sábado, março 09, 2013

“Há uma coligação ampla de rejeição à estratégia política que o Governo português cumpre com desvelado empenho”

• Pedro Adão e Silva, A maioria silenciosa [hoje no Expresso]:
    ‘Tem sido notado que o elemento mais surpreendente da manifestação do passado sábado foi o seu lado quase lúgubre. Durante longos momentos, enquanto desciam a Avenida da Liberdade em Lisboa, milhares de pessoas caminhavam num passo pesaroso, sem o acompanhamento das palavras de ordem que tendem a surgir nestes momentos. O silêncio cinzento parecia ser o espelho exato do sentimento político da manifestação. É dito com frequência que a política tem horror ao vazio. Pode bem ser verdade, mas há momentos em que de facto o vazio político impera.

    Há, hoje, uma coligação ampla de rejeição à estratégia política que a Europa tem desenhado para enfrentar a crise e que o Governo português cumpre com desvelado empenho. Contudo, não se vislumbra uma alternativa política que represente maioritariamente o descontentamento e que tenha capacidade de inverter este rumo. De certa forma, o silêncio dos manifestantes é a expressão política do vazio. Se houvesse um horizonte de esperança, corporizado por uma alternativa política, dificilmente teríamos tido manifestações tão desalentadas.

    Ainda assim, podíamos esperar uma revolta com algum tipo de expressão mais violenta, mesmo que apenas verbal. De algum modo, a rejeição profunda do estado de coisas combinada com ausência de alternativa visível podia encontrar escape numa espécie de baixo materialismo, um ruído vindo de baixo, como as guitarras distorcidas que se ouvem nos “Homens Simples”. Mas não, o mal-estar difuso, a indignação grisalha, encontrou refúgio num comportamento anómico.’

4 comentários :

Anónimo disse...

O P.Adão e Silva desde q vestiu o fato cinzento (fica ridiculo já agora mas isso é uma apreciação meramente estetica)de comentador do sistema (+ 1)perdeu toda a verve e acutilância. Escreve bem é inteligentinho mas não tem cojones. Mais um institucionalista da treta. O dinheiro manda e a coluna adequa-se.

james disse...

Penso tudo ao contrário do que o anónimo supra escreveu.

ignatz disse...

não penses nada disso james, vais ver que o pedro safa-se e vai vender com'ó milho frito.

Lucidez sem voz disse...

0º - "ignatz", seu paspalho, vai dar milho à passarada...
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1º - «Homens Simples»: um fabuloso Filme de Hal Hartley, com uma banda sonora genial!


2º - Pedro Adão e Silva: escreve bem e descreve ainda melhor; falta-lhe apenas o passo decisivo: saber explicar de forma clara e acessível o porquê dessa anomia.


Os legumes de que fala o primeio comentador consistem nesse passo e nesta fórmula: a consciência colectiva do Povo português ficou com os circuitos fundidos quando no "pólo negativo" da narrativa ligaram um fiozinho directamente ao "polo positivo" e as meninges derreteram. Para quem não percebe de Electrotecnia e prefere a Música, talvez dito assim soe melhor: o acorde "perfeito" da propaganda destrutiva atingui-se quando os harmónicos do discurso do Poder real (político, social, económico, mediático e financeiro) entraram em ressonância com o discurso "mainstream" do "contra-poder" - Esquerda, Sindicatos, Anarcas... -, tudo sintonizado contra o alvo comum e diabolizado, que era Sócrates e o Governo anterior.


Enquanto os ideólogos marxistas não perceberem isso (ou se reformarem de vez...) e o Povo não for confrontado cruamente com este embuste, eminentemente discursivo, que arrasou a velha lógica herdada da cartilha anti-fascista, não há nada que valha à luta contra a opressão da atual política.


E o pior é que, como dizia Lenine, agora vamos ter de suportar um passo atrás (a derrota, a humilhação e a punição), para voltarmos a dar dois à frente - mas daqui a quantas décadas?