sexta-feira, junho 12, 2015

Sócrates escreve à TSF


A TSF visitou José Sócrates na prisão. Como as regras de segurança impedem que o jornalista tome notas, a resposta "oficial" chegou por correio. O título é "ressentimento". Eis o texto na íntegra:

    Ressentimento


    Nunca deixará de me surpreender o efeito do ressentimento no comportamento humano. Julgo não me enganar quando vejo o ressentimento como causa do acinte e do azedume tão evidentes nas recentes decisões do Senhor Procurador da República e do Senhor Juiz de Instrução. Mas o que considero extraordinário é que esse ressentimento resulte do facto de eu me ter limitado a exercer um direito que a lei me concede - dizer não a ser vigiado por meios eletrónicos. Como se, para estas autoridades judiciárias, o exercício legítimo de direitos constitua uma impertinência, um desaforo, um desrespeito para com a justiça.

    Este momento diz-nos muito sobre uma certa cultura judiciária. A acção penal democrática funda-se - e legitima-se - na liberdade, nos direitos individuais e nos limites que o Estado se impõe a ele próprio. Este despacho do senhor Juiz de Instrução e a promoção do Ministério Público a que dá seguimento são estranhos a essa cultura, pertencem a outra família, à da ordem, da submissão, da obediência - para ela, sim, os direitos existem, mas para serem utilizados com parcimónia, quando nós quisermos, quando nós dissermos, como nós quisermos, para o que nós quisermos. Lamento dizê-lo, mas o poder que exerceram não foi o do direito, mas o da força.

    Todavia, não raro o excesso, de força e de ressentimento, atraiçoa - há excessos de força que só expõem fraqueza. Tal é o caso e este é o ponto a que chegámos.

    JOSÉ SÓCRATES

ADENDA — Comunicado de João Araújo, advogado de José Sócrates.

5 comentários :

Anónimo disse...

Cada vez tenho mais orgulho em ter tido o Eng. José Sócrates como 1º Ministro de Portugal.Tenho a certeza que ele ainda vai inverter toda esta perseguição e restabelecer a justiça e a dignidade a este país.Os partidos de esquerda que têm a obrigação de defenderem a democracia e a justiça , por mera estratégia politica abdicaram da mais elementar regra da democracia, que é ter uma justiça independente e ao serviço dos cidadãos.

Abraham Studebaker disse...

Confio em Sócrates. E,mesmo fechado na actual caixa repleta de lacraus onde está,eu aposto que sairá de lá vivo. Sem "amigos" a segurarem-no pelo casaco.a briga será Histórica até final.

Anónimo disse...

É no minimo curioso que um semanário de liga inglesa editado no Algarve publique no dia 11 a notícia "corrupção" em Vale de Lobo !!!

aeme disse...

Cada vez mais aprecio este homem.
Aeme

Magus Silva disse...

NÃO VIRO A CARA (PARTILHADO DE fACTOS E cRÍTICAS)

Não viro a cara e confirmo que na sua acção governativa, considerei Sócrates o primeiro-ministro de maior dimensão, pós- 25 de abri de 974.

Mesmo assim não quis fazer julgamentos nem defesas públicas, embora suspeitasse desde o primeiro alarme, que algo deveria estar profundamente errado e pervertido.

Era apenas a minha convicção e limitei-me a esperar, convicto de que, se de uma cabala se tratasse, Sócrates teria força para em devido tempo, a desmontar com justiça.

Perante este penoso arrastar de dias, semanas meses, muitos meses, em que a justiça parece caminhar coxa e às cegas, atirando, ou, o que é a mesma coisa, deixando atirar para a comunicação social hipotéticos indícios, como que inventando o crime ainda não existente na constituição da república, (o tal enriquecimento ilícito que anda não existe na Constituição da República (e anda a ser cozinhado à pressa).

Temos Jornais cuja missão prioritária é noticiar indícios do MP.

Este por sua vez cala-se ou diz que vai inquirir, inquirir, enquanto alegremente, alguns jornais vão insinuando, sugerindo, condenando o ex-primeiro ministro, a quem nem chamam por nome.

Para eles é o preso 44, tão baixa é a sua conduta, como jornalistas e como gente.

Todos sabemos o que são corporações e o cuidado que temos que ter com elas, por isso eu me lembro de casos antigos que não quero mencionar ainda, susceptíveis de concorrer para este embrulho.

Por isso, meus senhores, antes que consideremos que somos todos, salvo raras excepções, um saco de escumalha, vamos lá esclarecer este e tantos outros casos obscuros, incompreensíveis aos olhos do sempre alerta senso comum, senso comum que por falta de acesso à verdade, anda a reunir-se em grupos, ora dizendo que sim, ora dizendo que não ou talvez.

Como se a justiça fosse uma campanha, rebuscando apoios, grupos de meninos atirando pedras uns aos outros, à falta de outros argumentos.

E pior, muito pior, escondidos por de traz de arbustos, para não serem reconhecidos, identificados.

Digam-me por favor se estará para chegar outro mundo mais maldoso,em maldade mais sofisticado do que este mundo....