• Miguel Sousa Tavares, O REGRESSO DO FANTASMA [hoje no Expresso]:
- «1. (…) Até que rebenta o escândalo da falência do banco e a terrível decisão de o nacionalizar, e descubro que por trás, ou ao lado, do pai e filho e da gente desconhecida, estava a fina flor do cavaquismo e do PSD. You name it: Arlindo de Carvalho, Dias Loureiro, Duarte Lima, Rui Machete e vários outros que, escavando, emergiam. Para não falar do próprio Cavaco Silva, cujo envolvimento — apenas como "cliente normal", note-se — foi devidamente esclarecida, como se sabe, em tempo oportuno. Descobri, descobrimos todos, que entre actividades a favor do banco ou deles próprios individualmente, havia suspeitas sobre negócios obscuros em Porto Rico, um banco escondido em Cabo Verde, papéis escondidos atrás de um autoclismo, milhões concedidos para uma urbanização ainda não prevista nem autorizada e até uma velha e rica senhora assassinada nos subúrbios do Rio de Janeiro. Uma história de pasmar.
(…) Só temos a certeza de uma coisa: de que esta aventura bancária de alguns notáveis do PSD nos custará, pelo menos, 7000 milhões de euros — o mesmo que um ano de juros da dívida, quase o mesmo que o orçamento da Saúde. Se tivesse um pingo de vergonha, o PSD nunca mais pronunciaria o nome BPN.
2. A célebre "almofada financeira", que o Governo tão orgulhosamente agita e que, segundo diz, nos permitirá até voltar aos mercados depois de uma "saída limpa" (substituindo-se ao programa cautelar que visivelmente Bruxelas não quer garantir), dá muito que pensar.
(…) entre foguetório e auto-elogios, "fomos aos mercados", para testar a sua confiança em nós e começar a encher a dita almofada financeira, aparentemente fomos buscar dinheiro de que não precisávamos e, sobretudo, antes de tempo. E fizemo-lo, "aproveitando" a descida das taxas de juro a dez anos até aos 6,0-6,5%. É como se eu, querendo comprar uma casa para o ano, fosse já pedir um empréstimo ao banco e ficasse a pagar durante um ano juros de dinheiro que não estava a utilizar. Dir-me-ão que foi uma medida prudente — que é o mesmo que dizer que não podíamos confiar em Bruxelas quando se acabasse o programa de assistência, nem podíamos confiar na melhoria da nossa situação financeira, com reflexos nos mercados. Pois, talvez tenha sido, mas, desculpem-me a impertinência: a função dos "especialistas" é prever o que vai acontecer ou exceder-se em cautelas? É que, actualmente, os juros estão a 3,9% e teríamos poupado uma fortuna se tivéssemos guardado os foguetes e só agora fôssemos aos mercados. As "boas notícias" da altura custam-nos hoje 435 milhões por ano em juros. Não ocorreu ao dr. Durão Barroso dizer ao dr. Vítor Gaspar que esperasse antes de ir aos mercados?»
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