quinta-feira, janeiro 29, 2015

Oportunidade para a Europa

• Hugo Mendes, Oportunidade para a Europa:
    «Quando em 2010, concedeu o maior empréstimo da história para garantir a estabilidade do sistema financeiro, quis fazer da Grécia um ‘exemplo': impôs um ajustamento tão violento para que mais ninguém quisesse repetir a experiência da 'ajuda'. Na altura, muitos afirmaram que a solução era injusta, insustentável e ineficaz, mas a mentalidade de Versalhes vingou. Se as consequências socioeconómicas são conhecidas - queda de 25% do PIB, desemprego nos 25%, dívida acima dos 170%/PIB -, as políticas eram previsíveis: em eleições, os gregos entregariam o governo a quem lhes desse esperança para pôr fim à humilhação.

    Depois de domingo, entrámos no domínio da incerteza. Assumindo que os líderes europeus e que o governo grego querem que a Grécia fique no euro (e na UE), vão abrir-se duras negociações. O Programa de Salónica do Syriza é suficientemente amplo para que os gregos definam prioridades e saibam bater-se pela concretização das mais eficazes para a reconstrução do país. Neste processo, vai ser crucial o modo como os governos europeus souberem gerir as opiniões públicas - a começar pelo próprio Syriza.

    Porém, o maior risco não está na desilusão dos eleitores gregos, que muitos, aliás, infantilizam. O maior risco de todo este processo está na possível tentação revanchista da direita europeia de querer ensinar aos gregos uma nova ‘lição', recusando qualquer cedência para não dar esperança a outros partidos em ano de eleições em Inglaterra, Finlândia, Portugal e Espanha.

    Se esta lógica vingar, desperdiçar-se-á uma oportunidade para produzir alterações mais profundas na arquitectura institucional da zona euro, dando continuidade aos passos que - mesmo que insuficientes -, a Comissão e o BCE deram recentemente. Os líderes europeus têm repetido, nos últimos dias, que "há regras". É verdade: é, aliás, no seu desenho que residem muitos problemas da zona euro. Se, em cooperação com outros parceiros, o governo grego se conseguir começar alterá-lo, estará a fazer um favor ao projecto europeu.»

1 comentário :

Júlio de Matos disse...


É muito simples: se não quiserem salvar o Euro a bem, com a SYRIZA, um dia salvá-lo-ão a mal, sabe-se lá como e com quem, ou não o salvarão!


Têm alternativa, o que já é uma grande sorte: escolham...