quarta-feira, dezembro 10, 2014

Desaceleração das exportações:
negar este problema não é uma boa estratégia

• Manuel Caldeira Cabral, Desaceleração das exportações: negar este problema não é uma boa estratégia:
    «(…) O artigo em causa com o título: "Exportações em Desaceleração?", questionava se tudo está a correr bem nesta área. Não fazia nenhum "ataque cerrado à evolução das nossas exportações", limitava-se a salientar que os dados recentes revelam dificuldades de crescimento.

    A única questão relevante que altera alguma coisa na análise é a do ano de base. O SEAE acusa-me de "manipulação evidente de números" por considerar na análise e nos números aí apresentados a evolução até 2011 e depois de 2011. A verdade é que não o fiz por conveniência ou manipulação, mas apenas porque em 2011 há uma mudança de Governo e uma mudança de política com reflexos nos anos seguintes.

    Esta mudança de política segue a ideia da competitividade pelo empobrecimento. A ideia-chave era a de que a contracção da procura interna era essencial pois teria três resultados, diminuiria as importações, o que aconteceu, e teria dois efeitos positivos para as exportações, o primeiro seria o de obrigar as empresas a desviar produção do mercado doméstico, em contracção, para os mercados externos, o segundo seria o de, pela baixa de salários, aumentar a competitividade das empresas portuguesas, fazendo acelerar as exportações.

    Esta política começou a ser definida na segunda metade de 2011, com algumas medidas a entrarem em vigor ainda no final de 2011, e as mais importantes a entrarem em vigor no início de 2012 (nomeadamente com o Orçamento de Estado). Os efeitos, nomeadamente o efeito central na óptica de competitividade defendida, a descida de salários, verificam-se em 2012 e 2013, daí ser razoável comparar o que aconteceu em 2012 e 2013, e o que já sabemos de 2014 (primeiros nove meses), com o que estava a acontecer antes de esta política ser seguida.

    Será muito difícil defender que o crescimento das exportações de 2011 teve alguma coisa a ver com uma política que se materializou principalmente em 2012. Aliás, nos primeiros seis meses de Governação, o actual Governo não teve sequer bem definida nenhuma estratégia de internacionalização (cuja tutela estava por decidir se cabia ao Ministério da Economia ou ao dos Negócios Estrangeiros - o que deixou a AICEP quase seis meses sem presidente). Mas se quiser ver as coisas assim pode observar que no último trimestre de 2011 já há uma redução da taxa de crescimento das exportações. (…)»

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