sexta-feira, janeiro 03, 2014

O Presidente deles

• Pedro Silva Pereira, O Presidente deles:
    ‘Na sua desconjuntada mensagem de ano novo, Cavaco Silva confirmou o que já se sabia: renunciou a ser o Presidente de todos os portugueses. A mensagem é elucidativa: está tudo a correr bem, como diz o Governo (do seu partido); deixou de haver limites para os sacrifícios que podem ser pedidos aos portugueses; sair do programa de assistência para um novo "programa cautelar" não é mau de todo; e ninguém conte com o Presidente para atrapalhar fazendo cumprir a Constituição. Em suma: não contem com ele para nada.

    O alinhamento de facção perfilhado pelo Presidente da República começa na sua persistente distorção das circunstâncias históricas que levaram ao pedido de ajuda externa. Na versão do Presidente, agora repetida, as coisas passaram-se assim: "Importa não esquecer que Portugal chegou, no início de 2011, a uma situação de colapso financeiro iminente, que levou o Governo de então a solicitar o auxílio de emergência das instituições internacionais. Hoje, existe a consciência clara de que não era possível continuar a caminhar rumo àquilo que, na altura devida, classifiquei de ‘situação explosiva'". Para construir esta narrativa manipulada, Cavaco Silva faz desaparecer, de uma só vez, a redução do défice e o controlo da dívida pública conseguidos pelo Governo socialista até 2007-2008 (à custa de medidas e reformas estruturais exigentes); a grande crise internacional de 2008-2009; a consequente crise das dívidas soberanas, que se instalou na zona euro em 2010 e, finalmente, o efeito devastador nos mercados causado pela crise política de Março de 2011, no seguimento da rejeição do PEC IV (que tinha acabado de obter o apoio expresso do BCE e dos nossos parceiros europeus). Será possível, com um mínimo de seriedade, contar a história do nosso pedido de ajuda externa sem sequer mencionar estes factos elementares e decisivos? O Presidente sabe que não mas faz de conta que sim. Prefere a sua versão distorcida, porque mais conveniente para si e para os seus. E é também isso que faz dele um Presidente de conveniência para alguns, não o Presidente de todos os portugueses.

    Por outro lado, a súbita indiferença do Presidente para com os "limites para os sacrifícios que podem ser exigidos ao comum dos portugueses", agora que eles são impostos, de forma agravada, pelo Governo da sua própria família política, diz mais do que mil palavras sobre os dois pesos e duas medidas que norteiam a gestão político-partidária do Presidente. Mas onde essa duplicidade mais insidiosamente se revela é no ostensivo apagão que se nota no discurso presidencial quanto às várias revisões do Memorando, que o Presidente trata como se nunca tivessem existido, apesar de terem estipulado o dobro (!) da austeridade prevista na versão inicial. Repare-se nas palavras cuidadosamente escolhidas pelo Presidente: "No ano que terminou, o Programa de Assistência Financeira subscrito por Portugal em 2011 com as instituições internacionais continuou a exigir pesados sacrifícios à maioria dos Portugueses". A intenção é clara: imputar ainda ao Memorando negociado pelo anterior Governo os sacrifícios que apenas foram exigidos nas suas posteriores revisões, em parte por força da desastrosa opção do actual Governo por um ‘front-loading' das medidas de austeridade (no quadro de uma austeridade "além da ‘troika'") e em parte decorrentes dos sucessivos fracassos na prossecução das metas, que se acumularam a ponto de minar a credibilidade do próprio Governo, como aliás reconheceu o ministro das Finanças Vítor Gaspar na sua reveladora carta de demissão.

    Neste contexto, não é propriamente uma surpresa que o Presidente, tal como fez em 2012, se escuse a pedir a fiscalização, preventiva ou sucessiva, da constitucionalidade do Orçamento para 2014, mesmo quando são mais do que muitas as dúvidas sobre as medidas que atingem os suspeitos do costume: funcionários públicos e pensionistas, em particular titulares de pensões de sobrevivência. A esses, na curiosa ponderação de custo-benefício a que o Presidente sujeita o seu dever de fazer cumprir a Constituição, saiu a fava: cabe-lhes suportar os custos, enquanto ao Governo sorriem os benefícios. É por essas e por outras que a garantia da Constituição não está apenas nas mãos do Presidente.’

8 comentários :

Anónimo disse...

O Senhor Presidente redime-se com a medalha ao Cristiano. É o que domina a agenda mediático.

Anónimo disse...

Pedro Silva Pereira faz-me retomar uma máxima, certamente algo corporativa, assim delineada: 'muito reservado na efetividade do serviço e muito ativo na reserva'.
Primeiramente, por muito que isso lhe custe, a culpa da 'asneira' de Portugal ter este PR é, garantidamente, da maioria dos portugueses que o elegeu.
Em segundo lugar, PSP que aqui se arvora em defensor de uma narrativa (termo tão candente para si) mais correta teria, a meu ver, a obrigação de referir que, apesar da grande crise internacional de 2008 - 2009, o governo a que pertencia continuou a gastar ostensivamente em projetos e parcerias megalómanos hoje ainda por acabar ou transformados em enormes elefantes brancos (será preciso referilos?).
Em terceiro plano, muito gostaria que o Dr. PSP se dedicasse, com este mesmo afinco, à elaboração de um artigo que demonstrasse a todos nós contribuintes como o PEC IV e que, mutatus mutantis, resolveria os problemas que temos vivenciado nos últimos anos.
Por último e concordando, era o que maisfaltava é que a Constituição estivesse nas mãos do PR, de resto, era o que mais faltava é que a constituição estivesse nas mãos de qualquer entidade minimamente relacionada com espectro político, isso sim seria o epílogo da Nação.

