sexta-feira, julho 18, 2014

Entre o "máximo" de flexibilidade de que fala Juncker
e o "máximo" de austeridade em que insiste Merkel,
há uma escolha para fazer e um dos dois triunfará

• Pedro Silva Pereira Tudo ou nada:
    «Sob pressão dos socialistas europeus e do primeiro-ministro italiano Matteo Renzi, o novo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, reconheceu esta semana, diante do Parlamento Europeu, que é preciso aproveitar "ao máximo" a flexibilidade permitida pelas regras orçamentais europeias. É uma boa notícia: o centro-direita está dividido como nunca quanto à austeridade e Ângela Merkel está cada vez mais isolada.

    Quatro aspectos merecem especial destaque no importante documento programático de orientação política, intitulado "um novo começo para a Europa", que Juncker apresentou esta semana no Parlamento Europeu. Em primeiro lugar, o reconhecimento, preto no branco, e logo na primeira frase do documento, da verdade elementar que por cá muitos ridiculamente se esforçam por esconder: "A Europa sofreu, nos últimos anos, a pior crise económica e financeira desde a Segunda Guerra Mundial". Depois, o anúncio de que será apresentado, nos primeiros três meses de mandato da nova Comissão, conforme era exigência dos socialistas, um plano de investimento público e privado para o crescimento e o emprego no valor de 300 mil milhões de euros nos próximos três anos. Em terceiro lugar, a identificação de um conjunto certeiro de prioridades de investimento (que não podem deixar de fazer lembrar o nosso Plano Tecnológico, lamentavelmente interrompido pelo Governo actual): educação, investigação e inovação; novas tecnologias; redes de banda larga e mercado único digital; redes de energia, energias renováveis e eficiência energética; infra-estruturas de transporte; sectores industriais estratégicos e combate à burocracia. Finalmente, como acima referido, o anúncio de que serão divulgadas "orientações concretas" no sentido de aproveitar "ao máximo" (sic) a flexibilidade permitida pelas regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento, de modo a favorecer a "utilização dos orçamentos nacionais a favor do crescimento e do investimento".

    Sintomaticamente, estes promissores compromissos políticos foram assumidos na mesma semana em que Ângela Merkel emitia uma mensagem em sentido rigorosamente contrário, a pretexto da crise no Grupo Espírito Santo: "O exemplo de um banco português mostrou-nos nos últimos dias como os mercados se agitam, como a incerteza volta rapidamente e como ainda é frágil a construção do euro (...). Se nos afastarmos agora das regras, por exemplo ao nível do Pacto de Estabilidade e Crescimento, e de tudo (sic) o que fizemos para estabilizar o euro, podemos muito rapidamente entrar numa situação em que nos começamos a afundar". Indiferente aos sinais de fracasso e ao enorme retrocesso económico e social dos últimos anos, Merkel parece disposta a insistir na receita errada da austeridade para superar a óbvia fragilidade da recuperação verificada nos mercados em vez de fazer, finalmente, o que deve ser feito: reforçar as razões de confiança na capacidade de crescimento da economia e instituir os mecanismos ainda em falta para defender capazmente a zona euro da especulação financeira nos mercados de dívida soberana.

    Já não é possível disfarçar: há hoje dois discursos políticos conflituantes no interior do próprio centro-direita. Entre o tudo e o nada, entre o "máximo" de flexibilidade de que fala Juncker e o "máximo" de austeridade em que insiste Merkel, há uma escolha para fazer e um dos dois triunfará. Desse confronto depende o sucesso da viragem prometida pelo novo líder da Comissão e, consequentemente, o futuro da convergência política com a família socialista europeia que está a usar toda a sua influência para impulsionar este movimento de mudança.»

2 comentários :

Anónimo disse...

Há de facto neste momento, nos centros decisores da europa, uma luta renhida entre os que perceberam há muito que a austeridade não está a resultar e os que, cegos, não vem mais nada para além da austeridade redobrada...para os outros!
Partindo do principio que os governos de cada pais deverão fazer as escolhas que melhor servem as suas populações, sobretudo a nivel internacional, que estamos á espera para trancar os actuais governantes na prisão por traição á pátria e rapidamente os substituirmos por verdadeiros portugueses?!

Anónimo disse...

Vamos lá Silva Pereira, deixa-te de rodriguinhos. Não há pachorra.
"...Entre o tudo e o nada..." .Diz-nos lá tu quais são as escolhas efectivas, quais as opções que importam e quia as nuances.Estas demasiado táctico para o meu gosto ...desde que foste para Bruxelas. Qualquer dia ficas enredado em rodriguinhos ideológicos como o Assis. E já não há pachorra.