Tendo descoberto recentemente que a «economia precisa de um motor», António José Seguro apresentou em Maio «um plano de reindustrialização», do qual consta «um terceiro [eixo] mais inovador que tem a ver com a revolução industrial da era digital 4.0» para tirar partido da «vantagem competitiva» do país: «O custo de investigação e desenvolvimento em Portugal é, em média, um terço da Alemanha.» Aproveitar os baixos salários como na Índia.
É assim que se inicia a entrevista de António José Seguro ao Diário Económico. Ele avisa logo os leitores que, «se estão à procura de um mágico, saio já de cena». Mas não sai. Fica para defender o Tratado Orçamental e «pagar cada cêntimo» em dívida. E se pede «mais tempo não é por ser laxista ou por achar que, ganhando tempo, aldrabamos os credores.» Para isso, o ainda secretário-geral do PS garante, a par da criação de «condições para que a economia gere receitas que vão chegar também ao próprio Estado», «mão de ferro na gestão da despesa». E a verdade é que a autodenominada «mão de ferro» se faz já sentir: questionado sobre «a possibilidade de aumentar impostos ou de fazer cortes salariais», Seguro garante que não aumentará impostos, mas nem uma palavra pronuncia sobre os cortes salariais.
Ressalta da entrevista que Seguro se revelou sempre disponível para colaborar com o Governo: «há mais de três anos, em Julho de 2011, disse-lhe que havia um universo de temas onde era desejável uma convergência.» Exemplifica: «disse sempre que estávamos disponíveis para acelerar o processo de convergência entre a Caixa Geral de Aposentações e a Segurança Social.»
É dado na entrevista um outro exemplo do desejo de cooperar com o Governo: «recordo que, em Novembro de 2011, quando o primeiro-ministro descobriu o desvio colossal, disse-lhe que estava disponível para acompanhar cada cêntimo desse desvio». Perante a perplexidade dos próprios jornalistas de economia que o entrevistam — «E existia esse desvio colossal?» —, Seguro reproduziu a falsidade de Passos Coelho (da qual até Vítor Gaspar se demarcou): «Fizemos duas reuniões, mas não certificámos o novo valor, apesar de haver uma diferença em relação às contas de Abril.» Convém avivar a memória de Seguro, advertindo-o de que o único desvio após a aprovação das contas portuguesas por Bruxelas se ficou a dever à ocultação do buraco da Madeira por parte de Alberto João Jardim.
Erro colossal cometeu Passos Coelho ao não ter percebido a comoção que se apoderava de Seguro quando era chamado a São Bento.
Mas esta sintonia com o Governo de Passos & Portas não resulta de o país passar por uma situação complicada. Tem raízes mais profundas. Tal como a direita, Seguro fala da «década perdida», ignorando que o crescimento foi interrompido pela maior crise dos últimos 80 anos (para não falar do progressos no âmbito da educação e da saúde e da diminuição das desigualdades): «se olharmos para a última década, vemos que o crescimento económico foi anémico.» E também como a direita faz, Seguro atribui às «políticas expansionistas», e não à crise internacional, os problemas de consolidação orçamental, omitindo que foi o Governo do PS que obteve o mais baixo défice da democracia portuguesa.
António José Seguro tem uma narrativa colada com cuspo. Sobre qualquer tema, não está em condições de responder a uma segunda pergunta. Acontece, por exemplo, com a reforma do Estado. Embatucou quando confrontado com a reforma das autarquias locais.
Mas há «temas» em que António José Seguro muda subtilmente de posição como se tivesse sempre defendido o que agora proclama. Em relação à populista reforma do sistema eleitoral, introduz hoje o «círculo de âmbito nacional» de que se esquecera de falar antes. Em relação à política europeia, com a derrocada de Hollande, muda o foco de alianças que alinhavara aquando de uma badalada visita ao Palácio do Eliseu: «Portugal precisa de aliados em todas as famílias políticas.»
E em relação a outros «temas», Seguro diz agora que disse o que ninguém ouviu: «É sabido [sic] que, na altura certa, chamei a atenção para muitos erros que o anterior Governo estava a fazer.» Deve ter acontecido por estar sentado na sexta fila do hemiciclo.
Quando se esperaria de António José Seguro um discurso que mobilizasse o eleitorado para uma maioria sólida, eis que o ainda secretário-geral do PS se satisfaz se conseguir promover um governo de coligação: «a responsabilidade do líder do partido mais votado é procurar no Parlamento as condições para obter uma coligação de Governo.»
António Costa deu ontem uma entrevista ao Diário Económico. Hoje foi a vez de António José Seguro. Quem ler ambas as entrevistas não pode continuar a sustentar não haver diferenças entre Costa e Seguro. Não é apenas a capacidade de liderança que os distingue. Um tem lastro, o outro não. Um fez um diagnóstico da crise ancorado numa análise séria da realidade, o outro deambula ao sabor das conveniências da direita. Um tem um conjunto articulado de propostas, o outro traz umas ideias desirmanadas pescadas aqui e acolá. Diria que é quase ofensivo compará-los.
É assim que se inicia a entrevista de António José Seguro ao Diário Económico. Ele avisa logo os leitores que, «se estão à procura de um mágico, saio já de cena». Mas não sai. Fica para defender o Tratado Orçamental e «pagar cada cêntimo» em dívida. E se pede «mais tempo não é por ser laxista ou por achar que, ganhando tempo, aldrabamos os credores.» Para isso, o ainda secretário-geral do PS garante, a par da criação de «condições para que a economia gere receitas que vão chegar também ao próprio Estado», «mão de ferro na gestão da despesa». E a verdade é que a autodenominada «mão de ferro» se faz já sentir: questionado sobre «a possibilidade de aumentar impostos ou de fazer cortes salariais», Seguro garante que não aumentará impostos, mas nem uma palavra pronuncia sobre os cortes salariais.
