quinta-feira, janeiro 30, 2014

"Vem na moção de Passos Coelho"

• José Pacheco Pereira, A "nova normalidade" [hoje na Sábado]:
    ‘(…) Existe um parágrafo particularmente significativo na moção [de Passos Coelho ao congresso do PSD] que tem passado despercebido, mas resume muito bem o tom moralista arrogante da política que nos é proposta e o seu sentido social. Nesse parágrafo protesta-se contra aquilo que os seus autores chamam de "desestruturação da cidadania".

    Percebe-se que os autores da moção estão a culpabilizar os portugueses ("a sociedade portuguesa") por não terem bons costumes. E quais são esses maus costumes? Os "direitos sem deveres", "a preferência pelo relativismo em detrimento dos valores perenes" (seria interessante saber quais), uma "cultura materialista e individualista" (esta é interessante), a "deriva dos oportunismos à custa do aniquilamento da responsabilidade", o "culto da gratificação imediata e da consideração de curto prazo em desfavor da reflexão prospectiva", e, como cereja em cima do bolo, "a apropriação excessiva dos direitos das gerações futuras por parte das actuais gerações".

    É por isso que, quando os governantes dizem que é apenas por obrigação que tomam medidas como os cortes retrospectivos nas pensões e reformas, estão de facto a enganar-nos. Na verdade, é intencional e faz parte de um plano. É ali que atacam, não pelo peso dessas prestações sociais, num processo paralelo ao embaratecimento do valor do trabalho, mas sim porque isso é um elemento do seu plano. Podiam ter todo o ouro do mundo para pagar as dívidas, que não o usariam. Eles têm um alvo.

    Por isso, tudo o que é pura ideologia da actual política governativa está aqui: a legitimação de uma sociedade em que não existem direitos sociais (a não ser os da propriedade), a classificação de "oportunismo" à defesa das condições de vida actuais, o alvo na geração actual dos 30 aos 100 anos, centrado na classe média e nos mais velhos, acusados de terem um "culto da gratificação imediata", e de apropriação excessiva dos direitos das gerações futuras".

    Por isso não me venham dizer que muitas das políticas actuais são apenas transitórias e conjunturais, desprovidas de um plano moral e puritano. Não é verdade, vem na moção de Passos Coelho.’

2 comentários :

Mao Tsé Tung disse...

Ó Pacheco, tu descobres sempre a realidade das coisas dez anos depois dos acontecimentos que motivam a descoberta! Pelo menos!

Já aconteceu assim como o maoísmo e nunca mais deixaste os teus "créditos" por mãos alheias, pois não, meu pobre narciso (só abres a boca quando já não é preciso...)?

Anónimo disse...

Por alguma razão o Pacheco é Historiador!