensões e prestações sociais, dos quais 800 milhões serão aplicados já para em 2013.

    Isto acontece ao mesmo tempo que Passos e Gaspar falam de "viragem", de "retoma", de "luz fundo do túnel" e de "antecâmara do crescimento". Contradição? Não. É pior: trata-se de dissonância cognitiva.

    O discurso do governo entrou definitivamente numa realidade paralela. Infelizmente, o governo não entrou sozinho nesta noite escura, porque Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional insistem em dizer que Portugal está no bom caminho e que o Programa de Ajustamento, apesar de todas as dificuldades, está a correr às mil maravilhas. Mas isto acontece porque o programa está a ser aplicado com zelo, e não porque esteja a resultar.

    Albert Jaeger, o responsável permanente do FMI em Portugal, deu esta semana uma perturbadora entrevista ao "Portugal Daily View", onde defende a tese de que o melhor estímulo que podemos dar à economia é restaurar a credibilidade das actuais políticas. Ou seja, a recuperação está garantida se o governo ignorar a espiral recessiva, a crise de emprego, e as falências em massa, e uma recessão que se vai prolongar em 2014. Resumindo, se insistir em não mudar de rumo. Nesta narrativa, a economia recuperará porque o empenho, a cegueira e a obstinação são, em si mesmas, garantias de sucesso. Se não hoje, amanhã, num qualquer futuro, quando as famosas reformas estruturais produzirem os efeitos necessários.

    A maioria dos defensores das actuais políticas serão economistas, mas parecem não perceber como funciona uma economia. Como o PIB é despesa, a economia recuperará se houver quem invista e quem consuma. Ora, uma política orçamental que não faz outra coisa senão cortar no investimento (público e privado), cortar na saúde, cortar na educação, cortar nas pensões e cortar nas prestações sociais tem exactamente o efeito contrário; e um Pacto Orçamental, traduzido no Tratado de Estabilidade, Coordenação e governação, que generaliza estas políticas a toda a Europa não só agrava o problema, como ameaça torná-lo permanente.

    Todas as políticas actualmente em curso, quer em Portugal quer na Europa, agravam a situação económica e social e não se vislumbra que possam ser a antecâmara de outra coisa que não perpetuação da realidade actual. Há um túnel ao fundo do túnel, sim, mas só mesmo fechando os olhos podemos vê-la.’

3 comentários :

Pedro disse...

Eu não compreendo como J.Galamba pôde votar a favor da "regra de ouro". Tinha muita consideração pela sua capacidade de avaliar o momento de crise económica-financeira que atravessamos. Deixei de ter. Não compreendo como pode aceitar uma "regra de ouro" que iguala, à partida, países com economias absurdamente díspares, co mo a portuguesa e a alemã. Explique, senhor deputado, explique por favor.

Anónimo disse...

Chamem novamente Sócrates !!!!!

Max disse...

Caro João Galamba (que não vai ler disto): "Ou seja, a recuperação está garantida se o governo ignorar a espiral recessiva, a crise de emprego..." Como disse o ministro das finaças no seu primeiro discurso: a crise acabará porque com o tempo tudo muda. Ou seja, o governo pode ignorar isto tudo ou o seu oposto que o efeito é o mesmo.
Eu não sei nada de finanças, mas penso que os ricos ganham sempre. Com a recesão ou com a expansão. E um dia vão virar o bico ao prego. E nessa altura pode o país estar virado do avesso, completamente arruinado e sem condições para crescer que eles impulsionarão o crescimento. Porque querem lucrar com ele.
Se não tiram de lá o Pedrinho depressa, arriscam-se a que ele, ironia suprema, ainda se torne num herói.