• Maria João Rodrigues (conselheira nas instituições europeias), Não há alternativa? [hoje no Expresso]:
- ‘Portugal não está numa rota de solução e algo de mais fundamental tem de ser feito.
Pode alegar-se com algum progresso na redução do défice externo e no défice público estrutural. Mas a conjunção de uma espiral recessiva, desemprego galopante e dívida pública em crescendo não deveria enganar ninguém. Mais grave ainda é a destruição de potencial produtivo, a perda de gente qualificada, o desinvestimento físico e moral.
Se quiser mudar de rota, Portugal terá de lutar por uma outra solução no palco europeu, com um argumento claro e uma visão de conjunto sobre o que está em causa. Essa luta terá de usar todos os canais e aliados disponíveis, políticos, económicos, sociais e culturais, mas tem de apontar para um foco central.
(…)
As divergências de capacidade competitiva não devem ser resolvidas com o esmagamento dos salários, mas antes com a reconversão destes países para atividades com mais futuro, a apoiar pelo BEI, fundos estruturais e um novo fundo de convergência na zona euro, na linha do que todas as uniões monetárias têm. Esta reconversão só é possível com investimentos certeiros e reformas que deveriam combinar renovação e coesão.
Esta reconversão é essencial para retomar a criação de mais e melhor emprego.
As divergências nas condições de financiamento privado, hoje abissais, exigem a construção de uma união bancária, que restabeleça um acesso normal ao crédito. E as divergências nas condições de financiamento público não podem ser apenas contidas por um MEF, tem de ser estabilizadas em última instância pelo Banco Central Europeu. A aceleração recente do rácio da dívida pública, decorrente de receitas agora reconhecidas como erradas, deveria ser invertida por um fundo de redenção, tornando o seu pagamento viável.
Há quem diga que não há alternativa no quadro europeu. Há quem diga que a alternativa é romper com esse quadro. Mas a verdadeira alternativa está em alterar esse quadro. Ele será exigente, mas a missão de recuperação nacional tem de ser possível.’
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