terça-feira, julho 22, 2014

O problema do PS é político,
por mais que o queiram converter numa novela

• Sérgio Sousa Pinto, O problema do PS é político, por mais que o queiram converter numa novela:
    «(…) A chorosa novelização do problema político do Partido Socialista não resiste aos factos, duros como punhos, de três anos de oposição medíocre, hesitante e no geral errática e inepta. Esse é o problema. Puramente político.

    O novo PS do "eu quero", "eu avisei" e dos "eus" em geral estava geneticamente condenado por um erro de análise: concordava com a teoria da direita sobre as causas da crise e, logo, com muito da sua terapêutica. Foi assim que os rombos inaugurais infligidos no contrato social europeu, também vigente em Portugal, foram acompanhados do lado do PS pela tese da "dose" de austeridade. Esta última era excessiva, asseverava o PS, com milimétrico sentido de medida.

    Veio o Orçamento do Estado para 2012. O PS absteve-se. Porquê? Porque não era fácil distanciar-se de políticas com as quais no essencial, naquela fase, concordava. Era a época da discreta lua-de-mel entre o Governo e a direção do PS. Acresce que a cúpula da UGT e a "linha mole" do seu secretário-geral fizeram uma OPA sobre a direção do PS. A UGT que tinha oferecido ao Governo - no momento mais aceso da agressão aos trabalhadores por conta de outrem e aos reformados - um acordo de concertação que, até a data, nunca chegou a denunciar. Imagino que a conversão do PS à "moderação" e ao "sentido de responsabilidade" tenha abrilhantado a UGT aos olhos do Governo. Lembro-me de que na votação me levantei no plenário para denunciar esta traição ao mundo do trabalho. Terá sido outro caso que os cientistas do ego avaliarão.

    Digno também de ser recordado é o episódio do pedido de fiscalização sucessiva da constitucionalidade de certas disposições do Orçamento, designadamente a matéria dos cortes nas pensões e da supressão dos subsídios de férias e de Natal. A direção do partido foi frontalmente contrária a essa iniciativa e exerceu tal pressão sobre os deputados do PS, que houve que procurar algumas assinaturas na bancada do Bloco. Sem a firmeza intransigente de uns quantos deputados socialistas nunca teria havido intervenção do Tribunal Constitucional, que o deserto político acabaria por converter na principal esperança da oposição social ao Governo.

    Entrámos, então, no ciclo da abstenção violenta, de que nunca mais saímos. Depois, veio o acordo de regime patrocinado por Cavaco Silva. O precioso convénio amarraria o PS ao programa austeritário, a troco de eleições antecipadas, que o PS putativamente venceria, prolongando-se o convénio num bloco central capitaneado pelo líder do PS e primeiro-ministro - e ungido pelo Presidente. Mas Mário Soares - sozinho - deitou o sonho ao fundo.

    Será ainda preciso recordar outro momento alto do desnorte socialista: o único entendimento que o PS considerou irrecusável com a direita, em três anos, foi o desagravamento da tributação sobre os lucros das empresas. (…)»

9 comentários :

Rosa disse...



Análisa lúcida de Sérgio Sousa Pinto!!

Anónimo disse...

