quinta-feira, fevereiro 14, 2013

O exemplo grego


No World Outlook Report de Outubro do ano passado, Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI, avisou que as políticas a que 28 países foram obrigados a seguir nas últimas três décadas continham erros grosseiros que produziram um efeito recessivo bem maior do que o que se previa. Ou seja, era comummente aceite que, por cada euro de austeridade, o PIB cairia 50 cêntimos. Blanchard veio defender que isso não correspondia à realidade, estimando que, na hora actual, essa quebra poderá ser superior ao triplo do que se supunha (não de 0,5, mas entre 0,9 e 1,7).

A própria Christine Lagarde, directora-geral do FMI, apareceu a defender que os países que estão a aplicar políticas de “reajustamento” orçamental, em especial na zona euro, devem renunciar às metas nominais para o défice e deixar os estabilizadores automáticos funcionar.

Quando se esperaria que o governo português aproveitasse esta janela de oportunidade para reivindicar junto da troika uma alteração da política de austeridade, os governantes apareceram a defender um agravamento da austeridade (o “enorme aumento de impostos”, a “refundação” do Estado Social…). Como se não soubéssemos que a troika é o pé-de-cabra com que a direita sempre sonhou para virar o país do avesso (e em especial desmantelar o Estado Social).

Já o governo grego entendeu que as conclusões de Blanchard devem produzir de imediato resultados nas negociações com a troika. Para tanto, terão levado o assunto ao Eurogrupo. O exemplo grego mostra que a troika é vista pelo governo português como uma oportunidade e não como um problema.

Sem comentários :