O terceiro partido da coligação

Ei-lo em mais uma entrevista, após se ter dado a conhecer à sociedade através do programa televisivo Briefs do Lomba¹. O ex-cronista do Público tinha ontem tanto para contar ao Público que ocupou três páginas três (15 colunas 15). Tratando-se de um afamado constitucionalista, é lamentável não ter havido espaço para acolher a sua opinião acerca do que a Constituição da República poderia fazer pelos 900 mil desempregados do país.

Talvez este imperdoável descuido tenha sido causado pela circunstância de a entrevista não ser em rigor dada pelo ajudante do ministro adjunto, mas por Lomba & Maduro em dueto, tantas vezes o entrevistado se refere a ambos, como se os dois representassem o terceiro partido da coligação [“Quando chegámos”].

Pedro Lomba manda recados, lança farpas, assume-se como analista para elogiar governantes e expõe involuntariamente as suas fraquezas.

Decorridos vários meses, sente-se que o fantasma do Dr. Relvas ainda paira sobre a Gomes Teixeira: “Nós achamos que a comunicação do Governo é hoje mais consistente.” E para ver se afasta de vez esta alma do outro mundo, Lomba fez apelo a toda a sua coragem para aceitar o convite para ingressar no Governo: “(…) George Steiner tem uma frase que diz: ‘É preciso muita coragem para ir para a política, mas se não formos nós isto fica entregue a pessoas pouco recomendáveis’ (…).”

Sendo, ao contrário do Dr. Relvas, uma pessoa recomendável, Lomba entende que pode desdizer-se ou contradizer-se sem problemas: “Não me vão confrontar sempre com o que escrevi, pois não?” Claro que não, o que lá vai, lá vai — ou, como dizia o inimitável José Luís Asnô, o carro vai à revisão e vem de lá com o contador a zeros.

Mas o que surpreende na entrevista é a confissão de que o ajudante do ministro Maduro desconhecia por completo o funcionamento do aparelho de Estado: “Olhe, o que mais me surpreendeu é esta ideia, muito francesa, de os ministérios funcionarem muito como mini-governos: têm grandes administrações, muitos serviços, muitos funcionários na sua dependência, e acabam por funcionar como governos autónomos e pesados. Isso surpreendeu-me muito.”

Surpreendido ou não, Lomba passa a bola a Paulo Portas quando é questionado acerca da reforma do Estado: “Não me cabe a mim. É uma matéria da responsabilidade do vice-primeiro-ministro e é ele que tem de determinar os seus próprios timings.” Mas sempre adianta que os despedimentos colectivos no Estado que o Governo pretende fazer se inserem na reforma do Estado: “A reforma do Estado está a ser feita. As reformas sobre [sic] a administração pública são reformas do Estado.”

Daí o deslumbramento com o Dr. Rosalino: “As pessoas esquecem-se que, em muitas das medidas, o país tem um secretário de Estado da Administração Pública como não tinha há 20 anos. Estou a falar do dr. Hélder Rosalino.” O político recomendável cede o lugar ao analista político que, durante anos e anos, escreveu sobre o Estado e nem suspeitava que a administração pública era “muito francesa”. É no que dá só ver filmes americanos — cria-se uma realidade que apenas existe na cachimónia.

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¹ Ficámos a saber que os briefs do Lomba serão reformulados: surgirão, em data a anunciar, os briefs à chef [“Ao nível do ministro [Maduro], vamos aumentar os encontros regulares informais com jornalistas”] e os briefings sectoriais. Maduro & Lomba não desistiram de, através da persuasão, atingir os objectivos que o Dr. Relvas procurava alcançar ao pontapé.