Extracto de e-mail de Fernanda Leitão, que nos escreve do Canadá:
- «O Festival do Cinema Francófono deu a oportunidade aos portugueses residentes em Toronto de verem o filme GAIOLA DOURADA, com legendas em inglês. As duas sessões saldaram-se por outras tantas enchentes e no final, os aplausos foram fartos, sentidos e gratos por haver uma organização a lembrar-se de proporcionar aos emigrantes um bom filme. Porque, como ficou selado por uma secretária de estado das Comunidades, do PSD, há anos, os emigrantes portugueses distribuem-se pela Europa, África e o Resto do Mundo. Parece gozação, mas o rótulo foi posto a sério e o Canadá lá ficou embrulhado nesse resto de mundo. Depois, como a dama e o partido levaram muitas varadas nas orelhas por causa da criativa grosseria, meteram os pés pelas mãos, corrigiram, mas na prática somos mesmo resto do mundo aos olhos de quem nos leva as remessas das poupanças e nos dá em troca uns sobejos de atenção. Tudo isto porque, minimizando os cinco milhões de portugueses expatriados e pondo os ovos todos na cesta esburacada da União Europeia, nunca houve um governo que fundasse o Ministério da Emigração e o entregasse a pessoas competentes e responsáveis, de modo a garantir uma unidade entre o país e a diáspora. Isso teria evitado muitos dissabores a Portugal, designadamente credores estrangeiros, bancos nacionais controversos e, naturalmente, o risco da perda de soberania. Os sucessivos governos nunca perceberam a emigração e, somadas as contas, deram a preferência aos empresários que não saíram de Portugal, alguns dos quais já passaram as suas sedes para a Holanda e outros países, ao mesmo tempo que vão engordando as off-shores. Ninguém lhes chama traidores, todos se calam a isto de os poderes públicos continuarem a tratar os emigrantes como portugueses de segunda. Esta história vai acabar mal e não tarda muito.
(…)
Confesso que tenho um fraco por Fellini e acho que ele deixou sérios avisos à Igreja, no ROMA, e à Europa, no ENSAIO DE ORQUESTRA. Hoje sinto que este filme francófono sobre uma comunidade também traz consigo um recado: o da força da diáspora portuguesa. A força da sua alma. Essa, nenhum governo a pode tirar.»
5 comentários :
Tem toda a razão. Continuamos a ser os parentes pobres da pátria. E só se lembram de nós, quando as coisas vão mal lá pelo jardim à beira mar plantado. E mesmo assim somos ontensivamente ignorados. Exemplos?
Há muitos, mas vamoslá basta um só.
A comunicação social farta-se de falar no pseudo exito dos vistos gold. São artigos atrás de artigos.
No entanto, as remessas dos emigrantes no valor de 3 mil milhões de euros, tiveram direito a umas miseras linhas na CS.
Continuamos a ser os bastardos da patria!
Fernanda Leitão, apesar de ausente, continua atenta ao que vai acontecendo por cá. Tem toda a razão quando se refere aos nossos emigrantes: 5.000.000 deviam merecer mais atenção por parte do Governo. E porque não um Ministério da Emigração?
Devido à minha atividade profissional, Transp. Import/Expot, tive oportunidade de conhecer muitos portugueses em colónias de emigrantes de muitos países, onde conheci alguns que eram autênticos embaixadores de Portugal fora do mundo oficial, a que raramente damos a devida importância e reconhecimento. Sempre ouvi nessas paragens as mais severas críticas às nossas representações diplomáticas. Conheci um em Toronto, de quem fui amigo, que me marcou, a tal ponto que cheguei a pensar em enviar carta à presidência da República para conhecerem o papel que desempenhava, na minha opinião merecedor de uma distinção num 10 de Junho. Estou quase certo que o conheceu. Chamava-se Mário Coelho Tomaz, da Portuguese Book Store, Oxford St. - Toronto, cuja vida dava um filme, e quem sabe se a Fernanda Leitão ainda vem a escrever um artigo sobre ele. Mais por espírito de missão do que comercial, fazia chegar a imprensa escrita portuguesa, literatura, livros escolares, música portuguesa a todos os cantos do Canada, também teve uma rádio, etc.. Era anfitrião de artistas portugueses e outras figuras públicas importantes, a muitos pagou estadias, alguns meteram pernas a caminho do aerop. de regresso a Portugal e nem dele se despediam. Um emigrante que foi um autêntico embaixador de Portugal. SE eu tivesse o dom da escrita e da criatividade faria dele uma das personagens principais de uma história sobre a diáspora, tragédia do nosso povo. Metade da população portuguesa condenada a viver fora de portas merecia, de facto, um Ministério para apoiar os emigrantes e contribuir para acabar com a ideia de que não cabemos todos cá dentro. O que convém sempre aos mesmos bandos e gangues.
Gostei muito do seu artigo.
Bem hajam pelos vossos comentários.
EVARISTO FERREIRA - ser português é esta inquietação permanente, mesmo a milhares de kms da Pátria.
FERNANDO ROMANO - o Mário Tomaz foi das primeiras pessoas que conheci em Toronto, precisamente por ser ele quem distribuia os jornais portugueses. Essa velha casa, junto à rua Augusta de tão grandes recordações para os portugueses que aqui aportaram há mais de 50 anos, mudou para uma rua a norte da cidade e é hoje uma muito bonita e bem servida livraria, dirigida pelos filhos do Mário Tomaz. Tem toda a razão, o MT, e alguns outros que deram tanto de si à comuniade, merecem ficar registados para a posteridade.
Peço desculpa pelo lapso: na mensagem anterior, distraidamente, carreguei no botão do anónimo.
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