• João Galamba, O elefante na sala:
- «Quem não gosta do manifesto e das suas propostas só tem uma opção: aceitar a interpelação dos seus 70 subscritores e apresentar uma solução melhor. No famoso prefácio do seu "Roteiros VIII", Cavaco Silva anunciou ao país que as atuais políticas são para manter durante mais 20 anos e pediu um consenso em torno desse calvário. O consenso apareceu; só não era o consenso que o presidente tinha pedido. Perante o cenário desolador apresentado pelo presidente, 70 personalidades subscreveram um manifesto que parte do pressuposto de que a estratégia que está pensada para o País é económica, social, financeira e politicamente insustentável. Perante isto, como é evidente, torna-se necessário uma alternativa, que, segundo os subscritores do manifesto, tem de passar pela reestruturação da dívida pública, sem a qual não será possível libertar os recursos necessários para garantir o desenvolvimento económico e social do país, condenando Portugal e os Portugueses a um empobrecimento permanente.
As reações não demoraram a aparecer. Ataques pessoais, acusações de anti-patriotismo - tudo serviu para atacar o manifesto, mas, sobretudo, quem o subscreveu. Aparentemente, dizer que o rei vai nu e que é preciso uma alternativa é pecado, um crime de lesa-pátria. Passos Coelho chegou mesmo a referir-se aos subscritores - que incluem nomes como os de Adriano Moreira, Manuela Ferreira Leite, Bagão Félix, Ferro Rodrigues, Francisco Louçã, Carvalho da Silva, António Saraiva (CIP) - com o epíteto "essa gente".
Os críticos do manifesto podem achar que a proposta é arriscada ou até mesmo errada; o que não podem fazer é ignorar o elefante na sala e fingir que está tudo bem. Essa posição, sem mais, redunda numa defesa implícita da atual estratégia, que os subscritores do manifesto consideram insustentável. Uma crítica séria ao manifesto deve contrariar o ponto de partida dos seus 70 subscritores, isto é, a ideia de que a estratégia que está em cima da mesa e que tem sido defendida pelo Governo não é insustentável. Curiosamente, não vi nenhum dos críticos tentar sequer fazer este exercício. Assumem, sem argumentar, que não há alternativa. Como é evidente, isto é uma não-resposta.
Passos Coelho, justiça lhe seja feita, foi um pouco mais longe e tentou defender as suas opções, apresentando números. Acontece que os números do primeiro-ministro dão razão aos subscritores do memorando. De acordo com um texto do economista Ricardo Pais Mamede no blog Ladrões de Bicicletas, o cenário avançado por Passos consegue três proezas: viola o tratado orçamental (o ritmo de descida da dívida é três vezes inferior ao previsto), tem uma probabilidade de acontecer próxima de zero e, mais ainda, consegue ser bastante optimista. Se o objetivo de Passos era o de assegurar a credibilidade e sustentabilidade da sua estratégia, este não é seguramente o caminho.
Por tudo isto, o máximo que os críticos do manifesto conseguiram fazer foi regressar à casa da partida, isto é, a uma situação insustentável que carece urgentemente de uma resolução. Quem não gosta do manifesto e das suas propostas só tem, portanto, uma opção: aceitar a interpelação dos seus 70 subscritores e apresentar uma solução melhor. Até que isso aconteça o manifesto "Preparar a reestruturação da dívida para crescer sustentadamente" é a única proposta séria que existe.»
5 comentários :
Um dos que no PS não anda a dormir e que há muito percebeu a necessidade da reestruturação.
Compare-se o que diz GAlamba, com o que diz Costa recém-contratado pelo CM e que ainda há dias na Quadratura do Círculo foi ultrapassadíssimo pela esquerda através de Pacheco Pereira que disse do jornalismo económico e da recepção ao Manifesto aquilo que António Costa não foi nem é capaz de dizer.
Mal anda Seguro ao tentar afastar Assis para a Europa e Costa para Belém. Tudo gente que não faz falta nenhuma ao partido.
Subscrevo na íntera o que escreve João Galamba.
O País e o PS necessitavam de mais vozes que se comportassem como ele nas palavras e nos atos.
Infelizmente vão sendo cada vez menos. Não dá para entender.
Corvo Negro, "Não dá para entender"? Que raio de perspectiva. Quem eram antes no PS os que se comportavem como Galamba "nos actos e palavras"?
Galamba e mais uns quantos são a novidade, num partido que anda há anos cheios de costas e assises e gente tão má ou pior.
Mais triste foi o PS ter assinado o tratado orçamental.
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