segunda-feira, maio 18, 2015

«A desistência na política dos cuidados primários»

• António Correia de Campos,
Família e classe
:
    «1. A notícia da redução a 50% do ritmo de criação de unidades de saúde familiar (USF) pelo actual Governo e o facto de no corrente ano apenas uma ter sido criada, levantam dúvidas sobre toda a política da saúde que tão elogiada foi no início do ciclo.

    Certamente, reduzir em 1% do PIB a despesa farmacêutica não foi coisa pouca. Já reduzir a despesa hospitalar à boleia dos cortes de subsídios, horas extra e ordenados escasso mérito revela e além do mais é reversível. Forçar a contribuição das famílias para a saúde, em quatro anos, de 25 para 32% da despesa total, pública e privada, poderia ser tolerável, se a diferença não fosse toda, direitinha, para o sector privado e muito pouco, taxas moderadoras apenas, para o orçamento público. A prova dos nove sobre capacidade da gestão do SNS será tirada pelo próximo governo quando apurar a dimensão do que o actual governo ficou a dever a fornecedores de medicamentos e dispositivos médicos. A comparação do que se gastou em aquisição de serviços a empresas fornecedoras de mão-de-obra e a suposta poupança em pessoal do SNS serão outro elemento demonstrativo da distorção de valores praticada. Tal como o saber como estamos em matéria de compra de serviços de diagnóstico ao privado revelará, infelizmente as falhas toleradas ou aumentadas na gestão do SNS.

    O que fica sem explicação é a desistência na política dos cuidados primários. Todos reconhecem nas USF uma medida de grande alcance: aumento de cobertura, maior ligação entre doente e médico, atendimento personalizado na hora, prevenção do pânico da acorrência às urgências quando não temos médico de família ou ele não está acessível, economias na prescrição de medicamentos e meios de diagnóstico, melhoria da qualidade por trabalho em equipa de médicos, enfermeiros e outros. Bem andou a Troika quando recomendou, convincente, a conclusão do programa de USF. (…)»

1 comentário :

Magus Silva disse...

À BOLEIA

`A boleia, que significava, antes de o mundo ser o que é, ser transportado de borla, isto é, sem pagar rigorosamente nada, para além de ter o dever de concordar sem contestação, com as ideias do transportador pagador.

Porém, neste mundo remexido, revolvido e atrevido, logo começou a ouvir-se na comunicação escrita e visual, por tudo, por pouco ou por nada, tal expressão (à boleia de), que, tirada cuidadosamente do contesto, à boleia de, ficou assim com um significado adulterado, mas cómodo, nem implicando grande conhecimento do que verdadeiramente significa.

O leitor ou ouvinte que descodifique. – Por causa de; devido a; graças a; e por aí fora.

Não fiquei por isso surpreendido com a moderna locução, no texto de António Correia de Campos.

E é tão importante e saudável o tema de falar de um serviço de saúde depauperado,falar de tudo que a médio ou a longo prazo ficará inexoravelmente depauperado, se este governo não morrer depressa.

Claro que há um verdadeiro retrocesso em todos os serviços que o estado prestava, poderíamos dar flagrantes exemplos em coisas tão básicas como os transportes, a justiça, a segurança, a electricidade, a água e tudo onde este desgoverno conseguiu pôr a pesada mão.

A meta, é o fim da linha, onde tudo acabará sem retorno.

Este governo, salvo raras, raríssimas excepções, é formado por rapaziada que deve ter lido por alto a crise de 1929, e que quer demonstrar que se levanta uma economia destruíndo-a, com uma dupla destruição, para recomeçar do nada, e, repetir cinicamente, que já tiramos a cabeça do lamaçal e que já crescemos um bocadinho,e ainda cresceremos muito mais, se votarem em nós, nesta coligarão contra natura e irrevogável.

Caras lindas de se ver, coisas lindas de se ouvir!!!