Como o Dr. Soares e o Dr. Sampaio
deixaram a Madeira ser um Jardim
Artigo do Tribuna da Madeira, de 14 de Abril de 2006, reproduzido aqui:
Tida como a célula base da sociedade, a família é, muitas vezes, a rocha onde o Governo Regional melhor se apoia para funcionar. Ao longo dos anos e das legislaturas, agregados inteiros fizeram do GR uma espécie de 'segunda casa'. O Tribuna apresenta-lhe a reportagem possível sobre o peso dos 'links' familiares dentro do executivo. Porque a família é tudo.
"Para nós, família significa darmos as mãos uns pelos outros e estarmos com eles quando é preciso" - Barbara Bush, mãe de George W. Bush, presidente dos Estados Unidos da América
Protegida de muitos, vilipendiada por alguns, endeusada pela direita, relativizada pela esquerda, incensada pela Igreja, a família é uma das instituições mais duradouras e mais emblemáticas da fábrica social, tanto no passado como no presente. Monoparental ou nuclear, problemática ou alternativa, de acolhimento ou adoptiva, disfuncional ou simplesmente feliz, a família é, em qualquer parte do mundo e na sua versão mais benigna, um sinónimo de comunhão e de pertença, de integração e esperança para os seus membros.
Talvez por isso seja enternecedor verificar o enlevo que certos governantes colocam em defesa da família, tentando garantir aos membros do (seu) agregado uma situação estável, profissional e financeiramente, nas fileiras do GR. O intuito destes responsáveis, mais do que louvável, é perfeitamente justificável, sobretudo se tivermos em conta as directrizes - associadas a factores como o rigor, a competência e a capacidade - que hoje em dia determinam o sucesso e a sobrevivência das organizações, como é o caso do Governo Regional.
Questões legais à parte - em nenhuma circunstância o Tribuna da Madeira pretende questionar ou pôr em causa a legalidade dos meios pelos quais os funcionários abaixo descritos se inserem e ascendem nas estruturas da Administração pública regional -, não deixa de ser um exercício curioso verificar a rede de conexões pessoais e familiares que ao longo dos anos se foi estabelecendo nos patamares superiores do organigrama do executivo. Os dados apurados pelo Tribuna resultam de uma simples pesquisa na internet, e são verificáveis por qualquer cibernauta que tenha algum tempo entre mãos.
As famílias felizes do Governo Regional
Ao presidente do Governo Regional cabem, naturalmente, as honras de abertura desta lista, ele que é o pai de Andreia Jardim, chefe de gabinete do Vice-Presidente João Cunha e Silva. Aliás, o autoproclamado 'ex-delfim' está bastante bem rodeado no que toca a adjuntos. Nuno Teixeira, filho de Gilberto Teixeira, assessor técnico da Secretaria do Turismo, e Maurício Pereira, filho do presidente da SAD do Clube Sport Marítimo, fazem parte do 'núcleo duro' de João Cunha e Silva. O 'vice' de Jardim tem ainda a mulher como assessora na secretaria do Planeamento e Finanças.
Outros secretários há com um elevado sentido de família. Brazão de Castro, dos Recursos Humanos, tem uma filha colocada nos serviços da Segurança Social, e Conceição Estudante, responsável pelos Assuntos Sociais, vai mais longe: o marido, Carlos Estudante, está à frente do Instituto de Fundos Europeus e a filha, Sara Relvas, é a directora regional da Formação Profissional.
Francisco Fernandes tem um filho na direcção do complexo de piscinas da Penteada, funções que desempenha em parceria com os descendentes de Rui Anacleto, director regional da Educação, e João Manuel Oliveira, director regional da Administração Pública. O irmão do secretário da Educação, Sidónio Fernandes, é presidente do conselho de administração do Instituto do Emprego, e a mulher é directora do pavilhão do Clube Amigos do Basquete, na Nazaré.
O presidente do Instituto do Desporto da RAM, Carlos Catanho José, tem o irmão Leonardo como director regional de Informática, e a filha da deputada Nazaré Serra Alegra, Maria do Rosário Baptista, é vogal do conselho de administração do Instituto Regional do Emprego. Saliência ainda para o casal Medeiros Gaspar/Fernanda Cardoso, ele deputado na ALM e ela directora regional dos Assuntos Europeus e da Cooperação Externa.
