• Fernanda Câncio, Estado quase novo:
- «(...) Nada disto é novidade, tendo em vista o que se ouve em fóruns radiofónicos e televisivos? Certo, mas evidência científica é outra coisa. Concluir disto o quê? O típico colunista/taxista português assacará, enojado, a "culpa" aos "políticos", essa raça de malandros que, claro, só medra na democracia (Salazar devia ser limpa-chaminés) e "deu cabo dela". Eu, perdoem, culpo a democracia. Esta nostalgia vingativa, que valoriza um passado miserável para desvalorizar o presente, esta espécie de iliteracia dos direitos é, paradoxalmente, obra dela. Mudou-nos tanto e tão completamente, fez--nos tão outros, tão outro País, permite-nos tomar tanta coisa por certa que já não somos, como comunidade, capazes de imaginar (ou lembrar, que é imaginar) o que é estar ou ser sem. Voltar atrás é tão impensável que podemos até brincar, namorar com isso.
Cuidado, porém: todos os impensáveis sucedem também por ninguém acreditar que sejam possíveis. Os impensáveis bons, como o 25 de Abril, e os outros.»
2 comentários :
Não há máquinas de regresso ao passado,mas se existissem e fosse possível durante uma sem todos nós, os que ainda estamos vivos, qualquer que seja a idade actual, regressar durante uma semana de 23 de Abril a 3 de Maio, 1974, como simples espectadores, ver-se-ia quão cinzentos e de vida medíocre e temerosa são os dias de hoje, quão semelhantes são aos de 1958 ou 1969, quão distantes estão dos sonhos de Abril em Maio de 1974/1975, em que o futuro para a maioria parecia estar ali, ao virar da esquina e no sorriso duma criança.
Muito bem, Fernanda Câncio.
Uma pena sem dúvida muito inteligente.
É uma pena não saber, contudo, tocar-nos também a alma - importante sobretudo no caso dos menos inteligentes.
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