domingo, novembro 23, 2014

Para matar de vez a desigualdade

• Renato Miguel do Carmo, Para matar de vez a desigualdade:
    «(…) Na sua obra monumental, O Capital no Século XXI, Thomas Piketty identifica e caracteriza pormenorizadamente os processos que levam não só à persistência e à intensificação das desigualdades económicas como à sua reprodução a favor de um conjunto muito limitado de pessoas e de grupos. Os trajetos de mobilidade social ascendente tendem a cristalizar-se e a inverter-se. Uma das consequências mais preocupantes reflete-se na reemergência da sociedade de herdeiros no contexto de uma Europa envelhecida e profundamente em crise.

    Para quebrar com este caráter sistémico e reprodutivo das desigualdades exige-se que a ação política incorpore uma matriz progressista alicerçada, do meu ponto de vista, em três pilares fundamentais: qualificação, redistribuição e "desprivatização" (tive oportunidade de os defender no livro recentemente publicado intitulado Estado Social: de Todos para Todos). O primeiro deriva do aprofundamento da função e da atuação universalizante do sistema de educação pública em capacitar as suas populações de um conjunto diversificado (mais ou menos especializado) de conhecimentos, saberes e competências científicas.

    O segundo deverá resultar de um mix de políticas de redistribuição do rendimento e da riqueza capaz de conjugar e articular medidas como o aumento do salário mínimo, a maior justeza na progressividade fiscal, a extensão da tributação aos rendimento de capital e às diferentes formas propriedade e de herança patrimonial, a definição de rácios máximos de remuneração entre os salários mais baixos e os mais altos vigentes nas várias empresas e organizações, etc.

    O terceiro diz respeito à qualidade democrática das instituições públicas e a aptidão que estas deverão ter de se proteger face à apropriação dos interesses privados que põem em causa a generalização do bem comum. É fundamental dotar as instituições de mecanismos consolidados de participação democrática que as imunizem em relação à interferência do poder e agendas dos grupos financeiros e económicos e de outros grupos sociais privilegiados Só por esta via a autonomia e as liberdades individuais podem ser asseguradas e devidamente salvaguardadas em prol do bem de todos e para todos.»

3 comentários :

Anónimo disse...

Um livro de que os liberais de pacotilha ( vulgo os que comem à mesa dos interesses dos grandes grupos económicos, da finança e dos mercados desregulados)temem como o diabo teme a cruz...

O problema é que com a globalização, estas mudanças ou se fazem por todos os paises ao mesmo tempo, ou continuaremos a ter sempre o mesmo problema resultado : desigualdade, ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres.

Anónimo disse...

Um abraço Miguel - é costume dizer-se que o primeiro milho é para os dos pardais à solta.

Confio na Justiça, ponto final.

Zé da Adega

ECD disse...

Ja tinha lido esta manhãno Publico. Uma muito boa leitura; estive quase-quase a escrever "uma muito boa ficha de leitura para leitores calões e para ver se a curiosidade é mais forte do que a indolência!

Na 6ªfeira estive a ler no Le Monde um artigo, muito interessante, grosso modo, sobre a escola, as classes e as respostas da direita para a melhoria desempenhos dos desempenhos escolares. Le casse-tête de la méritocratie

Retive, entre outras, esta frase:
« Dans la conception de la droite, l’élève doit être arraché à son milieu pour réussir »