Veja-se então o que se passa com a pequena e média corrupção, que parece ser o que preocupa Cândida Almeida.
Recordam-se dos deputados que faltavam aos plenários e pediam a um colega que assinasse o ponto por eles? Ou das “atenções” que as empresas de transportes costumavam ter para com a Brigada de Trânsito? Ou dos polícias que eram muito atenciosos para com a vizinhança, a ponto de se proporem adquirir medicamentos mais em conta para os moradores lá do bairro? Ou daqueles autarcas que conseguem que a concessão de estabelecimentos sejam entregues a familiares? Ou do comandante dos bombeiros que fornecia o quartel com material adquirido numa sociedade de que era sócio? Ou dos autarcas que levavam os eleitores a passear nos helicópteros alugados para o combate aos incêndios? Ou daquelas almas bondosas que se não importam de assumir a defesa dos interesses de países distantes e pobres sem contrapartida nenhuma, de modo a poderem usufruir dos privilégios que o estatuto diplomático concede? Ou dos médicos que vão a congressos turísticos pagos por laboratórios? Ou daqueles dirigentes do futebol que fazem gala em não pagar em impostos? Ou das empreitadas de obras públicas cujos custos sistematicamente derrapam?
O tempo transforma alguns destes desvios em direitos adquiridos — e é assim que ninguém acha anormal, por exemplo, que:
• Os magistrados dos tribunais superiores recebam ajudas de custo nos dias em que têm a maçada de se deslocar ao tribunal;
• Os magistrados, ao contrário do que se verifica em todas as outras profissões, não paguem IRS relativamente ao subsídio de habitação compensação;
• Os magistrados tenham direito a férias no Verão, no Natal e na Páscoa;
• Os médicos dos hospitais públicos apenas prestem serviço durante a manhã;
• Um número incontável de delegados sindicais esteja dispensado de trabalhar;
• Os putativos candidatos (efectivos e suplentes) a eleições (legislativas, autárquicas e europeias) tenham direito a férias suplementares;
• Os agentes da PSP e da GNR tivessem sistemas de saúde que permitiam suportar as despesas de qualquer pessoa que fosse considerada como estando a cargo dos agentes.
4 comentários :
Mal chegou, Clément compreendeu a razão de ser de Portugal, precisamente a de não ter nenhuma (39)
... nós somos púnicos, parecemo-nos comos mercenários de Amílcar e todos esses matreiros do mediterrâneo. Nós somos girinos... (49) “O quinto império”
Dominique de Roux (1977, Paris
São efectivamente mordomias inacreditáveis. Aliás, deveria ser obrigatório trabalhar, no mínimo 13 Horas por dias, sete dias por semana, todos os dias do ano, sem essa patetice de serviço nacional de saúde e reformas. Alguém tem que atingir o esplendor de desenvolvimento (social) da China. Porque não Portugal ? Já agora, acabemos com as eleições, porque são uma pequena ideossincrasia ocidental (ou de invenção ocidental), além de que sempre se poupavam mais uns cobres.
"Os agentes da PSP e da GNR tivessem sistemas de saúde que permitiam suportar as despesas de qualquer pessoa que fosse considerada como estando a cargo dos agentes."
Talvez não fosse má ideia dizer que estes senhores trabalham com o corpo e o trabalho físico (sim, que perseguir criminosos, na polícia ou guarda, implica muitas vezes correr - embora aqui o "Miguel" também tente perseguir alguns grupos, mas sem resultados...) tem despesas de saúde e necessidades especiais, que antes eram correctamente consignados...
Mas os Costas são um bocadinho retardados e os "Migueis" idem...
Hão-de perceber tarde demais.
Os juízes do Supremo Tribunal de Justiça residentes na Grande Lisboa não usufruem de «ajudas de custo», reservadas, nos dias de sessão, aos juízes não residentes.
Enviar um comentário