Brincar com a miséria

“(...) os progressos que Portugal tem vindo a alcançar no seu programa de ajustamento dispensam que os enumeremos todos”.

“(...) não há derrapagem orçamental, não há nenhuma base real para se dizer isso, não há derrapagem orçamental”.

Wolfgang Schäuble, com Gaspar a seu lado

1. O desemprego continua a subir: atingiu 17,8% em Abri, segundo dados hoje divulgados pelo Eurostat. Entre os 27 países da União Europeia, Portugal apresenta a terceira pior situação do mercado de trabalho, após a Grécia e a Espanha. A taxa média de desemprego na União Europeia manteve-se em 11% (sendo na zona euro de 12, 2%).

Merece especial o facto de, em Portugal, mais de 42% da população jovem (com menos de 25 anos) se encontrar no desemprego.

2. A Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), que funciona na dependência da Assembleia da República, estima que o défice orçamental em contabilidade nacional, a que conta para Bruxelas, terá atingido 8% do Produto Interno Bruto nos primeiros três meses do ano, consumindo assim mais de um terço do défice anual. Relembre-se que o Governo combinou com a troika uma nova meta para o défice para 2013 (5,5%).

Já para 2012, a troika e o Governo haviam combinado aliviar a meta do défice, subindo o valor para 5%, mas o défice acabou por se situar em 6,4%.

A UTAO considera que o significativo desvio que se verifica deve-se a um brutal aumento dos subsídios de desemprego, cuja despesa, nos primeiros quatro meses do ano (em contabilidade pública), já supera o aumento previsto para a totalidade do ano. E isto acontece mesmo com uma descida no valor médio mensal pago por subsídios de desemprego (488 euros).

Perante este quadro negro, como é que Vítor Gaspar tem o descaramento, mesmo com ar enfiado, de se sentar ao lado de Wolfgang Schäuble para o ouvir dizer que Portugal está no bom caminho?