segunda-feira, maio 06, 2013

"A austeridade é errada porque tem os efeitos contrários ao desejado, no curto e no longo prazo"

• João Galamba, Mitos:
    ‘O primeiro mito é o de que, sim, a austeridade é recessiva no curto prazo (como negá-lo?), mas, no longo prazo, ela é absolutamente essencial para garantir a sustentabilidade da dívida pública. Estamos perante um mito, porque não é possível destruir a economia do presente sem que isso afecte negativamente a economia do futuro. Vejamos o caso português. Em 2010, o aumento do rácio dívida pública em percentagem do PIB resultante do efeito combinado do défice primário e da variação do PIB foi 4.9 pontos percentuais. Em 2012, apesar da forte redução do défice primário, esse aumento foi maior, 5.7 pontos percentuais. Ou seja, a redução do défice primário teve efeitos recessivos tão violentos, que o efeito redução do PIB que daí resultou acabou por ter um impacto líquido negativo no rácio da dívida. A austeridade não é errada porque há quem não esteja disposto a fazer sacrifícios. Ela .

    O segundo mito é o de que, mesmo num contexto em que a política orçamental é contracionária - quer por via do aumento de impostos, quer por via do corte nas despesas - a política monetária, desde que suficientemente expansionista, tem a capacidade de inverter o ciclo económico e estimular o investimento privado. Os bancos centrais têm feito de tudo, mas os resultados teimam em aparecer. Nos EUA, a base monetária passou de 100 para 347, mas o dinheiro em circulação na economia passou apenas de 100 para 135. No Reino Unido, a base monetária subiu para 433, mas o dinheiro em circulação é apenas de 110. Na zona euro, os valores são 157 e 107. O chamado multiplicador monetário, que é a teoria de que os bancos emprestam tanto dinheiro quanto aquele que lhe for disponibilizado, não funciona. Os bancos emprestam dinheiro se for rentável fazê-lo, não se esse dinheiro existir. E não será rentável fazê-lo enquanto a política oficial continuar a ser a de destruir a procura por via da austeridade.

    Mais do que parecer não estar a resultar, a actual estratégia não tem como funcionar. Isto claro, se não acreditarmos naqueles mitos que a realidade, todos os dias, teima em refutar.’

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