sexta-feira, março 13, 2015

O deboche de César


• Fernanda Câncio, O deboche de César:
    «Partilho há anos o espaço de crónica no DN com João César das Neves. Dificilmente estaremos de acordo em alguma coisa e não raro considero ofensivo o que escreve; porém, a sua crónica desta semana não traz nada de novo nem me irrita mais do que as anteriores. Talvez seja pois um caso de copo transbordado pela repetição das mesmas falsidades.

    Das Neves tem todo o direito a ter aversão ao sexo, à igualdade de género, à liberdade, aos contracetivos, ao aborto, à homossexualidade, ao divórcio, ao ateísmo, etc. Como eu de odiar pescada cozida e, caso um jornal me dê para tal espaço, passar a vida a repeti-lo. O problema começa quando, para "fundamentar" as suas aversões, o cronista insiste em falsear a história - por ignorância ou má-fé, é indiferente (ignorância renitente é má-fé). E essa versão falseada resume-se bem na expressão fetiche que não se cansa, como tantos da sua área religioso-ideológica, de invocar: "a família tradicional". Que opõe a "casamentos desfeitos, uniões de facto e ausência de natalidade" e, garante, "existia há séculos" tendo sido "revolucionada em poucas décadas".

    É como se eu, para fundamentar o ódio a pescada cozida, garantisse que faz cancro. Não é o mesmo? Lamento, é. Há 150 anos (quando este jornal foi fundado), num país de religião oficial católica, em quatro milhões de habitantes, com média de idade de 27 anos e nove meses (42,5% da população tinha até 20 anos), entre os maiores de 21 quase 46% eram solteiros, com o grosso dos casamentos a ocorrer após os 30. Sendo que, nas meninas entre os 11 e os 15 anos, se encontravam 153 casadas e até oito viúvas (maravilha, a família tradicional pedófila). A coabitação sem casamento, que tanto mortifica César na atualidade, era comum. Como o adultério, apesar de crime se cometido por mulheres: "Chegamos a um tempo em que ninguem póde sinceramente dizer que conhece seu pae. Os assentos de baptismos estão todos falsificados", asseverava Camilo nesse ano. Mas a maior e mais saudosa maravilha, nessa época de ouro da "família tradicional" em que as prostitutas tinham boletim sanitário, é a tolerância com o infanticídio (do aborto nem vale a pena falar). Nem sequer incluído na categoria homicídio, era tão numeroso que levou o reino, ainda no século XVIII, a criar as anónimas "rodas de enjeitados". Só em Lisboa, de 1850 a 1870, foram aí entregues anualmente 2617 crianças, das quais quase todas morreram no primeiro ano. A partir de 1867, com a obrigatoriedade da identificação do abandonante, descobre-se ser a maioria das crianças fruto da gravidez de solteiras que viviam em casa alheia: "criadas", provavelmente.

    Há gostos para tudo: César das Neves tem a nostalgia da "família tradicional". Convém é que saibamos todos - a começar pelo próprio - o que tal significa. E como a expressão "altar do deboche", que usa para os dias de hoje, não podia ser mais adequada para descrever a sua inclinação.»

8 comentários :

Daniel Carrapa disse...

A pergunta que fica é como é que um cro-magnon deste calibre escreve num jornal com a história e tradição do Diário de Notícias?

Morgado De Basto disse...


Infelizes os Pais que tem um filho a estudar numa Universidade e apanha com um professor pela frente da estirpe deste gajo,que vive alienado por preconceitos ideológicos/religiosos que o hão de levar ao reino dos infernos.É lixo deste tipo que o Papa Francisco(louve-se o esforço)procura varrer da sua Igreja.
Perfeitamente de acordo com Fernanda Câncio:o calhorda,age conscientemente com má-fé!

Anónimo disse...

César das Neves nem sequer sabe do que fala, pois foi precisamente o governo em que votou e que defende com unhas e dentes que disse que 80 % dos pensionistas têm reformas abaixo dos salário minimo nacional.
Se César das Neves acha que estas pessoas andam todas a fingir que são pobres é porque foi vitima de uma lobotomia gigantesca e ninguém o avisou.
Um imbecil , nada mais.
Um aviso à navegação PSD/CDS : continuem a deixar este tipo de comentadores falar por vós. É caminho ainda mais rápido para perderem eleições.O Costa agradece e o povo português também.

Anónimo disse...

Pobres alunos universitários que o tem por professor!

S. Bagonha disse...

"é porque foi vitima de uma lobotomia gigantesca e ninguém o avisou."
O caríssimo anónimo das 4:21:00 perdoar-me-á, mas o anormal do JCN não foi vítima de nenhuma lobotomia.
Ele já nasceu lobotomizado.

Anónimo disse...

Que tarado! Muito bom, este texto da Fernanda Câncio.

ana

Anónimo disse...

Opa a católica tem uma catrefada de césares das neves, este é só o que vai à televisão. Há lá disto as resmas.

Victor disse...

Fechem-lhe a lata dos cogumelos.