- «(...) A avaliar pelo seu recente comportamento em campanha, a razão é clara: para declarar aos portugueses, e agora perante o traidor, que foi vítima de uma traição e que, por isso, merece a compaixão dos votantes. Seguro deseja queixar-se do «mal» que outros lhe fizeram. Os outros. Porque a sua pessoa foi simplesmente perfeita. Vejamos: ninguém queria assumir a liderança do partido após a derrota de Sócrates, mas ele, num ato de abnegação e coragem, avançou. É ou não é verdade? É verdade que avançou, mas a dita coragem esconde uma grande mentira. Esteve matreiramente à espera que Sócrates caísse, entre silêncios significativos e dissimulações várias, ovacionou, e de pé, o discurso assassino de Cavaco Silva na tomada de posse e, na noite da derrota do PS, mal pôde esperar por que os jornalistas lhe perguntassem se se declarava candidato à liderança. Ainda o magnífico discurso de Sócrates ressoava na sala e estarrecia os incrédulos e já o homem andava numa agitação de gáudio mal contido nos elevadores do hotel Altis. Dizer agora, como diz, que deu a cara na altura mais difícil é de um descaramento digno de Passos, Relvas, Maduro e Albuquerque. Era o que ele queria há anos, esperando pela oportunidade da maneira mais cobarde possível.
Mas a sua perfeição não acaba aqui. A estratégia de oposição foi também inteligentíssima – consistiu basicamente em concordar, por falta de comparência ou de resposta, com todos os ataques que o Governo, para levar sempre mais longe a destruição do país, lançasse ao seu antecessor. A ausência sistemática de réplica da sua parte acabou por torná-lo cada vez mais parecido com Passos. Foi ou não foi inteligente? Não foi. Foi verdadeiramente estúpido. Não só porque obviamente não construiu nenhuma oposição ao governo, com o qual basicamente concordava, mesmo nas mentiras, como também porque granjeou a oposição da ala mais importante e interventiva da bancada parlamentar, de cuja presença no Parlamento já sabia quando concebeu a sua estratégia. Acresce que, e isto é importantíssimo, mais tarde ou mais cedo, as medidas objetivamente positivas adotadas pelo governo anterior acabariam por ser indiretamente elogiadas e diretamente aproveitadas pelo Governo de Passos, assim como foram elogiadas por organizações internacionais, como ainda recentemente. A inteligente estratégia acabou tão-só por deixar-lhe a cabeça à roda.
Foi neste contexto de desorientação, de incapacidade para se afirmar e de falta de visão e talento para liderar que o natural desafio que lhe foi lançado o conduziu ao caminho da vitimização. Se virmos bem, era o único que lhe restava. Vai insistir nele até se ir embora. Não é bonito de assistir.
- Penélope, Hoje vou-me queixar à Judite
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