sexta-feira, maio 30, 2014

Défice democrático

• Pedro Silva Pereira, Défice democrático:
    «(…) Depois de uma manifestação tão clara de protesto dos eleitores europeus, o pior que podia acontecer seria os responsáveis políticos entrarem em "estado de negação", como se nada de especial se tivesse passado. Infelizmente, a julgar pelos primeiros comentários de Jean-Claude Juncker, Ângela Merkel e Durão Barroso, parece ser esse o caso. Mas ninguém terá ido tão longe na negação das evidências como o primeiro-ministro português. Disposto a desempenhar até ao fim o seu papel subalterno ao serviço da desastrosa linha austeritária que tem vindo a comandar a Europa nestes últimos anos, Passos Coelho parece disposto não só a ignorar olimpicamente a sua própria derrota, de proporções históricas, como parece decidido a fingir que não vê o generalizado voto de protesto que se expressou em termos tais que têm de entender-se como uma grave ameaça ao futuro do próprio projecto europeu.

    Veja-se a extraordinária análise que Passos Coelho nos propõe sobre tudo isto: "Se se isolar o que se passou em França e no Reino Unido, a observação de que houve um crescimento anormal de movimentos anti-europeístas, eurocépticos ou da extrema-direita" não se pode "extrair". A sugestão, reconheça-se, é notável. Tão notável que apetece perguntar: como é que ninguém se tinha lembrado disto antes? Afinal, é muito simples: se nos recusarmos a ver a realidade, isto é, se pusermos de parte (!) dois esteios essenciais da construção europeia, nada menos do que a França e a Inglaterra, onde a extrema-direita não apenas cresceu mas por acaso até ganhou (!!), com 25 e 26% dos votos, respectivamente, não se passou quase nada de "anormal".

    E, de caminho, para resolver com inteira coerência esse problema do "quase", basta "isolar" também - isto é, simplesmente não querer ver - o que se passou na Grécia. E, já agora, na Bélgica, na Holanda, na Itália, na Hungria, na Croácia, na Suécia, na República Checa, na Polónia e em todos os outros países em que saíram reforçados os partidos políticos ditos "soberanistas" ou anti-europeus, de diversa coloração política e variado grau de populismo.

    Houve tempos em que o défice democrático da União Europeia era uma questão essencialmente de arquitectura institucional. Agora, num Parlamento Europeu reforçado, é antes do mais uma questão puramente política que questiona a distância entre as políticas europeias e a vontade expressa dos cidadãos. E uma coisa é certa: uma democracia que não dá ouvidos ao povo está a traçar o seu próprio destino.»

3 comentários :

Anónimo disse...

Portanto, a ver se nos entendemos: PSP candidatou-se e foi eleito por um partido não eurocéptico mas não parece nada disposto a combater o euro-cepticismo. É isso?

Gargonar disse...

E como se discute o euro-cepticismo anónimo? Desvalorizando a realidade certo? É como o desemprego, martelam-se uns dados que mesmo assim são uma merda monstruosa e faz-se a festa.

Olimpico disse...


Quando esta Europa der ouvidos ao POVO, tenho a certeza, que voltaremos a ter a Europa da Solidariedade, dos trabalhadores, da democracia e da liberdade!!!