Ninguém poderia exigir a Maria de Belém Roseira, sendo jurista, que desmontasse as incongruências do quadro macroeconómico em que assenta o Orçamento do Estado para 2015 (OE-2015), muito embora pudesse mostrar que ele está na linha dos orçamentos anteriores do Governo de Passos & Portas: mais e mais austeridade. Uma austeridade que, desde 2012, ronda 20 mil milhões de euros (entre aumento de impostos e cortes na despesa pública) — em parte travada pelas decisões do Tribunal Constitucional.
Mas, que diabo, ao menos a presidente do PS poderia ter visto os títulos das dezenas de notícias sobre o OE-2015. Teria reparado, por exemplo, que o complemento solidário para idosos e o rendimento social de inserção vão sofrer reduções de 6,7% e de 2,8%, respectivamente, com a provocatória justificação, por um lado, de que é necessário compensar os chumbos do Tribunal Constitucional e, por outro, de que se trata de um incentivo à valorização do trabalho e um estímulo à mobilidade social. Ou, por exemplo, que o abono de família, numa altura em que o Governo tanto fala da protecção da família e da natalidade, sofre também um corte de 1%. Ou, por exemplo, que a Escola Pública vai sofrer um corte de mais de 700 milhões de euros (um decréscimo de 11,3% face à estimativa de despesas deste ano).
Haveria tanto por onde pegar que até custa admitir que Maria de Belém tenha escrito um artigo sobre o OE-2015 sem referir que vêm a caminho mais cerca de dois mil milhões de euros de austeridade (a acrescer à dos anos anteriores): 1,4 mil milhões de euros de redução na despesa do Estado mais 500 milhões de euros de aumento de impostos.
O que prendeu a atenção de Maria de Belém foi uma «ligeiríssima alteração ao Estatuto de Aposentação que fazia incorrer na pena de perda de pensão o pensionista que se atrevesse a trabalhar "pro bono", ou seja, voluntariamente e sem qualquer remuneração para uma qualquer organização¹!». E mais não disse Maria de Belém Roseira sobre o OE-2015. É a abstenção violenta por outros meios.
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¹ Julgo haver aqui um lapso: a inaceitável norma em causa não se aplica ao trabalho para «uma qualquer organização», mas apenas ao trabalho para o Estado e instituições a si ligadas.
6 comentários :
Deixa a senhora em paz. Ha tanto assunto e tantas tristes figuras que não ha necessidade de "postar" sobre alguém que está do lado certo da politica.
Em paz, ...?! No CC não se pode dizer que aquele é um texto politicamente péssimo, dado à estampa no péssimo CM, e que ainda surge sob a capa de alguém que por ali passeia, ligeiramente (?), na tentativa de chegar ao fim de um mandato que exerceu pessimamente como titular de um cargo honrado como é o de Presidente do PS? E por falar em abstenções violentas combinadas com figuras tristes: ainda é verdade o que escreve o Expresso neste FDS sobre o actual estatuto de Carlos Zorrinho? É que o post do CC também é sobre isto (o lado mesmo certo, apesar das diferenças), presumo.
«Carlos Zorrinho, líder da delegação parlamentar socialista em Bruxelas, sabe bem que» etc.
Essa sra é uma triste figura.Patética.
Maria de Belém é e será sempre uma pateta.
Aquela cabeça...é cá com cada penteado... Aquela cabeça!
Se esta minhoca indigente está do lado "certo" da Política, o Povo português está do lado "errado".
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