O presidente do conselho de administração dos Portos, João Reis, tem a mulher como chefe de serviços da biblioteca da ALM, e o responsável pelo Gabinete Do Ensino Superior, João Costa e Silva, é casado com Graça Moniz, ex-funcionária da SRE e ex-administradora da UMa.
As famílias 'peso-pesado'
Alguns ex-governantes fizeram questão de preparar o caminho para os seus 'rebentos', num esforço notável de união familiar. Antes de cessar funções, Bazenga Marques preocupou-se em lançar os seus três filhos na administração pública regional, onde ocupam cargos de relevo. Rui Adriano, presidente do conselho de administração da Sociedade de Desenvolvimento do Norte, seguiu-lhe o exemplo e tem um dos filhos na direcção do Parque Temático da Madeira, em Santana. E pensar que ainda há quem fale em conflito de gerações...
O ainda vice-presidente do PSD, Virgílio Pereira, também já tem os filhos 'governados'. Bruno Pereira é vice-presidente da Câmara do Funchal e o irmão pertence aos quadros da Direcção Regional dos Assuntos Culturais. A esposa de Bruno Pereira pertence aos quadros da ANAM, onde integra a divisão de gestão financeira e comercial dos Aeroportos da Madeira.
Relevante é também a posição da família Dantas, com múltiplas e variadas ligações ao executivo. Vejamos: Luís Dantas é chefe de gabinete de Alberto João Jardim. A filha, Cristina Dantas, é directora dos serviços jurídicos da Empresa de Electricidade da Madeira. O irmão de Luís Dantas, João Dantas, ex-presidente da CMF, integra o conselho de administração da mesma empresa.
Cristina Dantas é casada com Lomelino Freitas, que dirige a Loja do Cidadão.João Dantas, por seu turno, tem a filha Patrícia à frente dos destinos do Centro de Empresas e Inovação da Madeira. Patrícia Dantas é casada com Raúl Caires, presidente do conselho de administração do Madeira Tecnopolo.
Por fim, e porque os últimos são os primeiros, destaque para a dupla Jaime Ramos/Jaime Filipe Ramos. Colegas de carteira na ALM e empresários, pai e filho mantêm uma relação privilegiada com o executivo e com o partido que o apoia, o PSD. Este é talvez o mais emblemático caso de sucesso familiar em 30 anos de sucesso autonómico.
14 comentários :
Disfarçar custa MUITO...
Eu gosto tanto da História da Heidi - não seria uma boa altura para, comparando os casos "Brandão de Pinho" e "Neidi" com os casos "Dutra" e "MARTA MALDONADO DE OLIVEIRA ASCENÇÃO", o "Miguel" provar, de facto, a sua isenção?
Até porque alguns Blogues já abordaram o assunto e a seguir a Imprensa...
Faz muito bem em bater no Jardim e na sua Cãmara Corporativa pessoal...
É pena é o governo do "contenente" não tenha os mesmos tratos neste local - sai uma nomeação "pessoal" para o Costa da justiça...
Ate é caso para dizer; "ja chegamos á Madeira"
Porque sera que os Madeirenses, ao que julgo saber, não pagam IA na compra de um automóvel
Ainda bem que o CC denuncia os casos de políticos que "contratam" familiares...
Quando é que chegamos aos recentes casos do Ministério da Justiça?
"Alguns ex-governantes fizeram questão de preparar o caminho para os seus 'rebentos', num esforço notável de união familiar."
Frase mal escolhida, Miguel...
É que depois, quando PS do "contenente" faz o mesmo e o blog fica...calado, ainda dizem que és imparcial (o que é uma grandessíssima mentira...).
Gosto deste seu blog, Miguel, que frequento com bastante assiduidade, após ter aqui ter aparecido uma referência a um post por mim colocado noutro lugar.
Discordo com alguma frequência das suas opiniões. Discordo, com muita frequência, do seu estilo.
O tema do dia é o livro do Dr. Carrilho.
Ali se faz alusão à existência de ligações tentaculares entre a política e o jornalismo. (Fazendo-se alusão a R. Costa, que como se sabe, é irmão de A. Costa, da mesma família socialista de Carrilho)
O assunto é preocupante. A ser verdade, naturalmente.
Não lhe merece um comentário?
Tudo o que diga respeito ao PS profundo não é "falável" aqui...
