Como novo para o “novo ciclo”

Em “condições anímicas”?

Antes que que pudesse surgir por aí a proclamar que as suas “condições anímicas” estavam a dar sinais de afrouxar, o melhor seria convidá-lo para um almoço no Pabe. Foi o que o Expresso fez em boa hora. O tema que dominou o repasto: os briefs do Lomba.

O secretário de Estado adjunto do ministro adjunto revalidou o que se sabia sobre a estridente falta de comando político do alegado primeiro-ministro: “Os brifiengs podem ajudar a uma maior harmonia entre os ministérios.” Na ausência de uma voz que dirija o Governo, deduz-se que o ministro Maduro terá segredado ao ouvido do ajudante: — A política tem horror ao vácuo. Os briefings permitem-nos a política do facto consumado. Aparentemente, uma ideia boa de mais: a consumação desregrada de factos obrigou a retirar de cena os aprendizes de feiticeiro.

Já com uns peixinhos da horta a flutuar em vinho branco (“Quinta dos Termos” da Beira Interior), Pedro Lomba revelou as suas inquietações: “O que me preocupa é garantir que a minha independência intelectual não seja posta em causa.” Preocupação antiga, reconheça-se. Talvez esta declaração pudesse ter sido a grande revelação do repasto. Estaria Lomba a deixar subentendido que está frontalmente contra a selvajaria a que o Governo, depois de a apelidar de “refundação do Estado”, chama agora “reforma do Estado”? Tudo leva a crer que sim, a fazer fé na oposição de Lomba a uma questão ínfima comparada com o brutal saque em curso: “É muito discutível que o Governo altere de repente as regras do jogo, mudando o estatuto jurídico dos contratos dos actuais funcionários.”

O almoço decorreu sem sobressaltos, permitindo a Lomba afiançar — “com convicção”, segundo o Expresso — que “o novo ciclo existe”. Só não vê quem não quer. Depois da disponibilidade manifestada, talvez Martim Silva pudesse ter sido poupado pelo secretário de Estado adjunto do ministro adjunto: “O jornalismo tem abundância de recadismo.”