terça-feira, novembro 11, 2014

Portugal quase não existe

Do artigo de Mário Soares no Diário de Notícias, um extracto intitulado «Portugal quase não existe»:

    «Tal como o conhecíamos, Portugal, o nosso querido Portugal, está a desaparecer. Obra de um governo sem sentido patriótico nem qualquer visão, que em três anos destruiu grande parte do que teve de brilhante o nosso país. Um governo que é dirigido por um primeiro-ministro que todos os dias diz o contrário do que disse na véspera, e que não tem qualquer ideia quanto ao futuro. Mas que importância tem isso? Sabe que o Presidente da República o quer manter até ao fim e estará sempre ao seu lado, passe-se o que se passar... Apesar de saberem que todo o país está contra.

    Há pois que não antecipar as eleições, que serão fatais para o governo, já que se não as anteciparem, quanto mais tarde ocorrerem, melhor...

    Os portugueses insurgem-se contra um governo que só ataca os pobres e que praticamente já destruiu a classe média. Mas pergunto de novo: que importância tem isso? O fundamental é que se esconda o número dos emigrantes que saem do país, que se coloque como empregados beneficiários de formação profissional e não se contem como desempregados aqueles que, no desespero, já nem se inscrevem nos centros de emprego. É preciso que se diga que o desemprego real é de 20% e não de 13%.

    A democracia, tal como foi, antes deste governo, já não existe. A voz do povo, que é quem vota, deixou para o Presidente da República e para o atual governo de ter qualquer importância. Aos pobres que se lhes cortem as pensões e os salários e que se deem grandes indemnizações aos gestores que levam empresas estratégicas à falência.

    As eleições deixam de ter sentido. Para eles quanto mais tarde melhor. Os sindicatos passaram a ter a maior das dificuldades, a menos que façam o jogo do governo. Por isso as eleições devem realizar-se, como disse o Presidente da República, na data prevista, ou seja, o mais tarde possível. Pudera...

    O que interessa é ir muito para além da troika, a que o governo obedece, e manter, calcule-se, a austeridade, que é uma desgraça para quem a sofre.

    O governo anunciou-nos que, depois da troika, tudo ia mudar e que nunca estivemos tão bem. Ora, Portugal tem hoje a mais elevada taxa de empobrecimento dos restantes 27 países da União Europeia. O governo ultrapassou largamente o memorando de entendimento da troika, obtendo receitas fiscais inimagináveis.

    Os portugueses que não emigraram cada vez recebem menos e estão ou caminham para uma situação de pobreza assustadora. Como no passado nunca aconteceu. Talvez por isso a criminalidade é também cada vez maior.

    É este o estado do nosso país depois de três anos de governação. Com um Presidente da República que só vê o partido do governo, que é, diga-se, o partido a que sempre pertenceu...»

5 comentários :

Rosa disse...



Mesmo idoso, o mesmo lutador de sempre!

Anónimo disse...

Mesmo idoso, ainda dá baile ao marroquino da montanha !

Anónimo disse...

Julgo ter cabimento poder dizer-se que Portugal actualmemte encontra-se numa situação de pre-catástrofe.O desemprego e o subemprego têm contornos idênticos aos dos países que têm economias inviáveis sendo sociedades bloqueadas.É impossivel saber ao certo os números do desemprego em Portugal porque esses números são manipulados e a isso há também a somar a falta de meios que provoca recolha de dados deficientes e calculos com erros dos serviços competentes afectados com as políticas relativas ao aparelho de Estado por este Governo.Os mais pessimistas dizem que os números reais do desemprego podem ser superiores aos 20 %.
Por outro lado a emigração tem hoje valores já superiores ao da década de 60 provocada para fugir á guerra e á pobreza. Tem-se verificado também uma grande fuga de capitais e de cérebros.

Anónimo disse...

O último parágrafo parece não ser exato. A boliqueimada criatura, numa ficha que preencheu para a PIDE, declarava-se (salvo erro) integrado no regime da União Nacional. Por outro lado esta deu origem ao PSD e ao CDS. Se calhar o Mário Soares acaba por ter razão...

Anónimo disse...

Agradeço ao autor do blogue ter posto este pedacinho do artigo semanal do Dr. Mário Soares, que agora é pago. Já na semana passada, não li o artigo. Obrigado.