quarta-feira, janeiro 21, 2015

Mário Soares, Cavaco Silva e o "salazarista convicto"

    O "Expresso", pelo punho e voz do seu diretor - e mais uns corifeus do costume - parece apostado em verberar Mário Soares para, com isso, limpar a imagem de um passado nebuloso de Cavaco. Mário Soares afirmou no DN de hoje, 20 de janeiro, que Cavaco Silva foi um "salazarista convicto" no tempo da ditadura. Que não tem provas do que diz - contrapõe o "Expresso". Portanto, é falso - deduz o mesmo jornal. Também não sei se Cavaco Silva foi um salazarista "convicto". Com o mesmo argumento da falta de provas, não posso afirmar que Cavaco Silva seja ou tenha sido convicto de coisa alguma - a não ser das suas próprias ambições pessoais de poder e sofreguidão por dinheiro (disso há provas sobejas). Poderia dizer que Cavaco, no tempo da ditadura, não foi um anti-salazarista que alguém reconhecesse como tal. Como não sou maniqueísta, não afirmo que, não tendo sido contra, foi a favor. Não. Apenas teve medo. Posso mesmo garantir: borrado de medo. Tenho provas, colhidas por dedução. Eis o que escrevi a 20 de dezembro de 2010 no JN, quando foi revelada uma declaração que Cavaco Silva fez na Pide, para garantir acesso a determinados documentos, necessários não sei para que investigação académica. Se tiverem a paciência de ler "O tremeliques palavroso", aí vai:
      «Tive imensa sorte, na minha juventude, por nunca haver sido confrontado com a obrigação de assinar a declaração de «conformidade» do famigerado decreto 27003, exigido pela ditadura.

      Seria para mim angustioso sujeitar a honra a uma mentira, mas confesso que, se fosse obrigado, assinaria. Ninguém via heroísmo redentor nessa estóica recusa.

      Por bênção dos deuses, o maldito decreto foi revogado por Marcello Caetano antes de a situação se me colocar. Dessa estou «imaculado», mas não atiro um grão de areia a quem firmou de cruz aquele papel: o cobarde não foi quem assinou, cobarde era quem obrigava a assinar.

      Por isso, não liguei muito à notícia da declaração assinada de Cavaco Silva à Pide. Só despertei da modorra, quando ouvi o candidato dizer que não se lembrava do episódio. Aí, pára: ou o cavalheiro mente desavergonhadamente, ou sofre de um Alzheimer muito adiantado a justificar um Conselho de Estado para o interditar.

      Ninguém, mas ninguém mesmo, se esquece de quando foi obrigado a ir à Pide: fica na memória para sempre. É que esta, para mais, foi uma declaração presencial, certificada na hora pelo chefe de brigada da Pide e por isso dispensada de reconhecimento notarial. Tem ele o despudor de dizer que não se lembra? Abram a ala VIP da psiquiatria, por favor!

      A mentira (ou doença incurável do candidato) tornou-me mais atento. O que me chamou mais a atenção foi a anotação final, num espaço de preenchimento facultativo, a dizer que «não priva» com a segunda mulher do sogro, dando o nome completo da senhora.

      Ah, isso é demais – e nada tem a ver com "tentativas de o ligar ao anterior regime", como Cavaco se lamuriou. Nada! A ligação é só à sua têmpera, à sua capacidade ou não de enfrentar situações difíceis. Toda a gente de bem que conheci, desafecta ou mesmo afecta ao salazarismo, respeitava este princípio: à polícia (e então à secreta!) só se diz o mínimo. Era questão de fidalguia, de sobranceria, de desprezo. Não era exigido a Cavaco que escrevesse o nome da segunda mulher do sogro e muito menos que declarasse que não privava com ela. Qualquer um com dois dedos de siso saberia que isso iria pôr a PIDE de sobreaviso contra a senhora – ou então queria mesmo denunciá-la.

      Cavaco não seria tão reles: apenas estaria tão tremeliques que escreveu até o que não queria, coitado. E logo ele que diz que há palavras de mais na política. Lá sabe do que fala, quando falou, à PIDE, do que não devia ter falado.

      A desgraça é que o tremeliques tem ainda menos cura que o Alzheimer.»