Volta, Marta, estás perdoada...
Curiosa a harmonia entre parcelas deste texto, delatoras do "nepotismo", e o meu último, para cuja leitura convido-o, Miguel. Permita um excert:
" As facilidades que contemplam os “militantes” do partido dominador, na Madeira, são irrefragáveis, característica que não deverá confinar-se à Região. Aqui, porém, o nepotismo matizado roça a hipérbole, numa vil e pútrida particularidade cuja perpetuação decorre da anuência tácita da sociedade. Amorfa, resignada e fragmentada pelo egotismo, a preocupação com a “vidinha” monopoliza, catalisando a venalidade, eufemismo que, por pudor, quase apeava a justa acerbidade: a prostituição mental é pululante."
Saudações
Sugestão de estudo:
António Ventinhas, ilustre sindicalista dos Magistrados do Ministério Público e recente estudioso da questão notarial tem alertado para os perigos da desburocratização e da simplificação em sede de actividade notarial. A dispensa da obrigatoriedade de escrituras públicas para titular a vida das sociedades comerciais, substituídas pelo registo comercial, lançará o caos na vida dos cidadãos. Pelo menos na vida do cidadão Ventinhas cuja esposa é...notária privada com cartório aberto na solarenga cidade de Faro! Tanta é a independência dos magistrados do Ministério Público e sempre tão próxima da gamela.
Gosto.
Fala de Notárias privadas ou de candidatas (falhadas) ao post, caro "Miguel"...
Caro Paulo Ramos de Faria:
1. Vai-me obrigar a comprar o livro de MM Carrilho, coisa que não me havia passado sequer vagamente pela cabeça.
2. Estou na disposição de falar de todas as famílias sem excepção. Mas, à primeira vista, não veja ligação entre o que reproduzi acerca da Madeira e os “irmãos Costa” e “a sua mamã”. [A manter o “estilo”, não tarda recebe um mail a convidá-lo a escrever no CC…]. Desde logo, porque na Madeira as mordomias são pagas pelo erário público. Tanto quanto sei, Ricardo Costa é pago pelo Sr. Balsemão, a “mamã” de António Costa não sei como vive, mas desconfio que esteja aposentada e o ministro, esse, é pago pelo Estado – mas prefiro que assim seja do que entregar o comando da polícia à Securitas ou ao Grupo 4.
3. Surpreendido estou eu por o Paulo Ramos de Faria só agora se dar conta de que existem “ligações tentaculares entre a política e o jornalismo”. As empresas da comunicação social não pertencem quase todas a três grupos? Estava à espera que José Manuel Fernandes, por exemplo, defendesse nas páginas do Público as posições dos actuais accionistas da PT contra os interesses da SONAE? Para que servem as agências de comunicação? Acresce que os jornalistas, para além do mais, não trabalham, não estudam, não investigam… Tornam-se presas fáceis dos vários interesses. Pergunte a António Cluny, que o presidente vitalício do SMMP logo lhe explica como detém o monopólio do “saber” em alguns órgãos de comunicação.
4. Por fim, uma breve nota sobre o “estilo”. Um blogue não é uma sentença. Para captar a atenção, é indispensável procurar usar-se alguma vivacidade. Se calhar, não o consigo. Faz-me, de resto, alguma confusão o “estilo” – o hábito faz o monge… – que os blogues de magistrados utilizam. Ainda não perceberam que não estão numa sala de audiências: – Senhor Dr. para aqui, Senhor Dr. para acolá… Acabam por falar “para dentro”. Uma espécie de Messenger aberto aos mais curiosos.
Miguel
PS – Se me autorizar a transpor esta conversa para a página principal, retoco o texto e republico-o.
Estás vivo, Miguel...?
A vida Costa... (arremedo dos Malucos do Riso, com costas macaenses à vista).
CASAMENTO DE UM SUDITO DO GR!!
Para alem do nepotismo,temos ca ainda de ver quantas regalias aos seguidores.Dias atras foi encerrado o Forte de Sao Tiago para uma festa de casamento de um "sudito"do GR!!Sera que qualquer mortal podera de hoje em diante mandar encerrar o Forte,sem pagar nada por isso,e la fazer seu casorio?E pq so o DN da Madeira nao silenciou a este facto?Tudo em familia mesmo!!
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