segunda-feira, maio 06, 2013

A mão que mexe os cordelinhos

Temos uma actualização quase diária da “reforma do Estado” (ou, para que não subsistam dúvidas dos propósitos do Governo, da “Public Expenditure Review”, a tradução em inglês de “reforma do Estado” que consta da tabela anexa à carta enviada à troika). O Documento de Estratégia Orçamental (DEO), enviado para Bruxelas no dia 30 de Abril, já está desactualizado, pois a carta remetida à troika anuncia mais austeridade. Em seguida, uma “fonte do Ministério das Finanças”, em declarações à TSF, refaz de novo os cortes… e tira o tapete a Paulo Portas, que se iria exibir brevemente numa televisão perto de si.

Na realidade, cerca de seis horas antes de Portas subir ao palanque para anunciar que a “TSU dos pensionistas é uma fronteira que não posso deixar passar”, a “fonte do Ministério das Finanças” fez questão de divulgar que os cortes previstos continham uma folga para permitir ao líder do partido dos pensionistas poder fazer o seu número de vaudeville.

O método é idêntico ao que Gaspar recorreu com o Álvaro: — Os meninos brincam, mas não saem do pátio do recreio. O Álvaro teve direito a andar, durante uns dias, aos saltos com o Memorando para o Crescimento, até o DEO pôr em evidência que se tratava de um devaneio; Paulo Portas, por sua vez, pôde levar ao palco o número do partido dos pensionistas, mas Gaspar fez questão que se soubesse que autorizara a encenação, cativando uma dotação orçamental para o efeito.

Assim, o líder do partido dos pensionistas subiu ao palanque para dizer o seguinte: — Eu fico. E, desta vez, fica mesmo, não obstante a brutalidade da pilhagem anunciada. Com efeito, quando o Governo pensa poder fazer cortes de 4.315 milhões de euros em 2014 e mais 4.788 milhões em 2015, Paulo Portas opõe-se à criação de outra contribuição sobre as pensões, que representa 436 milhões de euros, uma discordância inferior a 10% do bárbaro pacote em preparação. E entre os cortes a que nem dedicou uma palavra, está a chamada convergência da Caixa Geral das Aposentações com a segurança social (tutelada por Mota Soares, do CDS-PP), ou seja, o corte de pensões dos antigos trabalhadores do Estado no valor 750 milhões de euros por ano.

O ministro das Finanças da troika pode não atingir os objectivos, mas está a especializar-se no fabrico de Álvaros.

2 comentários :

Anónimo disse...

Ainda bem que saí a tempo da função pública - Ainda bem que me reformei há quase 3 anos, já saltei a "barreira" e agora na condição de aposentado, já tenho mais gente que me defenda para além do PCP e do Bloco de Esquerda. Agora já posso contar com o PS e com o CDS para me defenderem também para me segurarem o mais possível o valor da pensão que recebo. Mesmo assim ela já foi reduzida: fazem-me pagar para a ADSE; aumentaram-me o IRS e também me cortaram nos subsídios.
Mas os que ficaram e que não aproveitaram para sair da função pública, embora já estivessem em condições de o fazer, estão a ficar pior de ano para ano, "they are all fucked" (tradução: eles estão todos lixados), porque já pagaram bastante, continuarão a pagar e qualquer dia até acabam com as aposentações antecipadas e vão ter que ficar no seu posto de trabalho até aos 66, 67, quiçá até aos 70 anos se lá chegarem, apesar de "haver funcionários públicos a mais", conforme dizem os nossos políticos há muitos anos. E por doença, só saem se ficarem com diagnóstico de morte a curto prazo ou acamados e mesmo assim, muitos deles terão que ir a Juntas Médicas em local que lhes será indicado. Alguns deles (os que não tiverem apoio familiar) irão morrer em casa abandonados sem conseguirem receber a pensão a que têm direito e para a qual descontaram, porque já não podem tratar da aposentação e o Estado não os vai procurar. Se for proprietário da casa que habita, passados 13 ou mais anos as Finanças deverão mandar um funcionário a sua casa, a fim de saberem porque não pagou o IMI (aconteceu recentemente um caso destes).
Zé da Burra o Alentejano

A impotência em pessoa disse...



Em suma: os Direitolos fazem a festa, lançam os foguetes e apanham as canas, enquanto a Esquerda arreganha os dentes que restam na sua boca desdentada (PCP) e pútrida (BE), ou faz figura de urso (PS).

Até quando, Zé?