• Paulo Trigo Pereira, E se compreendêssemos a democracia?:
- «(…) 2. Há outra questão, que Costa e Portas perceberam na noite eleitoral, mas que Passos não percebeu, e que se chama poder. Em política o poder de um partido mede-se pela percentagem de casos em que é pivô, (em que pode fazer com que uma coligação vencedora, de que faz parte, perca se dela sair) em relação a todos os casos em que partidos são pivô em todas as coligações maioritárias. (1) Assumamos que só haverá coligações com afinidades ideológicas. Assim as coligações maioritárias potenciais são apenas três: PC-BE-PS,PS-PSD e PS-PSD-CDS (sublinhados os partidos pivô). Após os resultados eleitorais, o poder dos vários partidos (PCP-BE-PS-PSD-CDS) era respetivamente o seguinte: 1/7; 1/7; 3/7; 2/7 e 0. Sim, o poder do CDS após o anúncio dos resultados eleitorais era nulo (pois não era necessário para nenhuma coligação vencedora na AR). O poder do Bloco e do PCP era o mesmo, o PS era quem tinha mais poder seguido do PSD. Portas percebeu isto rapidamente e tratou de selar com Passos um compromisso governativo, isto é “amarrá-lo” ao CDS. É Portas quem efetivamente radicaliza as opções governativas maioritárias que são agora teoricamente apenas duas: PC-BE-PS, e PS-PSD-CDS às quais se somam duas opções minoritárias: PSD-CDS ou PS com acordo de incidência parlamentar. Em democracia, percentagem de mandatos e de poder são coisas distintas. O PS tem, assim, toda a legitimidade democrática, e algum poder, para liderar um governo, sobretudo se o essencial do seu programa se mantiver. (…)»
Sem comentários :
Enviar um comentário