domingo, março 23, 2014

Da intoxicação da opinião pública

Ontem no DN (clique na imagem para a ampliar)

O título da notícia assinada por Carlos Rodrigues Lima, o nosso amigo Carlinhos, sugere que o Banco de Portugal (BdP) soube da existência das off-shores do BCP em 2001, mas «só atuou em 2007». Lê-se a notícia e conclui-se que, contrariamente ao que se possa depreender do título, o BdP actuou. Para ser mais rigoroso, como a notícia revela, nunca deixou de actuar (em função das normas em vigor). Mais: vinha a actuar mesmo antes de receber a denúncia de Joe Berardo em 2007. Naturalmente, após ter recebido esta denúncia e os indícios de ilícitos que ela incluía, o BdP continuou a actuar: investigou e condenou os autores da tramóia.

A contradição entre o título e o teor da notícia revela que a fonte do Carlinhos pôs à sua disposição informação incompleta ou deficiente. A fonte mereceria um puxão de orelhas. Veja-se:
    1. Ao invés do que a notícia poderia levar a concluir, a circunstância de os bancos deterem um certo número de veículos em off-shores não constitui, em si mesmo, uma ilegalidade.

    No caso do BCP, o problema reside na criação de 17 veículos clandestinos em off-shores: o BCP não declarou que era o seu detentor, simulando então que pertenciam a um banco holandês, e injectou dinheiro nesses veículos para que fossem compradas acções do próprio BCP, a fim de manipular a sua cotação em bolsa.

    Assim sendo, o que importa sublinhar não é a existência de veículos em off-shores, mas a ocultação de que 17 destes veículos eram detidos pelo BCP, com o propósito deliberado de influenciar o preço das suas acções.

    2. O Carlinhos imputa responsabilidades ao «modelo de supervisão “suave”» do BdP, que não teria sido capaz de detectar estas operações que haviam sido sonegadas. Ó Carlinhos, a supervisão exercida pelos bancos centrais obedece a um conjunto de normas e procedimentos e visa assegurar a solidez, a estabilidade, a liquidez e a solvência das instituições financeiras. O BdP procede como os outros bancos centrais: analisa as suas contas e documentação anexa (já antes auditadas e certificadas nos termos legais) para avaliar se os parâmetros internacionais estabelecidos são observados em ordem a preservar a sua sustentabilidade.

    Há-de o Carlinhos explicar um dia como teria sido actuar de uma forma não-suave e, ao mesmo tempo, seguir as normas e os procedimentos que são próprios da supervisão (segundo a lei e em observância das normas e dos procedimentos internacionais de supervisão).

    3. O ponto mais importante, contudo, é que essa ideia da «suavidade» é totalmente contraditória com a forma como o BdP de facto actuou quando foi posto perante uma denúncia da marosca do BCP.

    Passadas apenas umas poucas semanas sobre a recepção desta denúncia de Joe Berardo (e prova dos factos considerados ilícitos), foram instaurados processos de contra-ordenação em 26 de Dezembro de 2007, sabendo-se que, depois de terem sido promovidas «97 audições testemunhais e audições aos 11 arguidos», «as condenações foram proferidas em Abril de 2010». E os factos apurados foram comunicados para os devidos efeitos ao Ministério Público. Isto demonstra «suavidade»? Não, demonstra o contrário.

Carlos Rodrigues Lima é um jornalista que costuma acompanhar a área da justiça. Não acha que este caso (a prescrição) descredibiliza a justiça e não o BdP? Confronte a(s) sua(s) fonte(s).

18 comentários :

Tatas disse...

Mais interessante é analisar como o responsável direto pela supervisão, António Marta, continua longe dos holofotes e até é defendido por meninos como o Nuno Melo...

Anónimo disse...

Sempre a mesma conversa: a culpa é do policia e não do ladrão... só porque a liderar o bdp estava um socialista. È o "jornalismo de referência"

jose neves disse...

Mais uma "notícia" estudada, preparada e produzida pela imprensa "séria" para dar argumentos, aos crentes dos troikanos e sacerdotes do deus mercados, da culpa do outro anterior e sua justa defesa do altar onde corre o mel do pote.
Os escribas destas "notícias" andam de gatas a lamber os pingos de mel que sacerdotes e diáconos dos ritos deixam cair no chão sujo, de propósito, para tornar uma lixeira imunda a língua desses escribas.

ignatz disse...

