«Costa foi empurrado por quem sentia o lugar em causa», foi o título encontrado para a entrevista que João Proença dá hoje à gazeta do pequeno grande arquitecto. Embrenhado que estará na condução da campanha de António José Seguro, Proença não mediu certamente as palavras. Ou então o topete não tem limites. É que, como o entrevistador destaca, Proença «espera que o vencedor das primárias, seja qual for, dê lugares no partido a quem ficar na oposição interna». Leia-se em discurso directo: «[Seguro] sempre tentou, e bem, assegurar a representação da minoria quando houve luta no interior do partido. Vamos ver como será no futuro.»
A entrevista vale para observar os inequívocos sinais de esgotamento dos combatentes da «província» na sua refrega contra «o poder centrado no Terreiro do Paço». Veja-se:
Para defender a populista «reforma» do sistema eleitoral de António José Seguro, diz o seu director da campanha relativamente à representação da «província»: «os deputados aí já são poucos, pelo que um sistema proporcional não os irá reduzir ainda mais.» Então, a proposta apresenta um corte de 49 deputados, mas Proença garante que o interior não veria reduzida a sua representação parlamentar e, em simultâneo, assegura que seria observado o sistema proporcional? Isto, sim, é falar verdade aos portugueses.
Embalado, o director de campanha prossegue: «Hoje há um descrédito da classe política, ligada a vários fenómenos que incluem casos de corrupção e a confusão entre política e negócios. É urgente que haja mais transparência no exercício da actividade política e fundamental mostrar que em política não vale tudo.» Pela sua própria de experiência na UGT, Proença deveria ser mais cauteloso na apreciação apressada dos casos que marinaram nas prateleiras da Justiça. E esta defesa da separação entre política e negócios seria mais convincente se não partisse de alguém que saltou da cúpula da UGT para a cúpula da AICEP, à qual incumbe promover negócios. Ou se tivesse recusado aceitar o cargo de assessor de Durão Barroso na Comissão Europeia.
De resto, a entrevista não poderá ser vista como uma grande ajuda para Seguro. Proença reconhece que o candidato que apoia sente o terreno a fugir-lhe debaixo dos pés. Ora, questionado sobre a vitimização de António José Seguro, responde: «Não há vitimização, há uma reacção de quem se sente numa situação de dificuldade.» Não há ninguém que não tivesse reparado nisso, mas não havia necessidade de Proença o confirmar.
Logo a seguir, Proença confirma que o cabeça de lista do PS pelo distrito de Braga, «não tendo estado ligado ao Governo de Sócrates», se manteve, portanto, por seis longos anos a vegetar na sexta fila do hemiciclo. António Costa não estaria certamente à espera que a ratificação das suas palavras fosse feita pelo director de campanha de Seguro.
A verdade é que as respostas de João Proença não resistem ao menor confronto com a realidade. Ignora as condições em que foi assinado o memorando com a troika, mas priva-se de referir que António José Seguro, com a «abstenção violenta» no Orçamento do Estado para 2012, se tornou conivente com a política do Governo de Passos & Portas de «ir além da troika», que se traduziu em mais dez mil milhões de euros a dose de austeridade que estava prevista no memorando. E que a UGT, dirigida então pelo próprio João Proença, cedeu em toda a linha aos interesses da direita no Código do Trabalho, uma vez mais indo muito além do que o memorando estabelecia. De novo com a abstenção de António José Seguro no parlamento.
Haveria mais a dizer sobre a entrevista de João Proença. Que, por exemplo, utiliza os argumentos da direita para tentar abafar o espaço de opinião de José Sócrates na RTP. Ou que mistifica os resultados das eleições para as federações distritais do PS. No entanto, o que se retém da entrevista é que o ex-secretário-geral da UGT não perde um minuto para falar, entre outras questões, do drama dos desempregados sem apoios sociais, da precariedade laboral, das crescentes dificuldades de acesso à Saúde, do pandemónio na Justiça e na colocação dos professores da Escola Pública. Ao Governo de Passos & Portas não escapa certamente este gesto de boa vontade por parte da candidatura de António José Seguro.
6 comentários :
Com o Proença na liderança foi mesmo UGT (Um Gajo Tonto). E com o Silva da bigodeira, a coisa não melhorou. Os trabalhadores que se cuidem.
Mais um que poderá ter o tacho prometido a ir ao ar....
E que bem que ficava este gajo , sei lá, como ministro do Trabalho e Solidariedade. Pois não ficava?
E o Martins na Justiça? E o João Soares nos negócios Estrangeiros e....e....???!
Estava tudo tão arranjadinho, pois não estava?
Estou cansado deste espectáculo lamentável e espero bem que termine no próximo dia 28.
É só a escumalha q está com o Inseguro. Nem entendo como o A. Martins dá a cara por essa nulidade e consente estar com essas companhias!
Já falta pouco mas temos de ir votar A. Costa! E cuidado com as chapeladas!
UGT=união de Gente e Tralha!Enquanto a Gente trabalha, a Tralha une-se aos desmiolados.
Mas o que é isto porra ? agora os sindicalistas "responsáveis" e "modernos", "democráticos", "fofinhos", etc... transformaram-se, por via da campanha, nuns "mauzões" ? valha-nos santo antónio...
Enviar um comentário