NSM

Anónimo disse...

Pedro Silva Pereira faz-me retomar uma máxima, certamente algo corporativa, assim delineada: 'muito reservado na efetividade do serviço e muito ativo na reserva'.
Primeiramente, por muito que isso lhe custe, a culpa da 'asneira' de Portugal ter este PR é, garantidamente, da maioria dos portugueses que o elegeu.
Em segundo lugar, PSP que aqui se arvora em defensor de uma narrativa (termo tão candente para si) mais correta, teria, a meu ver, a obrigação de referir que, apesar da grande crise internacional de 2008 - 2009, o governo a que pertencia continuou a gastar ostensivamente em projetos e parcerias megalómanos hoje ainda por acabar ou transformados em enormes elefantes brancos (será preciso referi-los?).
Em terceiro plano, muito gostaria que o Dr. PSP se dedicasse, com este mesmo afinco, à elaboração de um artigo que demonstrasse a todos nós contribuintes como o PEC IV e que, mutatus mutantis, resolveria os problemas que temos vivenciado nos últimos anos.
Por último e concordando, era o que mais faltava é que a Constituição estivesse nas mãos do PR, de resto, era o que mais faltava é que a constituição estivesse nas mãos de qualquer entidade minimamente relacionada com espectro político, isso sim seria o epílogo da Nação.

NSM

Anónimo disse...

Este NSM com receio que a sua merdosa narrativa não chegasse ao destino decidiu enviar 2 narrativas. Assim, o pivete chega em duplicado. É por haver quadrupedes destes que o país está como está.
Então Passos de Coelho um mentiroso como não há igual, Portas fdp (ferrenho dos pópós) defensor dos pensionistas, dos contribuintes, dos militares regressados do ultramar, este irrevogável cidadão autor da questão dos submarinos - e os outros é que andaram a gastar à tripa forra, Cavaco (ia dizer um calhordas da pior espécie mas não digo, pois ele pôs uma ação contra Sousa Tavares por lhe chamar palhaço, sem ofensa para os palhaços, claro) mais os seus amigos Oliveira e Costa, Duarte Lima, Dias Loureiro, etc., etc. então esta gentalha é defendida por este fdp (ferrenho dos pópós) que escrevinhou a merda acima quer enganar quem? Pata que os pariu a todos. Cambada de ladróes.

Anónimo disse...

Ora, lá voltou o Nuno Sá Moreira! Vão ver que o servidor é pago por nós!

Anónimo disse...

O distinto Anónimo das 3:32 nota-se que é uma pessoa de bem, que á um adepto ferveroso do debate são e elevado e que, democráticamente, admite opiniões diferentes da sua. Em suma, é um modelo de democracia e, garantidamente, motivo de regozijo para aqueles, como o Dr. Pedro Silva Pereira, que ousam em expôr as suas ideias.

Bem Haja!

Lamento desapontá-lo, anónimo das 3:43, não sou tal pessoa e descanse, não consto da sua lista de pagamento.
De qualquer modo, obrigado pela preocupação,

NSM

Anónimo disse...

"Lamento desapontá-lo, anónimo das 3:43, não sou tal pessoa e descanse, não consto da sua lista de pagamento.
De qualquer modo, obrigado pela preocupação"

Então és mais um asno que só vai acordar quando as cuecas que usas deixarem de ser tuas e as tiveres de devolver ao banco.
A "narrativa" que ali acima contaste é uma história de embalar muito bonita para apaziguar más consciencias e arrependimentos de ultima hora nas urnas.
Não nos resolve os problemas nem obsta ao facto de que, por pior que fosse o governo anterior, este sim é um desastre autêntico para o país e para o povo português.
De ti não tenho pena, mais tarde ou mais cedo terás o que mereces.
Tenho pena sim de quem não votou nestes cabrões, ou de quem votou e se sente verdadeiramente enganado mas está a sofrer as consequencias do governo mais incompetente de toda a história de Portugal.

Trans Lúcido disse...

Incompetente, ponto e vírgula! Uma coisa que este desgoverno tem sido é MUITO COMPETENTE, sobretudo na defesa dos interesses de quem detém as suas arreatas.

Isso passa por ser na prática incompetente - isto é, consequente... - na "defesa" dos interesses do País? Pois sim, mas isso não lhes tira o sono.

Esta canalha não está a ser paga para defender os nossos interesses colectivos, ou seja, o interesse público, mas sim para defender o "deles", CUSTE ISSO O QUE CUSTAR ao interesse do País!

O maior problema é que foi o Povo que os escolheu!

Ataquem a raiz desse problema e conseguiremos saír deste enrolo. Até lá, engulam em seco (ou cerrem os dentes), que isso a nada conduzirá...