sábado, abril 18, 2015

«Nem sempre o que parece é»

Miguel Sousa Tavares, hoje no Expresso:
    «(…) 3. A estratégia de acusação a Sócrates, por parte do Ministério Público, parece assentar numa pirâmide invertida, caminhando do menos para o mais, até chegar à tese defendida. Primeiro, tentando provar que ele vivia acima das suas capacidades conhecidas; depois, tentando provar que isso era possível porque ele tinha uma fortuna oculta, em nome de terceiro; e, finalmente, o mais importante: que essa fortuna teve origem criminosa, designadamente em actos de corrupção passiva, enquanto primeiro-ministro. Lendo os jornais bem informados sobre a acusação, estamos agora na terceira fase: procura-se demonstrar que a corrupção foi feita a favor do Grupo Lena e através dos contratos que este obteve na Venezuela devido à mediação de Sócrates. Não é uma acusação fácil de provar, desde logo porque parte substancial desses contratos foi negociada já sob a égide deste Governo, e depois, porque um primeiro-ministro mover influências para que as empresas portuguesas obtenham contratos no estrangeiro é, não apenas normal, como elogiável. Chama-se a isso diplomacia económica e é o que fazem todos os governos e presidentes por esse mundo fora. É claro que, vindo-se a descobrir que Sócrates foi recompensado pelo Grupo Lena devido à sua intervenção nos contratos obtidos na Venezuela, tal ficaria muito mal ao ex-primeiro-ministro. Mas, mesmo então não vejo como, juridicamente, esse acto moralmente indefensável poderia ser juridicamente enquadrado no crime de corrupção, ainda que na sua forma mais moderada de corrupção para acto lícito.

    Todavia, imagine-se que o MP teria conseguido uma escuta entre Sócrates, ainda primeiro-ministro, e o presidente do Grupo Lena, em que Sócrates diria coisas como "tem todo o meu apoio em tudo o que for necessário, pessoal e institucional... Estou totalmente disponível para tudo... para aquilo que considerar que possa ter alguma utilidade". Nesse caso, suponho que, por exemplo, o Tribunal da Relação de Lisboa teria ainda mais motivos para recusar a revogação da prisão preventiva de Sócrates, reforçando os argumentos indevidamente usados no Acórdão proferido sobre ela, em que declarou a sua convicção da culpabilidade de Sócrates (matéria que não lhe cabia apreciar). Sucede, porém, que tal escuta existe e aquelas frases foram proferidas, de facto, mas não foi Sócrates que assim falou ao presidente do Grupo Lena e sim o presidente do Tribunal da Relação de Lisboa (que presidiu à leitura do Acórdão sobre Sócrates) quem assim falou a António Figueiredo, ex-director dos Registos e Notariado, preso agora em prisão preventiva no caso dos vistos gold e que então se queixava ao juiz de estar sob investigação. Uma conversa investigada pelo MP, por dever de ofício e cujo processo foi arquivado em dias, concluindo-se não haver quaisquer fundamentos para seguir avante. Como o próprio MP reconheceu neste caso, nem sempre o que parece é. Ou é demonstrável.»

4 comentários :

Anónimo disse...

Ao ler este artigo de um jornalista insuspeito em relação a Sócrates,pois todos sabem a forma como este tem sido um asserrimo crítico do antigo primeiro Ministro,fico com a convicção de que se trata de uma perseguição política para o ipedir de concorrer às próximas eleições presidencais mantendo-o preso sem culpa formada e ausência de factos baseando-se em suspeitas.Os comunistas que também foram perseguidos no passado pensam que estão a salvo só porque se aliaram à direita e a certos sectores da justiça justicialista,não perderão pela demora.Nessa altura não terão nenhum socialista ou verdadeiro democrata em sua defesa,pois são todos iguais quando toca a subverter a democracia para ganhar mais uns votos à custa de um populismo igobil.

Anónimo disse...

É claro que se trata de um jornalista insuspeito quer em relação a Sócrates quer em relação ao seu compadre Salgado do BES, quer até mesmo em relação ao inenarrável Pinto da Costa do FCP.
Trata-se de um extraordinário jornalista sempre em luta pelos interesses da democracia e sempre ao lado do POVO.
VIVA EU e os outros que se fodam.
Para quadrilheiros basta o que basta

Anónimo disse...

Aguardo que o MST e outros galambóides se pronunciem sobre o dinheiro dos submarinos que o outro empochou

Elementar, meu caro Watson, disse...



E está tudo dito, moçoilos. A "justissa" brutoguesa não resiste a uma análise trivial de dois dedos de testa.


O problema é que, infelizmente, dois dedos de testa é um referencial hoje inatingível para a maioria dos papagaios da cumenicassão çussial e respetivos legedores (e telespeta dores) em Brutogal...