• João Galamba, Um Cavaco no sapatinho:
- ‘Na mensagem de ano novo, Cavaco decidiu atualizar o conceito de cooperação estratégica e apresentar-se aos portugueses como uma espécie de adjunto do governo de Passos Coelho. Desde a leitura fortemente partidária das causas da crise e do que, em 2011, precipitou a intervenção da ‘troika', ao "milagre económico" em curso, acabando com um apelo para que se unam em torno desse grande desígnio nacional chamado programa cautelar, Cavaco não perde uma oportunidade de personificar o mais lamentável exercício do cargo de presidente da democracia portuguesa.
Para Cavaco, a situação portuguesa é fácil de entender, porque, como não se cansa de nos explicar, ele foi avisando. Em 2011, por exemplo, avisou que estávamos numa situação explosiva, não porque um governo minoritário estivesse a governar numa situação explosiva, mas porque esse governo era ele próprio explosivo. Cavaco não acha relevante enquadrar os problemas portugueses nas disfuncionalidades da arquitetura institucional da moeda única, nem discorrer sobre como a política europeia, em maio de 2010, e a pretexto da chamada crise grega, fez uma inversão de 180º, deixando países como Portugal numa situação dramática e à mercê dos mercados. Não; para Cavaco, como para o governo de Passos, chegámos aqui pelo despesismo e pela irresponsabilidade lusitana, e o caminho que estamos a percorrer corresponde à justa expiação dos nossos pecados. A expiação é tão justa e o caminho tão salvífico que até justificam que Cavaco suspenda a legalidade democrática e abdique de enviar um orçamento flagrantemente inconstitucional para fiscalização preventiva (ou sucessiva) por essa força de bloqueio chamada tribunal constitucional.
Quanto ao "milagre económico", Cavaco alinha pelo discurso do governo: os sinais positivos provam que o programa está a funcionar e, portanto, que os sacrifícios dos portugueses estão a valer a pena. Seria interessante que Cavaco explicasse como é que uma melhoria no consumo privado e uma queda menos acentuada do que o previsto no consumo público- que mais do que compensam a queda da procura externa líquida - podem ser considerados um sucesso de uma política que visa exatamente o contrário. Infelizmente, estamos perante um mistério que o professor de economia que nunca se engana e raramente tem dúvidas não teve tempo de explicar.
Cavaco não entrou nessas minudências porque o objetivo deste discurso de ano novo era outro, mais elevado. Cavaco, pela enésima vez, quis desafiar os portugueses a pôr de parte os "interesses meramente partidários" e ajudar o Governo, isto é, o País, a evitar um segundo resgate e, depois, todos juntos, celebrar um grande pacto de unidade nacional em torno do empobrecimento salvífico que, tragicamente, é o único desígnio nacional que ocorre a esta direita e a este presidente. Já sabíamos que Cavaco tinha uma conceção muito deficiente da democracia, dos partidos e da importância do dissenso em política. Regressar ao tema no primeiro dia do ano que marca o quadragésimo aniversário do 25 de abril, e fazê-lo em nome dessa mesma celebração, torna tudo mais grotesco.’
3 comentários :
Análise certeira de João Galamba,como sempre nos habituou...Há dias já tinha sido bem eloquente no que se refere a Cavaco...e tem toda a razão...
Palavras grotescas de um sujeito grotesco, não se poderia esperar outra coisa do sujeito Cavacoide.
Nem quero pensar no que pode acontecer em Portugal no próximo dia 25 de Abril!
O palhação que se ponha a pau...
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