— Manuel, depois do que o Mario lhe fez, o Wolfgang não aguenta outra... |
• João Galamba, Paris e Bruxelas:
- «Vejo o braço de ferro entre Paris e Bruxelas com um misto de contentamento e preocupação. Contentamento, porque é sempre positivo que haja quem se recuse a aplicar políticas irracionais; preocupação, porque parece que o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, tem razão pelas razões erradas e se limita a pedir um tratamento de excepção para o seu país. Vamos por partes.
A chamada crise das dívidas soberanas, como recordou Paul de Grauwe na Gulbenkian, nunca foi uma crise de finanças públicas, foi sempre uma crise que se deve a uma arquitectura monetária disfuncional e que foi agravada pela obsessão em reduzir os défices públicos através da austeridade. A confiança dos mercados, que era suposta estar positivamente correlacionada com a determinação dos principais líderes europeus em flagelar as suas economias, só surgiu quando foi deliberadamente fabricada pelo BCE. A dívida pública, que era o problema que a austeridade ia resolver, está hoje menos, não mais sustentável, e é tanto menos sustentável quanto mais severa e prolongada foi a aposta austeritária. E o sector privado, ao contrário do que garantiam os defensores deste tipo de política, não substituiu o Estado, retraiu-se com ele, sobretudo no investimento e no emprego. A austeridade falhou. Ponto. E é preciso arranjar uma alternativa.
Perante isto, e nunca esquecendo que Marine Le Pen é a principal beneficiária com a manutenção e agravamento das actuais políticas de austeridade, faz todo o sentido adiar os objectivos para o défice francês. Faz todo o sentido para França e devia fazer todo o sentido para a Europa. Mas o modo como o problema é apresentado não é indiferente. Quando Manuel Valls diz "é preciso respeitar a França, é um grande país(...) não aceito lições de boa gestão" não está a criticar a austeridade e as actuais opções europeias, está a exigir um tratamento de excepção para o seu país. A insistência no cumprimentos dos actuais objectivos orçamentais não é aceitável em França pela mesma razão que não aceitável em Portugal: porque agrava todos os problemas e não resolve problema nenhum. A França não precisa de um tratamento de excepção, precisa, isso sim, que a Comissão Europeia e o Conselho abandonem o dogma austeritário e coloquem o crescimento económico, o emprego e a coesão social como principais prioridades da política orçamental de todos os Estados-membros.
A nova Comissão Europeia ainda não se pronunciou oficialmente, mas seria seguramente mais fácil (e mais útil) ceder às pretensões orçamentais francesas se estas não fossem apresentadas como um direito francês, em virtude de a França ser quem é. Nestes termos, ou a Comissão cede, mostrando que as regras são uma farsa, ou a Comissão compra uma guerra com a França, uma guerra da qual dificilmente sairá vencedora, porque o executivo francês não tem grande margem para recuar. Se a Comissão ceder, o que é o mais provável, cabe aos pequenos países exigir o mesmo tipo de tratamento e insistir, sempre que possível, na europeização do problema. Já sabemos que, com o governo português, infelizmente, tal não irá suceder.»
3 comentários :
Anónimo Anónimo disse...
"Não tenhamos dúvidas: se pensarmos como a direita pensa, acabamos a governar como a direita governou. A mudança necessária exige ruptura com a actual maioria e a sua política.» Assim é, mas é mais fácil de dizer do que de fazer. Os agentes da mudança estão dispersos e frágeis, necessitam de uma onda de fundo da opinião publica, e necessitam de forte e desassombrada liderança. Que convergências? que compromissos?
Sobre os políticos alemães, holandeses, finlandeses, etc etc etc,? querem que a "classe politica que actualmente domina a europa e esta agarrada à dinâmica dos lugares institucionais, faça mea culpa e deixe de pensar como pensa, aplicando politicas em que não acredita, ou atenuando e corrigindo a a dose e sentido? No way. Não é assim que o mundo gira. Estas classes irão de vitória em vitória até à derrota final, arrastando-nos a todos e selando a grande decadência da europa. Nem não vão "perceber" o que afinal aconteceu. Irão surfar a transição. Continuarão a dizer que a austeridade não foi suficiente, que a "reforma do estado" não foi levada até ao fim.
Entretanto os franceses fazem sempre este papel dúbio, egoísta, traidor. Um pequeno pais à deriva. Qual é a duvida?
"... A França não precisa de um tratamento de excepção, precisa, isso sim, que a Comissão Europeia e o Conselho abandonem o dogma austeritário e coloquem o crescimento económico, o emprego e a coesão social como principais prioridades da política orçamental de todos os Estados-membros."
Dogma austeritário que o Sr Vals pretende seguir, não é ?
João Galamba vê os contornos desta crise com muita claridade. Mais, ele, com as suas opiniões, torna tudo mais claro, clarinho. O óbice está em Bruxelas, não em
Paris, Roma, Madrid ou Lisboa. Já todos nós sabemos que assim é, só a "gente honrada" que nos desgoverna é que continua a não querer ver o problema; Passos e Portas preferem baixar as calças, não mostram ser corajosos. São uns cobardolas.
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