    Não quero saber se Cavaco foi ou não salazarista, o que seria a menor das críticas, perante o facto de ter demonstrado ser alguém que espojou a sua vida familiar diante dos esbirros do regime, apontando o dedo à segunda mulher do sogro, sem querer saber se a deixava - e ao sogro - em apuros. Há uma coisa muito pior do que ser um salazarista convicto: é não prestar para nada!

10 comentários :

Anónimo disse...

Se não me engano, é neste documento que o tremeliques palavroso assina que declara, desnecessariamente, que "se encontra perfeitamente integrado no regime político" em vigor na altura.

Se isto não é ser salazarento, não sei o que será...

Mas, apesar dos esforços dos carregadores deste andor, este "santo" só engana quem se quer deixar enganar.

Morgado De Basto disse...

No Portugal actual,de quando em vez,tenho a oportunidade de ler algo escrito por um Homem.Na circunstância,dá pelo nome de Oscar Mascarenhas.

No pobre país em que Portugal se transformou,onde já nem jornalismo se faz,ainda vão existindo uns quantos do tempo em que o Jornalismo não só existia e o seu exercício profissional era prestigiado e reconhecido a estabelecer a diferença e a chamar os bois pelo nome no que aos papa hóstias da vidinha e vendilhões do templo diz respeito.

Quanto a uns quantos que vão rastejando pelo expresso,estamos conversados!(...)

Anónimo disse...

Ó camarada,

"Ninguém via heroísmo redentor nessa estóica recusa."


Era proformal para FP e quejaqndos. Fazia-se o quê se não se estivesse integrado? Mentia-se, não é.

Favor reler melhor o texto que tem dificuldades de compreensão e isso fode qualquer debate.

Anónimo disse...

Só que o artista escusava de florear a redação com a bufice à madrasta da mulher e com a sua integração no regime político. Isso também fode qualquer curriculum...

Anónimo disse...

"qua jan 21, 01:17:00 da tarde"

Exacto, é o que diz OM. Aí é que se distingue. Nunca por assinar o documento.

de qq modo distingue-se pela cobardia bufa e não pela adesão ao salazarismo. Um tipo por ser um mariconço de merda e um queixinhas não é necessariamente um salazarista.

Anónimo disse...

Cavácuo o mesmo homem que, enquanto Primeiro Ministro, concedeu pensões a dois ex-PIDES ao mesmo tempo que recusava uma pensão à viúva e aos filhos de Salgueiro Maia.

Mas alguém tem duvidas do facho PR?

Mais sobre o carrasco em http://tretas.org/CavacoSilva

Anónimo disse...

A resposta merecida pelo Ricardo Costa. O António não tem culpa!

Reaça disse...

A declaração 27003 todos os funcionários públicos, (polícias, oficiais do quadro, finanças, e até serviços autónomos) todos os funcionários do quadro permanente assinavam essa declaração.

Eram todos fascistas??? Ora porra!!!

Anónimo disse...

Nos dias de hoje é muito pior ser soarento!!!!!!!!!!!!!!!

Anónimo disse...

A declaração obrigatória para admissão a empregos no sector público e Estado, conforme o Decreto-Lei nº 27003, de 14/09/1936, cujo texto afirmava

"Declaro por minha honra que estou integrado na ordem social estabelecida pela Constituição Política de 1933 com activo repúdio do comunismo e de todas as ideias subversivas."

era feita em papel selado e carecia de reconhecimento notarial. Aliás, esse Decreto-Lei mostra que o Estado Novo era um regime concebido como totalitário.

No entanto, tal declaração -- que, como aqui foi dito, muitos preenchiam obrigados e a contragosto -- não é o "Formulário Pessoal Pormenorizado", da PIDE, que Cavaco Silva preencheu voluntariamente, e que se pode consultar em

http://tretas.org/CavacoSilva?action=AttachFile&do=get&target=1967-12-21-Anibal-Cavaco-Silva-Ficha_para_a_PIDE-DGS.pdf

Só pessoas que pretendiam acesso a áreas mais sensíveis do regime teriam necessidade de se deslocar voluntariamente à PIDE para preencher a dita ficha.

Isto justifica a suspeita de muitas pessoas de que Cavaco Silva ambicionava construir uma carreira política "completamente integrada" no Estado Novo; o que teria conseguido se o regime totalitário não tivesse sido derrubado em 25 de Abril de 1974.