Este triste PS, estribado no grande aparelho que rejeitou Assis que pensava demais e elegeu há 3 anos o grande líder AJA, o "opositor" homólogo da dupla PPS-Relvas(todos bons amigos de juventude, é basicamente uma agremiação de medíocres, de gente ressabiada e de má consciência, que Sócrates e a sua casta nunca conseguiu triar, nem impedir de se infiltrar e trepar. Porque o debate de valores e ideias e a boa gestão do partido foram deixados para trás. Na sua oposição tacticista e seguidista, AJA e o seu PS abandonaram os portugueses à sua sorte, aos abutres e ao massacre ideologico. O discurso vazio mas afirmativo de AJA, do "eu quero", "eu avisei", "como eu disse" dos "eus" em geral,virou indigência. Para cumulo, nunca faz uma intervenção comicial, sem aquelas inflexões pseudo-entusiásticas, ridículas e postiças de alguém que, não sente nem acredita em nada de substancial do que possa dizer. Qual pássaro na gaiola neo-radical, sempre concordou com a teoria da direita sobre as causas da crise: o despesismo do Estado Português, onde muitos dos seus apoiantes ou tolerantes (antes do lado de Sócrates, pois claro), mamaram, espatifaram e mal geriram despudoradamente, cavalgando divida. Sempre se reviu na terapêutica inevitável da direita, desde logo no rasgar do já fraco contrato social vigente em Portugal, sendo apenas mais santinho quanto à "dose" da austeridade. Continua à espera que o poder lhe caía no colo, no meio do rio de pobreza, sofrimento e desmantelamento, afinal inevitável e purificador, que algum tem de perpetrar ... e é bom que estes façam tudo o que há a fazer para depois podermos vir como salvadores. Esta foi e é a teoria miserável desta gente.

Anónimo disse...

Vejam as diferenças de estilo, de ética e de argumentação apenas hoje no Publico. De um lado, o Brilhante Dias e o seu texto medíocre, azedo, ad hominem,fulanizado e nulo no que respeita a ideias para rebater a onda crescente no apoio a Antonio Costa. Podia ter sido o Passos ou o Relvas a redigi-lo. Do outro lado, uma reflexão séria, factual, politica sobre o percurso desta liderança, revelando o compromisso de AJS e seus companheiros de direcção relativamente às politicas de austeridade e de empobrecimento seguidas por este governo. Sergio Sousa Pinto, sem necessidade de recorrer a linguagem carroceira do Brilhante Dias, põe a nu todas as fragilidades da actual liderança do PS e o seu alinhamento com o essencial das medidas tomadas pelo executivo do PSD+CDS. O ainda Secretario Geral do PS tem sido uma desgraça para o partido e os resultados eleitorais e das sondagens estão à vista. Se, paradoxalmente, vencer esta corrida com Costa, estou convicto de que nas próximas legislativas o PS n passará dos 20 por cento. É o fim!

Baltazar Correia Garção disse...



Lapidar.


Como, aliás, poderiam ser DEZENAS de outros Artigos semelhantes, tanta é a matéria política sobre a qual Ant.º José Seguro (e a sua clique de incapazes) é passível de críticas DEMOLIDORAS.

Anónimo disse...

Bela parelha, Seguro e Relvas.

Anónimo disse...

O recurso a ataques pessoais e calúnias foi o que vimos durante os anos do Governo Sócrates, perpretado pela nossa 'brilhante' direita. Seguro, Brilhante & Cª são os seus fieis seguidores . Queremos mais deste lixo? EU NÃO QUERO!

Morgado De Basto disse...


Sérgio de Sousa Pinto,não nos revelou o terceiro milagre de Fátima,mas trouxe-os o essencial da verdade Histórica do que tem sido a "liderança" política do Partido Socialista nos últimos tês anos!

Faço votos de que a verdade dos fatos acima referida,seja por muitos outros responsáveis Socialistas,sem cansaço,lembrada e entoada até à exaustão.E assim,nos possamos livrar da irresponsabilidade e do oportunismo carreirista(para não lhe chamar coisa pior)que tomou em suas malfadadas mãos o Maior Partido Político Português!

O Boticário disse...



Eu acho que NINGUÉM QUER, tirando a facção da Botica...

Conde de Oeiras e Mq de Pombal disse...



Este incisivo Artigo de Sérgio Sousa Pinto é apenas o primeiro da longa série que será necessário escrever sobre o assassinato do PS perpetrado pelo caudilho que neste momento o comanda.


E o aspeto crucial a dissecar é mesmo este: o advento do perigoso conceito de Poder individualizado e o fim da democraticidade interna do Partido Socialista, que fere de morte o núcleo duro das suas bandeiras políticas.