domingo, maio 19, 2013

O que Gaspar deveria ter dito na apresentação do livro...


A risota que marcou a apresentação feita por Vítor Gaspar da tradução portuguesa do livro de Reinhart e Rogoff acabou por salvar o ministro das Finanças da troika, evitando que fosse questionado acerca das mistificações que o livro contém. Foi pena, porque o abismo para onde o Governo está a atirar o país encontra a sua justificação teórica ideológica nesse livro.

Já tinha feito alusão a uma entrevista de Thomas Herndon, o doutorando em Economia que detectou os erros na folha de Excel, cuja análise conduziu a uma rejeição das posições defendidas por Reinhart e Rogoff. Na sexta-feira, o Diário Económico publicou uma outra entrevista, desta feita dada por Michael Ash, um dos três autores do documento "É verdade que a elevada dívida pública sufoca de forma sistemática o crescimento económico?", que questiona globalmente os alicerces em que assenta a “bíblia da austeridade” de Reinhart e Rogoff, certamente livro de cabeceira de Gaspar.

Eis um extracto da entrevista:
    Quais são as vossas principais conclusões?
    Há duas principais conclusões. Primeiro, os dados mostram que não existe um limiar fundamental para a dívida pública a partir do qual o crescimento é substancialmente reduzido. Segundo, como o crescimento médio do PIB é ligeiramente menor quando o rácio dívida pública/PIB é elevado, a causalidade flui de um crescimento fraco do PIB para a dívida pública. Um fraco crescimento do PIB em períodos recessivos diminui a colecta de impostos e aumenta a despesa pública, por exemplo com o pagamento de subsídios de desemprego. Isto não só aumenta os níveis de dívida pública como cria uma ligação causal muito directa. O argumento a favor da austeridade, sustentado no facto de a dívida pública reduzir o crescimento do PIB, implica ligações complicadas que não se apoiam necessariamente em provas concludentes. O meu colega Arin Dube escreveu um pequeno e excelente artigo onde argumenta persuasivamente que o crescimento fraco do PIB precede a dívida pública e não o contrário.

    Quais são as principais implicações destes erros para países como Portugal, que vivem sob medidas de austeridade?
    As conclusões de Reinhart e Rogoff têm servido de pilar intelectual no apoio às políticas de austeridade. O facto de as suas conclusões estarem erradas deveria suscitar uma reavaliação da agenda da austeridade, quer na Europa quer nos EUA.

    Estão a estudar alternativas ao actual modelo baseado na austeridade?
    As políticas de austeridade têm sido claramente desastrosas em toda a Europa, do Reino Unido à Grécia e, neste momento, ameaçam a frágil retoma dos EUA. A austeridade não é uma política sensata em períodos de recessão. Todas as partes envolvidas no debate, incluindo Reinhart e Rogoff, estão agora a adoptar esta posição. As condições recessivas actuais pedem um estímulo que dê resposta aos problemas imediatos de crescimento fraco e desemprego. Orientar o estímulo para a construção de infraestruturas sustentáveis seria o ideal. Uma melhor regulação dos bancos e dos mercados financeiros - posição também partilhada por Reinhart e Rogoff - também pode ajudar a prevenir o tipo de crises financeiras que estiveram na origem da Grande Depressão.

    Considera que o argumentos usados por Reinhart e Rogoff para explicar o erro são "bons"?
    No rescaldo do debate, Reinhart e Rogoff acabaram por concordar que não existe um limiar ou abismo para o rácio dívida pública/PIB. Além disso, também reconheceram que a austeridade não é uma política adequada ao actual contexto de Grande Recessão e que os elevados níveis de dívida pública, afinal, poderão não conduzir ao abrandamento do crescimento do PIB baseado apenas na associação. Isto é, a causalidade invertida é uma explicação plausível, mas com implicações políticas totalmente diferentes. Estas alterações ou esclarecimentos sobre as suas posições surpreendem-me por serem boas respostas.

Teria sido bom ouvir Gaspar defender a austeridade a partir de conclusões que resultam de erros grosseiros.

3 comentários :

james disse...



Tal e qual como um talibã, este Vítor Gaspar.

james disse...



Vítor Gaspar é um tiranete, nada democrático. Nunca se deixaria entrevistar...

Fanático, obsessivo e fundamentalista até ao tutano, jamais conseguiria entrar em iteração com quem o confronta com posições que se afastem da cartilha que professou.

Anónimo disse...

O que se depreende do estudo em causa é que os autores não compreenderam o alcance e o modo como funciona o estado social na europa.
É possivel que num país como os EUA, donde são originários os autores, com gastos menos consideraveis em apoios sociais e impostos mais baixos, o estudo conseguir ter algum fundamento.
Mas em países onde o estado social está firmemente implantado as coisas não funcionam da mesma forma.
Esta falta de compreensão de que os sistemas económicos são demasiado complicados para se reduzirem a formulas simplistas é o que têm vindo a ser descurado nos estudos mais liberais e de origem norte americana. É óbvio que não tiveram em conta as consequencias de uma austeridade aplicada não apenas a um país em dificuldades mas a toda uma zona económica onde as trocas comerciais são interdependentes.
Na economia cada caso é um caso, um povo não é igual a outro e toda a dinamica de ligações externas se altera a cada momento, sendo assim muito dificil aplicar formulas de uma década á década seguinte.
É preciso mais elasticidade nas analises económicas e sobretudo é preciso que esta gente perceba que a economia não é uma ciencia exacta: é uma ciencia social.
E isto é apenas uma análise de senso comum.
Se até eu, que não estudei economia de forma aprofundada, posso tirar estas conclusões, em que raio andou Gaspar a gastar o dinheiro da educação que todos nós pagamos para se demonstrar um aluno tão incompetente?