• Pedro Adão e Silva, ESTADO DE ANSIEDADE [hoje no Expresso]:
- ‘"Um menu de medidas." O que se pensava ser mais uma expressão infeliz do primeiro-ministro revelou-se, afinal, parte essencial do anúncio da última dose de austeridade. Bastaram 48 horas para, com a intervenção de Paulo Portas, percebermos que estávamos mesmo perante um cardápio de propostas, prontas a serem degustadas e algumas delas podiam mesmo ser descartadas.
Tudo com um propósito quase pueril: o Governo apresentava medidas que iam além do necessário e com isso ganhava margem de manobra para, é-nos dito, negociar com a oposição, parceiros sociais e a troika.
Deixemos de lado uma evidência que salta aos olhos de todos.
As medidas apresentadas tinham um impacto superior, no essencial, porque o Governo foi incapaz de, uma vez mais, chegar a um entendimento no Conselho de Ministros e prolongou na praça pública o que deveria ter sido resolvido internamente.
Mas, convenhamos, a incapacidade de o Governo chegar a consensos internos está longe de ser o aspeto mais preocupante.
O que assusta é a ligeireza com que Passos Coelho não se coíbe de fazer anúncios públicos de cortes sucessivos e novos impostos, como aconteceu agora em relação aos pensionistas e já havia ocorrido em setembro com a TSU, que afinal não são para levar a sério. É o que se chama brincar com o fogo.
Não só o valor da palavra do primeiro-ministro é posto em causa — alguém estará disponível para tomar como credível um novo anúncio de Passos? —, como é gerado um clima de incerteza que tem enormes custos. Os anúncios de novos cortes nas pensões são, a este propósito, particularmente assustadores. É que uma coisa é a necessidade permanente de reformar o Estado social de forma refletida, adaptando-o a novos contextos, outra, bem diferente, é substituir o papel das pensões como fator de estabilidade política e de previsibilidade económica por um estado de ansiedade permanente, que tem, aliás, efeitos macroeconómicos.
Sabemos hoje o que aconteceu depois do anúncio da TSU: uma retração imediata do consumo (visível, por exemplo, nas vendas de automóveis, que caíram abruptamente na segunda quinzena de setembro). Se, ao contrário do Governo, considerarmos que a economia é uma variável relevante, rapidamente se percebe que estes anúncios, mesmo que não concretizados, produzem logo um efeito psicológico.
Não por acaso, de cada vez que o Governo fala em folgas orçamentais, podemos com segurança antecipar o seu destino — são invariavelmente consumidas pela recessão que se intensifica sempre.
Como se não bastasse a degradação social, as exigências políticas associadas à austeridade e a ausência de qualquer perspetiva de saída para os nossos bloqueios económicos, temos ainda um Governo que abdica do seu papel como fator de segurança e estabilidade para se tornar, objetivamente, um agente de incerteza e de ansiedade. Exatamente com que propósito, não se chega a perceber.’
1 comentário :
Hoje na TSF:
"Mas eu não posso dizer que o governo é mediocre ou q é um caos, o meu papel como comentador é dar racionalidade ao discurso politico" mais ou menos isto(não é sic, é tsf)Um propagandista não diria melhor, e isto leva-nos ao maior cancro do país, os excelentissimos comentadores que não passam de propagandistas, a realidade não lhes assiste, é tudo um big brother de palavras.
Ou como me obriga o programa que prova que eu não sou um robot.
"became ncesors"
Só uma ressalva não é ncesors" é "censors", nessa nem um robot caia.
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