"custa à maior parte dos portugueses admitir que isto aconteceu porque as pessoas que estavam envolvidas nos processos não eram pessoas simples, cidadãos anónimos" - pedro, o simplório.
prontes, tá feito. na próxima invento outra merda do género e safo o rendeiro. para o oliveira casca abrimos um concurso de ideias para safar o gajo.

ignatz disse...

a opinião do sócras vira entrevista, prá semana o orelhas faz perguntas sobre o freeporcos.

https://www.youtube.com/watch?v=6Nf9_yVB_yY

jose neves disse...

Ignatz,
A armadilha montada pelos manos da rtp manos do relvas-maduro caçou o orelhas que se prestou à emboscada terrorista.
Desmontadas todas as "notícias" que o tolo puxava como se fora uma pistoleiro num duelo, Sócrates ainda teve tempo para ter piedade do gajo amenizando o seu colaboracionismo bandoleiro dizendo-lhe que afinal alguém o tinha enganado.
Agora é que as orelhas e a cabeça lhe vão crescer para se adequarem à sua condição de jumento.

ignatz disse...

oh neves! se continuar assim dá mais gozo, dúvido é que o orelhas queira levar nas trombas todos os domingos. mas o que está em causa é o idiota dos santos não respeitar o formato e tranformar um programa de opinião em entrevista de julgamento sumário, sem avisar o convidado que trabalha à borliú. cá para mim querem acabar com aquilo de qualquer maneira e o orelhas ofereceu-se para herói, espero que a próxima leve tantas como a miss piggy levou do marinho pinto.

Alcoólico Anónimo disse...

Ainda melhor é a RTP andar pela net a remover os videos do julgamento travestido de entrevista! Asfixia democrática diziam eles...

Carlos Rodrigues Lima disse...

"Carlinhos" é bonito. Só uma coisa: os dados constam do Apenso V do processo de contraordenação, "Miguel". Abraço

Alcoólico Anónimo disse...

Só uma coisa: Como explicas a contradição entre o titulo e o corpo da noticia? Quanto te pagam ó "Carlinhos"? Não me digas que esse dado também está no Apenso V?

Ricardo Pinto disse...

Queria muito ver o vídeo da "tareia" que o Sócrates deu ao orelhas. O link indicado foi sujeito a censura. Ninguém sabe se há algum outro sítio onde o possa ver? Desde já obrigado.

Miguel Abrantes disse...

Caro Ricardo Pinto:

Pode ser visto em
http://www.rtp.pt/play/p1395/e148170/telejornal/344286

(2.ª parte do Telejornal - cerca dos 2:20)

Ricardo Pinto disse...

Obrigado, caro Miguel! Um abraço.

Miguel Abrantes disse...

Carlos Rodrigues Lima:

Não é a circunstância de estar no Apenso V (que não conheço) que está em causa. O que está em causa é:
1. Falar-se de off-shores como se a sua simples existência fosse ilegal, levando o leitor a concluir que o BdP tinha debaixo dos olhos os indícios da marosca e não actuou.

2. Falar-se de uma supervisão "suave", quando o BdP actua de acordo com as normas e procedimentos estabelecidas para os bancos centrais dos países desenvolvidos.

3. Escamotear-se que o BdP actuou de imediato e com rapidez logo que teve provas dos ilícitos.

4. Não dar relevo ao facto de que houve uma ocultação de elementos por parte do BCP, de que terá sido vítima até o próprio director-geral das operações internacionais do BCP, o actual governador do BdP.

5. Não ser questionado o desempenho dos operadores judiciários neste caso.

Carlos Rodrigues Lima disse...

http://www.dinheirovivo.pt/Mercados/Artigo/CIECO329761.html Mal o último comunicado do Conselho da Magistratura saiu, fui o primeiro a notar uma incongruência....

Carlos Rodrigues Lima disse...

E no que diz respeito ao processo contraordenacional da CMVM...http://www.dinheirovivo.pt/Mercados/Artigo/CIECO329670.html

"Carlinhos" é fixe. Nem a minha mãe me trata assim

Miguel Abrantes disse...

Desde a década passada (do tempo do Queijo Limiano) que nos tratamos assim: Carlinhos para aqui, Miguel com aspas para ali.

Carlos Rodrigues Lima disse...

do tempo do quê?