“(…) Tenho em mãos um caso que corre num dos juízos criminais de um tribunal dos arredores de Lisboa, em que represento quem apresentou queixa.
A certa altura a defesa apresenta duas testemunhas, obviamente ensaiadas. Mas de uma forma tão estúpida e incompetente e a contar uma história tão inverosímil, tão absurda e irrealista, que num ápice os seus depoimentos se desmoronaram em plena audiência.
Alguém pensa sequer que vai acontecer alguma coisa a estas testemunhas que juraram dizer a verdade e que foram advertidas de que se mentissem cometeriam um crime?
De facto, se nunca acontece nada a quem aldraba num julgamento, porque não aldrabar?
Embora estejam inequivocamente vinculadas pelo “Princípio da Legalidade”, que as obriga a tornar consequentes os crimes que lhes passam diante dos olhos, nem a juíza nem a procuradora do Ministério Público mexeram uma palha.
A Sr.ª Procuradora, continuou impávida e serena, e a interromper a audiência de julgamento a intervalos regulares para repetir que não prescindia da sua hora de almoço.
E quando requeri a passagem de certidões dos depoimentos das testemunhas perjuras, para contra elas intentar procedimento criminal, a juíza olhou para mim e encolheu os ombros com um ar absolutamente estupefacto, como se eu viesse de outro planeta.
Como se eu fosse um desmancha-prazeres, ou um Dom Quixote qualquer que quer acabar com a forma como toda a gente sabe que o circo funciona ou, sacrilégio!, quisesse de repente acabar com o número dos palhaços.
E também como se soubesse que, de qualquer modo, qualquer processo crime que eu levante contra as testemunhas só vai é dar trabalho e causar incómodos e chatices a toda a gente.”
quinta-feira, março 30, 2006
É a vida [1]
Um leitor chamou-nos a atenção para um post de Luís Grave Rodrigues, no Random Precision, intitulado A Palhaçada. Depois de considerar que “a aldrabice é já uma realidade absolutamente institucionalizada na vida portuguesa”, Grave Rodrigues, advogado, descreve uma situação por si vivida num tribunal:
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8 comentários :
Já agora acrescente que as testeminhas foram instruídas por um Advogado, como sempre ocorre nestes julgamentos. Quem as instrui contribui para a palhaçada, pois sabe que não lhe advém consequências.
Não é verdade que o processo de falso testemunho não dê em nada.
Dá sempre alguma coisa para algum advogado.
E um advogado a falar em directo e num blog sobre um processo pendente e a fazer considerações sobre o mesmo, merece o quê?!
Um doce?!
Merece uma investigação da Interpol, à moda do Costa de Macau...?
Por acaso ja tinha lido o post há dias.
A minha reação foi mais um penalty que o Juíz de campo não viu e atirou as culpas para o amadorismo da sua actividade, face aos milhões que ganha um jogador de futebol.
Ja nada me admira
Não me surpreendo.
Os procuradores e os juízes fazem como os polícias quando vêm desordens na via pública.
Vão fazer a ronda para outro lado.
Já o cidadão diligente, que nunca comete ilegalidades (e quando comete tem aquela causa de exclusão da ilicitude que dá pelo nome "toda a gente faz o mesmo"), denuncia sempre as que vê às autoridades (e, quando não o faz, está sempre de consciência tranquila, pois "toda a gente sabe que a autoridade nada vai fazer").
E todos vamos para a cama mais descansados, acreditando nas nossas mentiras.
"o cidadão diligente, que nunca comete ilegalidades (...) denuncia sempre as que vê às autoridades"
O "Miguel" está a ficar famoso...!
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