Ressalta da entrevista que Seguro se revelou sempre disponível para colaborar com o Governo: «há mais de três anos, em Julho de 2011, disse-lhe que havia um universo de temas onde era desejável uma convergência.» Exemplifica: «disse sempre que estávamos disponíveis para acelerar o processo de convergência entre a Caixa Geral de Aposentações e a Segurança Social.»
É dado na entrevista um outro exemplo do desejo de cooperar com o Governo: «recordo que, em Novembro de 2011, quando o primeiro-ministro descobriu o desvio colossal, disse-lhe que estava disponível para acompanhar cada cêntimo desse desvio». Perante a perplexidade dos próprios jornalistas de economia que o entrevistam — «E existia esse desvio colossal?» —, Seguro reproduziu a falsidade de Passos Coelho (da qual até Vítor Gaspar se demarcou): «Fizemos duas reuniões, mas não certificámos o novo valor, apesar de haver uma diferença em relação às contas de Abril.» Convém avivar a memória de Seguro, advertindo-o de que o único desvio após a aprovação das contas portuguesas por Bruxelas se ficou a dever à ocultação do buraco da Madeira por parte de Alberto João Jardim.
Erro colossal cometeu Passos Coelho ao não ter percebido a comoção que se apoderava de Seguro quando era chamado a São Bento.
Mas esta sintonia com o Governo de Passos & Portas não resulta de o país passar por uma situação complicada. Tem raízes mais profundas. Tal como a direita, Seguro fala da «década perdida», ignorando que o crescimento foi interrompido pela maior crise dos últimos 80 anos (para não falar do progressos no âmbito da educação e da saúde e da diminuição das desigualdades): «se olharmos para a última década, vemos que o crescimento económico foi anémico.» E também como a direita faz, Seguro atribui às «políticas expansionistas», e não à crise internacional, os problemas de consolidação orçamental, omitindo que foi o Governo do PS que obteve o mais baixo défice da democracia portuguesa.
António José Seguro tem uma narrativa colada com cuspo. Sobre qualquer tema, não está em condições de responder a uma segunda pergunta. Acontece, por exemplo, com a reforma do Estado. Embatucou quando confrontado com a reforma das autarquias locais.
Mas há «temas» em que António José Seguro muda subtilmente de posição como se tivesse sempre defendido o que agora proclama. Em relação à populista reforma do sistema eleitoral, introduz hoje o «círculo de âmbito nacional» de que se esquecera de falar antes. Em relação à política europeia, com a derrocada de Hollande, muda o foco de alianças que alinhavara aquando de uma badalada visita ao Palácio do Eliseu: «Portugal precisa de aliados em todas as famílias políticas.»
E em relação a outros «temas», Seguro diz agora que disse o que ninguém ouviu: «É sabido [sic] que, na altura certa, chamei a atenção para muitos erros que o anterior Governo estava a fazer.» Deve ter acontecido por estar sentado na sexta fila do hemiciclo.
Quando se esperaria de António José Seguro um discurso que mobilizasse o eleitorado para uma maioria sólida, eis que o ainda secretário-geral do PS se satisfaz se conseguir promover um governo de coligação: «a responsabilidade do líder do partido mais votado é procurar no Parlamento as condições para obter uma coligação de Governo.»
António Costa deu ontem uma entrevista ao Diário Económico. Hoje foi a vez de António José Seguro. Quem ler ambas as entrevistas não pode continuar a sustentar não haver diferenças entre Costa e Seguro. Não é apenas a capacidade de liderança que os distingue. Um tem lastro, o outro não. Um fez um diagnóstico da crise ancorado numa análise séria da realidade, o outro deambula ao sabor das conveniências da direita. Um tem um conjunto articulado de propostas, o outro traz umas ideias desirmanadas pescadas aqui e acolá. Diria que é quase ofensivo compará-los.
4 comentários :
um palerma!
Perguntar não Ofende, mas pode esclarecer!!!
1º. Porque raio quer o PSD, António José Seguro Como Secretário Geral do PS?
2º. Costa representa uma forte possibilidade de vitória e até chegar à maioria absoluta, enquanto Seguro representa uma forte possibilidade de derrota.
3º. António Costa é alguém que já provou ser capaz de gerar consensos sem abdicar dos princípios.
4º. Seguro foi um diabinho para Sócrates e um anjinho para Passos, de quem é amigo pessoal e visita familiar e partilhou com Relvas a docência numa cadeira na Universidade ISCEM.
5º. Seguro não tem carisma, não tem consistência, e não entusiasma ninguém nas hostes socialistas, quanto mais fora delas.
6º. Seguro está para Portugal como François Hollande está para a França e fazem discursos “patéticos” que “não conseguem criar empatia nem transmitir a mensagem de que estão convictos de que sabem para onde vão”. http://viriatoapedrada.blogspot.pt/2013/09/opiniao-ferreira-leite-sobre-seguro.html
A cepa donde provêm estes ex-jotas - Passos e Seguro - é a mesma.
Ao que isto chegou.
(No dia 28 de Setembro punirei Seguro)
Ou seja, resumindo rápido e directo: de um lado um estadista consistente(Costa),indutor de esperanças e vontades; do outro um pobre pateta ambicioso, semeador de desânimo e descrença naquelas que deveriam ser (mas não são)as suas hostes...
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